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Compartilhando experiências da crise

Industriais catarinenses contam como enfrentam os desafios e que lições tiram da difícil experiência com a pandemia.

O novo Coronavírus abalou os mercados e mexeu com processos e produtos das empresas. Mudou a organização do trabalho e o jeito de vender. As expectativas que orientavam as decisões foram frustradas ou comprometidas. Até para quem está acostumado aos altos e baixos do Brasil, à instabilidade e às crises cíclicas, a pandemia teve dramaticidade e escala inéditas.

Se sobreviver foi a palavra de ordem no primeiro momento, já se observa a recuperação da indústria, com alguns setores igualando ou até superando os patamares pré-crise. Passado o pior, então, o que fica de legado da pandemia para a indústria? Que lições da crise foram absorvidas pelos empresários e que, de agora em diante, serão relevantes para a formulação de estratégias e a condução dos negócios?

No contexto do Programa Travessia, da FIESC, que articula a reinvenção da economia catarinense, a revista Indústria & Competitividade ouviu lideranças empresariais de Santa Catarina, que compartilham suas experiências com os leitores.

Digitalização é caminho sem volta

Carlos Rodolfo Schneider

Carlos Rodolfo Schneider, presidente da Ciser - Foto: Divulgação

Observando mudanças significativas no comportamento do consumidor e dos clientes, aceleramos a digitalização da área comercial, com o lançamento de nossa plataforma digital de vendas, a chamada Loja Ciser. A pandemia mostrou que, para fortalecer a competitividade, precisamos ser ágeis nas respostas aos desafios, seja de que natureza forem, e a digitalização dos negócios é um caminho sem volta. Na mesma perspectiva, deveremos acelerar a implantação das ferramentas da indústria 4.0, em busca de mais produtividade e autonomia dos processos produtivos.

Medidas para assegurar a higienização nos ambientes de trabalho, e mesmo fora da empresa, deverão permanecer, do mesmo modo que atividades de treinamento a distância e reuniões remotas, diminuindo a necessidade de viagens, como também um possível aumento no home office, nas situações em que se possa ter incremento de produtividade. Vivemos uma verdadeira transformação cultural, na direção da importância do trabalho em equipe, mais diligente e responsável.

No ambiente corporativo, deve permanecer uma maior consciência sobre a necessidade de as empresas estarem preparadas para o imprevisível, e para mudanças cada vez mais velozes.

Como reação à crise gerada pela pandemia, setores econômicos que se sentiam à margem da digitalização foram chamados a esta nova realidade pelo mercado.

Outra consequência é uma maior clareza sobre a necessidade de atenção à população mais carente e àquela que era economicamente invisível. Recursos para isso não devem ser buscados no aumento dos gastos públicos nem da carga tributária. O aumento da eficiência das despesas públicas e a revisão de privilégios das corporações certamente atenderiam às novas necessidades. A iniciativa privada poderá ajudar se entender que o Governo precisa investir, na medida do possível, no aumento da competitividade da economia, de forma horizontal, e não na proteção das empresas ou setores.

A Ciser, de Joinville, é a maior fabricante de fixadores da América Latina, com capacidade de 60 mil t/ano.

Foco no capital humano

José Antônio Ribas Júnior

José Antônio Ribas Júnior, presidente da Associação Catarinense de Avicultura (ACAV) - Foto: Filipe Scotti

Já tínhamos muito cuidado para evitar contaminação no manuseio de alimentos e matérias-primas. O impacto veio da extensão dos cuidados para os trabalhadores, com novos protocolos e regramentos. Nas indústrias, fizemos mudanças de layout em estruturas de serviços, áreas comuns e ambientes de produção. O setor investiu cerca de R$ 100 milhões em Santa Catarina nessas adequações e em doações para a sociedade. Pelo lado comportamental, houve trabalho de capacitação, conscientização e aculturamento dos trabalhadores. Comunicamos a necessidade de se manter a produção para não faltar alimentos, e ressaltamos o privilégio de sermos o setor que mais gerou empregos no Brasil. Grande parte disso que foi feito se pereniza, e o aculturamento e os investimentos feitos mudam os cuidados de patamar.

Quanto ao mercado, houve mudança de percepção sobre o que é alimento seguro. O consumidor mudou hábitos, deixando de ir a restaurantes e eventos. Houve maior aproximação do setor com o consumidor e assumimos a responsabilidade de manter o alto nível de qualidade, porque as pessoas não querem correr riscos em relação ao que consomem. Mostramos que Santa Catarina é uma ilha de segurança. Somos o último local relevante do mundo livre das principais doenças em aves e suínos.

Nos últimos anos tivemos os desafios da Carne Fraca, greve dos caminhoneiros, altos custos da matéria-prima (grãos) e a pandemia. Em todas as crises ficou demonstrado que o setor tem resiliência e capacidade de aprendizado.

A lição que fica é a importância de investir em pessoas capacitadas que possam enfrentar as crises ainda por vir de maneira serena, competente e resiliente, com protagonismo, para irmos mudando de patamar e melhorando continuamente.

A agroindústria processa mais de um bilhão de frangos e 12 milhões de suínos por ano em SC.

Trabalho mais flexível

Eduardo Sattamini

Eduardo Sattamini, diretor-presidente e de Relacionamento com Investidores da Engie Brasil Energia - Foto: Divulgação

Estamos colhendo os frutos do investimento em digitalização, que começou há quatro anos e que permitiu alocar 70% do quadro de colaboradores em home office. A companhia respondeu muito bem e rapidamente à pandemia da Covid-19, buscando a saúde e segurança de todos. Estamos em processo de retorno das atividades administrativas. Mesmo assim, já temos 80% da equipe trabalhando no campo, operando usinas, construindo usinas e linhas de transmissão, realizando manutenções preventivas e garantindo o abastecimento de energia elétrica para o sistema interligado nacional.

