Santa Catarina tem maior remanescente de Mata Atlântica do País e suas florestas se adensam a um ritmo de 2% ao ano.
Mata Atlântica em Santa Catarina - Foto: Divulgação FAESC
Muito se fala da deterioração da Mata Atlântica ao longo da história do Brasil, e de fato o ecossistema foi o mais impactado pela ocupação humana. Cerca de 72% da população do País vive no bioma, de acordo com o IBGE, e a ocupação fez com que restassem apenas 12,4% da cobertura florestal original. Fato menos conhecido é que a Mata Atlântica vem se recuperando nos últimos anos, ao menos em Santa Catarina, o estado com maior cobertura florestal remanescente do bioma. Estudos científicos indicam que a taxa de crescimento das florestas do Estado gira em torno de 2% ao ano. Quanto à cobertura florestal natural, o índice é de cerca de 30%, o que significa que quase um terço do território catarinense é ocupado por vegetação nativa.
Os achados resultam do Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC), um projeto desenvolvido desde 2007 para levantar e monitorar a quantidade e a qualidade das florestas catarinenses. Comparações são possíveis porque o inventário foi realizado em duas etapas, a primeira com medições entre 2007 e 2011 e a segunda entre 2014 e 2019. “Detectamos um aumento do estoque de madeira, de biomassa, e com isso aumenta o carbono estocado nas florestas”, afirma o professor e pesquisador Alexander Vibrans, da Universidade Regional de Blumenau (FURB), coordenador do projeto, que é executado em parceria com a UFSC, a Udesc e a Epagri.
2%
Taxa anual de crescimento florestal em SC
30%
do território de SC é coberto por vegetação nativa
83%
da vegetação está em propriedades privadas
Jovens | O trabalho revela muitos detalhes desse processo. Para começar, a cobertura catarinense é predominantemente de florestas secundárias, tendo restado poucas áreas de florestas originais, ou maduras. Como o que se tem atualmente são florestas jovens, com idade entre 30 e 60 anos, em processo de regeneração, elas têm apenas um terço da massa das florestas antigas. O amadurecimento é que está garantindo o aumento contínuo de estoque de massa vegetal.
“Pode-se dizer que Santa Catarina está fazendo a sua parte, limitando o desmatamento e dispondo de um estoque de carbono crescente, o que ameniza a liberação de gás carbônico pelo desmatamento e pelas queimadas em outras partes do Brasil”, diz Vibrans. Além do crescimento da vegetação, os estudos detectaram um saldo positivo de árvores nas áreas estudadas – o saldo líquido é de 27 a 31 novas árvores por hectare entre uma medição e outra. O adensamento também é demonstrado pelo fato de que em algumas áreas espécies exigentes em luz, como a capororoca e a bracatinga, estão sendo substituídas por espécies que toleram a sombra, como o palmito-juçara e a guaçatonga.
Outras constatações são que o Estado detém grande biodiversidade vegetal, com 857 espécies de árvores e arbustos, equivalentes a 25% das espécies de toda a Mata Atlântica brasileira, e que 83% das matas nativas encontram-se em propriedades privadas, incluindo propriedades rurais e RPPNs (Reserva Particular do Patrimônio Natural). O restante está em unidades de conservação estaduais e federais.
As informações são essenciais para o desenvolvimento de medidas de restauração, proteção e manejo – incluindo zoneamento econômico-ecológico e formulação de políticas para uso e conservação de florestas. Elas também embasarão ações para o pagamento por serviços ambientais. “O estoque crescente de florestas pode ser comercializado em forma de Certificados de Carbono e ser usado pelo Estado como contrapartida em acordos de financiamentos, além de remunerar os proprietários das florestas por serviços como fixação de carbono, proteção do solo, de mananciais, de aquíferos e da diversidade de flora e fauna”, afirma o professor Vibrans.