Em decorrência das adaptações que precisaram ser feitas durante a crise, o mundo pós-pandemia será bem diferente daquele que conhecíamos. Várias tendências que já estavam em curso no mercado de trabalho foram aceleradas por conta das circunstâncias decorrentes da Covid-19, sendo que as principais delas foram compiladas pelo Centro para o Futuro do Trabalho da Cognizant, uma das empresas líderes mundiais em serviços de tecnologia e negócios. Uma síntese das projeções está em destaque ao longo desta reportagem. É o caso, por exemplo, do home office.
Há algum tempo já vinha se falando da disseminação do trabalho remoto no Brasil, mas só agora um salto efetivo foi dado. A adesão definitiva à prática deve crescer 30% no País, projeta o professor André Miceli, coordenador do MBA em Marketing e Inteligência de Negócios Digitais da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Muitas empresas puderam perceber que se trata de uma alternativa viável e efetiva”, avalia Miceli.
O home office ganha força por proporcionar vantagens em potencial a todas as partes envolvidas. Aos profissionais oferece mais flexibilidade no cotidiano e ganho do tempo gasto com transporte. A sociedade se beneficia com a redução no trânsito e na pressão sobre o transporte coletivo, com consequências positivas também nos índices de poluição. Para as empresas, há redução de gastos com aluguel, transporte, refeições e infraestrutura.
É evidente que nem toda atividade profissional permite home office, especialmente nos setores mais tradicionais da indústria. Outro ponto relevante é que a adesão à modalidade não precisa ser plena, num primeiro momento: pode ser parcial, envolvendo um ou dois dias por semana. Há uma série de ajustes que precisam ser realizados para que o improviso experimentado durante a pandemia se transforme numa prática realmente sustentável e produtiva. As empresas esperam ter plena segurança de que não terão problemas trabalhistas, ao mesmo tempo que os métodos de controle de produtividade para o trabalho remoto precisam ser aperfeiçoados.
A jornada de trabalho tende a se tornar mais fluida, com a cobrança ocorrendo cada vez mais com base em tarefas do que em horas trabalhadas. Pode ser uma adaptação difícil para quem se acostumou a supervisionar o trabalho da equipe recorrendo sobretudo à presença física. O modelo tradicional das empresas, com hierarquia claramente definida, tende a ser substituído por um modelo mais colaborativo e desestruturado, em que a liderança é transitória e exercida por projeto.
Segurança | O home office exige certa infraestrutura, com instalações corretas do ponto de vista ergonômico e isolamento em relação ao restante da casa. Além disso, é essencial uma boa rede de internet. Uma das questões que precisam ficar claras e formalizadas no relacionamento entre empresas e funcionários em home office é a responsabilidade pelos custos de infraestrutura e manutenção.
Outra preocupação das empresas é com o risco de vazamento de dados. Não é simples levar para os escritórios domésticos o mesmo nível de proteção que há nas sedes das empresas, protegidas por “guarda-chuvas” de segurança. É preciso investir em conexões seguras, criptografadas, o que é assegurado pela disponibilização de uma rede privada virtual, VPN na sigla em inglês.
“As empresas precisam investir o necessário e estabelecer regras claras de segurança, que devem ser seguidas à risca pelos funcionários”, alerta o advogado e economista Renato Opice Blum, um dos maiores especialistas em direito digital do País. Ele adverte, contudo, que não basta orientar: é preciso manter atenção permanente. “As pessoas, mesmo as mais instruídas, tendem a cometer muitos descuidos.”
Outra tendência que ganhou força durante a pandemia é o chamado lifelong learning – ou seja, a disposição para o aprendizado permanente ao longo da vida. Trata-se do interesse pela aquisição rápida de novos conhecimentos, com aplicação imediata, em resposta às urgências de um mundo em rápida transformação.
Competências | Atento às tendências, o SENAI catarinense lançou durante a pandemia cursos técnicos a distância em 24 áreas do conhecimento, alinhadas com setores que mais demandarão profissionais nos próximos anos. Entre as áreas incluídas estão Administração, Comércio Exterior, Computação Gráfica, Internet das Coisas, Logística, Qualidade e Sistemas de Energia Renovável.
“Adotamos uma estratégia digital para seguir formando profissionais de excelência, mesmo durante a pandemia. Por isso, desenvolvemos cursos focados nas principais necessidades apontadas pela indústria”, explica o diretor regional do SENAI, Fabrizio Machado Pereira. “Esses cursos são mais flexíveis, bastante práticos e buscam desenvolver as competências profissionais mesclando aulas realizadas pelo ambiente virtual de aprendizagem e atividades práticas em laboratório, quando estiverem liberadas para os cursos regulares”, completa.
Um mundo em transformação
Tendências para o mercado de trabalho da década que está começando.
A ascensão da “wirearquia”
Organização baseada em auxílio mútuo e confiança substituirá parcialmente a tradicional hierarquia.
De cargos para tarefas
As profissões serão exercidas de maneira mais fluida, com os atuais cargos sendo desconstruídos em tarefas.
A revolução do datascópio
Assim como os microscópios mudaram a medicina, a inteligência artificial será um “datascópio” que trará soluções inimaginadas.
Segurança é prioridade
Tecnologia será cada vez mais o aspecto central da sociedade e as empresas não devem hesitar em investir em cibersegurança.
A era da exaescala
O futuro do trabalho será baseado na exaescala, sistema computacional capaz de realizar um quintilhão de cálculos por segundo.
Alugar em vez de comprar
A ideia de posse é um dos pilares do mundo moderno, mas os jovens já não desejam tanto possuir bens como imóveis ou carros.
Internet das Coisas vira realidade
5G vai acelerar a transmissão de dados e seu uso integrado com a inteligência artificial viabilizará de vez a Internet das Coisas.
Do terno para o capuz
O mundo dos negócios será cada vez menos formal.
Do cubículo para o sofá
Já conseguimos trabalhar de qualquer lugar que tenha acesso à internet.
De #sextou para #segundou
Você saberá que o futuro do trabalho chegou quando se sentir motivado em uma segunda-feira. Perceberemos que o que nos torna humanos de verdade é o prazer proporcionado pelo trabalho.
De uma carreira para várias
O modelo educação-emprego-carreira dará cada vez mais lugar ao aprendizado constante e à ideia de carreira de portfólio – exercer várias atividades simultâneas, sem vínculo fixo com um empregador.
Fim da aposentadoria
A ideia de simplesmente parar de trabalhar quando ainda se tem saúde física e mental será vista no futuro como incompreensível.
Mais que diversidade: pertencimento
Além de chamar as pessoas para o baile, será preciso convidá-las a dançar.
Fonte: Cognizant