A percepção é que o antes considerado “fantasma do home office” não nos assusta mais, e é provável que tenhamos alguma flexibilização do trabalho presencial de forma permanente.

No aspecto comercial, a crise causada pela Covid-19 não nos afetou significativamente porque boa parte dos contratos é de longo prazo, e estão sendo cumpridos pelas distribuidoras. No mercado livre os contratos estão sendo respeitados, e os poucos problemas foram resolvidos por meio de negociação com os clientes. Vamos manter os investimentos comprometidos para 2020 e 2021.

No longo prazo, prevejo um reflexo positivo da pandemia, fruto da racionalização de processos, ajustes de custos e da introdução de novas formas de trabalho que certamente melhorarão a competitividade da companhia. A maior lição é que a sustentabilidade é um caminho sem volta, que deve estar no cerne da estratégia das corporações. A busca pelo desenvolvimento sustentável exige que a sociedade oriente suas atividades para uma economia de baixo carbono. Além de alterar a matriz energética, para substituição de combustíveis fósseis, esse processo exige mudança de hábitos dos indivíduos, bem como de modelos de negócios.

Podemos destacar ainda a forma positiva e surpreendente que foi a participação dos colaboradores nas campanhas de doações realizadas pela empresa. Os investimentos em diversas iniciativas somam mais de R$ 7 milhões. Parte dessas doações é fruto de campanhas internas de arrecadação promovidas pela empresa. Para cada doação de um colaborador, a Engie dobrou o valor.

A Engie Brasil Energia, sediada em Florianópolis, é a maior geradora privada do País, com capacidade instalada de 10 mil MW em 61 usinas.

Preparação para o inesperado

Vicente Donini

Vicente Donini, presidente do Conselho de Administração da Marisol S.A. - Foto: Cleber Gomes

A chegada do novo Coronavírus demonstrou que é possível cuidar tanto da pandemia como da economia. Os cuidados pessoais foram e são absolutamente necessários, porém, isso não quer dizer que não se possa continuar trabalhando regularmente, sob determinadas regras de segurança sanitária.

A pandemia demonstrou que é preciso estarmos todos preparados – governantes e agentes econômicos – para lidar com o inesperado e também com o cotidiano, com a vida que segue e a continuidade dos negócios, dado sua interdependência, pois sem geração de riqueza não há como custear o oneroso combate ao inesperado. Esta não foi a primeira e com certeza não será a última situação do tipo.

Esse período nos fez refletir sobre o sentido da vida e dos negócios, sobre a nossa maneira de ser e de fazer, ressignificando-as, pois todos precisamos e haveremos de sair dessa melhores do que quando entramos. Dito isso, precisaremos estar em plena sintonia com as demandas dos novos consumidores, e isso nos impõe um novo aprendizado. A pandemia também nos fez exercitar com mais intensidade novos meios, como o home office, além de acelerar o processo relacionado ao Omnichannel: a convergência dos canais de distribuição que, longe de conflitarem, se complementam.

Este ano começou bem e assim se comportou até meados de março, quando os negócios sofreram queda abrupta decorrente das medidas restritivas impostas por nossos governantes – fechamento de fábricas ou funcionamento parcial, fechamento de lojas, restrições nas movimentações de bens e de pessoas e tratamentos colidentes de região para região. Um verdadeiro caos, e assim se manteve por um bom tempo. Com a retomada gradual dos negócios deparamo-nos com o completo desarranjo da cadeia produtiva setorial, com o desabastecimento de insumos e elevação dos preços, impedindo-nos de atender a demanda em sua plenitude, com previsível resultado negativo. Entendemos que isso levará um bom tempo para voltar à normalidade, com plena fluidez.

A Marisol, de Jaraguá do Sul, é indústria do vestuário, varejista e gestora de marcas de moda infantil.

Adaptação ao novo normal

Leonardo Fausto Zipf

Leonardo Fausto Zipf, presidente da Duas Rodas - Foto: Divulgação

O cenário de incertezas tornou-se mola propulsora para reforçarmos ainda mais os princípios de proteção à vida, do senso coletivo e do espírito de cooperação, que norteiam a nossa empresa há 95 anos. Acreditamos no poder da união de esforços e, cientes da nossa responsabilidade social, adotamos uma série de ações internas que visam preservar a saúde e o bem-estar dos colaboradores e também dos clientes, fornecedores e da comunidade.

Ao longo da nossa história, nosso posicionamento sempre foi de reconhecer que todas as adversidades trazem lições e oportunidades para evoluirmos sempre mais, mesmo em situações atípicas e de exceção como a atual. Entendemos este momento altamente propício para a ressignificação em relação ao cliente, ao nosso compromisso como marca, à nossa atenção junto aos colaboradores e fornecedores.

E, justamente por isso, nos reinventamos, agilizamos projetos e apostamos firme na plataforma digital, com foco total na manutenção da nossa tradicional proximidade com os clientes, ainda mais relevante neste cenário de transformações e de preparação para a retomada pós-Covid.

Vivenciamos uma grande prova em meio à turbulência, em que a agilidade de reação e adaptação ao novo normal foram essenciais para mantermos a sustentabilidade dos nossos negócios.

Sem dúvida, toda a transformação que promovemos, na velocidade que o momento nos exigiu, foi sustentada pela assertividade da nossa política estratégica de investimento em inovação.

A Duas Rodas, de Jaraguá do Sul, fornece ingredientes para a indústria de alimentos, com 3 mil itens no portfólio.

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