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Entrave ou eixo de desenvolvimento?

Papel da BR-101 para o futuro de Santa Catarina depende do que for feito desde já para a conformação de um corredor logístico intermodal em seu entorno.

BR-101

BR-101 - Foto: Leo Laps

Início de 2020. No maior parque empresarial da América Latina, o Perini Business Park, em Joinville, onde as 240 empresas instaladas geram um quinto do PIB da cidade, o período é o de menor vacância de espaço desde sua fundação, em 2001. Entre Joinville e Itajaí – os dois maiores PIBs do Estado – não há disponibilidade alguma de galpões industriais e logísticos para locação. A movimentação econômica é intensa. O Porto Itapoá, próximo a Joinville, ampliou a movimentação de contêineres em 16% em 2019, enquanto o complexo portuário do Itajaí-Açu elevou em 7% o mesmo indicador.

A chegada da pandemia esfriou o ritmo dos negócios, mas o intervalo forçado não alterou a tendência de longo prazo: o litoral norte catarinense se adensará ainda mais como um polo industrial e de serviços, em especial de logística. Considerando-se os projetos de novos portos e ampliações, Santa Catarina vai multiplicar sua capacidade de movimentação portuária em poucos anos (veja o quadro na página seguinte). Tal volume requer a presença de mais de 22 mil caminhões com contêineres rodando diariamente pelas estradas, que disputarão espaço com os veículos dos moradores e turistas.

A BR-101 pode ser um fator limitador a essa expansão ou pode se tornar um eixo de desenvolvimento para Santa Catarina. O que ela será no futuro depende do que é feito hoje. “É necessário planejar o futuro da BR-101 para que Santa Catarina possa consolidar sua vocação de ser uma das mais importantes plataformas logísticas do Mercosul, além de potência industrial”, afirma Mario Cezar de Aguiar, presidente da FIESC.

O projeto BR-101 do Futuro elenca as ações necessárias e possíveis para melhorar a eficiência do eixo logístico. Algumas ações de curto prazo para o período de concessão, que termina em 2032, estão resumidas na reportagem anterior. A elas se somam outras iniciativas, como a implantação de pedágio free flow e um programa de humanização da rodovia, que é campeã em acidentes e mortes entre as rodovias federais em Santa Catarina (o documento completo pode ser acessado no site da FIESC).

Além disso, considerando a demora usual para a realização de projetos e obras, é necessário antecipar o futuro com propostas de médio e longo prazos. “Nessa perspectiva, não consideramos o eixo como uma rodovia, mas como um corredor logístico intermodal estratégico para a competitividade de Santa Catarina, do Brasil e do Mercosul”, diz Aguiar.

Nesse contexto mais amplo, um dos objetivos é viabilizar a Ferrovia Litorânea em conjunto com a Ferrovia Leste Oeste. Com traçado semelhante ao da BR-101, a Litorânea tiraria caminhões da estrada, ajudando a suportar o aumento da atividade portuária e a crescente movimentação nas cidades e de turistas, além do aumento de tráfego nos eixos rodoviários transversais, como as BRs 470, 280 e 282. Isso sem contar o aspecto estratégico da Ferrovia Litorânea, que permitirá a conexão do complexo portuário catarinense com a malha ferroviária nacional, hoje inexistente.

Centro Industrial e logístico

Posição nacional de clusters no entorno da BR-101/SC (50 km)

  • 1º polo de pescados
  • 2º polo têxtil e de vestuário
  • 2º polo de móveis de madeira
  • 2º polo em movimentação de contêineres
  • 3º polo da indústria naval
  • 3º polo da indústria plástica
  • 3º polo de máquinas e equipamentos
  • 4º polo de metalurgia e cerâmica
  • 5º polo da construção civil

Fonte: IBGE/FIESC

Intermodal | “Não é só aumentando rodovias que vamos resolver os problemas de mobilidade. Precisamos pensar em ferrovias. Nem que elas só venham a existir em 20 anos, mas precisamos pensar nelas hoje”, afirma Roberto Pandolfo, diretor comercial do Porto Itapoá. Inaugurado em 2011 e com capacidade de movimentação para 1,5 milhão de TEUs, o porto se conecta com a BR-101 pela SC-416/417. Seu plano de crescimento prevê dobrar a capacidade de movimentação, e melhorar a infraestrutura logística é essencial para que o potencial possa ser realizado.

Roberto Pandolfo

Roberto Pandolfo: é preciso pensar já em ferrovias, mesmo que elas demorem 20 anos - Foto: Divulgação

O projeto BR-101 do Futuro prevê uma extensão da Ferrovia Litorânea até o Porto Itapoá não contemplada no projeto original da ferrovia, pois ele começou a ser concebido antes da inauguração do porto. O traçado original compreende o percurso de Imbituba, no Sul, até Araquari, no Norte, num total de 235,6 quilômetros.

Porto Itapuá

Porto Itapoá - Foto: Divulgação

Para a FIESC, a implantação da Ferrovia Litorânea faz ainda mais sentido se ela estiver integrada ao Complexo Ferroviário Intermodal Catarinense, que seria constituído também pe­la Ferrovia Leste Oeste, ligando o litoral ao Oeste, e a Ferrovia Norte Sul, passando pelo Oeste do Estado, assim como as ferrovias em operação (Malha Sul) e trechos desativados com potencial para conexão de curta distância.

“O complexo deve estar interligado com a malha de transporte estadual e nacional, assim como conectado com centros de logística integrada”, diz Egídio Martorano, da FIESC. Para complementar o eixo logístico, a Federação desenvolveu estudos sobre o uso da Rodovia Estadual SC-108 como corredor paralelo ao eixo litorâneo, com potencial para deslocar parte da movimentação ligada aos portos e do fluxo de turistas, além de absorver o tráfego de áreas urbanas.

Os gargalos estão mapeados e soluções apontadas. Para tirá-las do papel, o desafio é superar um sem-número de barreiras envolvendo a falta de recursos públicos, marcos regulatórios, licenciamento ambiental, insegurança jurídica e atração de investimentos, dentre outras. Não faltará trabalho para a FIESC e as demais entidades interessadas no desenvolvimento socioeconômico catarinense nos próximos anos.

Disparada Portuária

Movimentação de contêineres em SC (em mil TEUs)

  • 2010 - 952,2
  • 2015 - 1.642,6
  • 2019 - 2.027,3
  • Capacidade operacional - 7.700,0*

(*) Capacidade total atual de movimentação. Fonte: Antaq e FIESC

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