A tração que vem dos freios

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A Suspensys, maior fabricante de suspensões e eixos para veículos pesados da América Latina, que pertence à Randoncorp, com sede em Caxias do Sul (RS), incorporou em sua linha de produtos uma tecnologia capaz de armazenar parte da energia produzida pela frenagem e utilizá-la em seguida para complementar a força do motor a combustão. Batizada de e-Sys, a tecnologia foi desenvolvida pela Suspensys em colaboração com o Instituto SENAI de Inovação em Sistemas de Manufatura, em Joinville, com o Centro Tecnológico Randon (CTR) e a Gerdau Aços Especiais.

O sistema recupera energia cinética gerada durante movimentos de desaceleração, que seria perdida na forma de calor, e a guarda em baterias, podendo usá-la para reforçar a tração do veículo, em subidas e ultrapassagens, por meio de motores elétricos. A inovação é semelhante ao Sistema de Recuperação de Energia Cinética (KERS) utilizado em carros de Fórmula 1. Dependendo da situação, a economia de combustível proporcionada pelo e-Sys pode chegar a 25%, com diminuição também no desgaste de componentes, geração de resíduos e emissão de gases causadores do efeito estufa. A redução no custo do frete é estimada em 10%.

“O relevo brasileiro é predominantemente irregular. A oscilação topográfica de picos e vales é propícia para uma tecnologia que tem, por princípio, a recuperação de energia cinética”, explica Joel Boaretto, diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação do Instituto Hercílio Randon (IHR), organização responsável por desenvolver inovações para a Randoncorp e mantê-la conectada com tendências tecnológicas. “A indústria da mobilidade está se reinventando e a eletrificação se torna, a cada dia, uma alternativa atraente, dado o constante aprimoramento tecnológico dos sistemas de armazenamento de energia e da conexão destes com as infraestruturas. É, realmente, um caminho sem volta”, diz. O projeto foi desenvolvido no âmbito do Rota 2030, programa federal para fomentar Pesquisa e Desenvolvimento na cadeia automotiva.

A parceria com o Instituto SENAI foi importante para desenvolver e aperfeiçoar, por exemplo, o sistema de engrenagens do e-Sys. “Uma das grandes vantagens de trabalhar com o SENAI é que a instituição dispõe de clusters de conhecimento com vocações para necessidades específicas de empresas. E também é capaz de se conectar a parceiros que preencham lacunas tecnológicas. No nosso caso, foi buscar conhecimento no Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o ITA, que é um hub de engrenamento muito forte”, afirma Boaretto, que também destaca a importância do ISI no gerenciamento operacional e financeiro do projeto e no cuidado com a confidencialidade ao longo do desenvolvimento tecnológico, para evitar que detalhes da tecnologia vazassem e houvesse apropriação indevida da propriedade intelectual.

Os sistemas elétricos aplicam torque instantâneo na engrenagem, exigindo ainda mais da qualidade do aço utilizado na sua fabricação. A Gerdau Aços Especiais entrou como parceira no projeto fornecendo diferentes combinações de tecnologia e aços para suportar a nova aplicação, como os aços da marca GG TECH.

A Randon, maior fabricante de reboques e semirreboques da América Latina, vertical montadora da Randoncorp, já apresentou ao mercado uma exclusiva linha de semirreboques equipados com o sistema de tração auxiliar elétrico: a solução Hydrid R. No final de 2022 dois modelos de semirreboques foram comprados por uma mineradora do Chile para trabalhar na extração de lítio no deserto do Atacama. No Brasil, um modelo para transporte de madeira será incorporado por uma fabricante de celulose, que será usado no transporte de produtos entre as cidades gaúchas de Guaíba e São Gabriel.