Produzindo robôs engenhosos, satélites inovadores ou componentes críticos, Institutos SENAI de Inovação redefinem patamar tecnológico do setor industrial.
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Instituto da Indústria de Joinville, que abriga dois Institutos de Inovação, vai dobrar de tamanho - Foto: Divulgação

Três centros de pesquisa, desenvolvimento e inovação sediados em Santa Catarina tornaram-se referência para indústrias do Estado e do País ao oferecer ferramentas para criar novos produtos e serviços, transformar os modelos de negócio e ampliar sua competitividade. Criados há pouco mais de uma década, os Institutos SENAI de Inovação (ISI) em Sistemas Embarcados, em Florianópolis, e os de Manufatura Avançada e de Processamento a Laser, em Joinville, já realizaram projetos em parceria com mais de uma centena de empresas, com resultados robustos em tecnologias que vão da robótica aplicada a atividades de risco para seres humanos até a impressão em 3D de peças de reposição e componentes com geometria complexa, ou ainda o uso da inteligência artificial na transformação digital de empresas.

Os três ISI fazem parte de uma rede nacional de 28 institutos criados para suprir demandas avançadas da indústria brasileira – o modelo foi inspirado na Sociedade Fraunhofer, da Alemanha, uma rede de 72 institutos com foco em pesquisa aplicada que é conhecida pela interação com o segmento industrial. “Os ISI foram concebidos para ter abrangência nacional e atuar, cada um, em uma área de competência que tangencia diferentes segmentos industriais”, afirma Gustavo Leal, diretor-geral do SENAI Nacional. “A operação dos institutos de Santa Catarina são referência de excelência da rede. Como o Estado é muito desenvolvido industrialmente, eles têm conseguido internalizar as demandas locais e participar ativamente em demandas identificadas nacionalmente por meio de projetos estruturantes.”

A inteligência artificial é um fio condutor das atividades do ISI em Sistemas Embarcados desde que ele foi criado em 2012. “Trabalhamos para promover uma simbiose da Pesquisa e Desenvolvimento [P&D] com a realidade industrial e garantir que a aplicação da tecnologia resulte em valor”, diz Paulo Violada, pesquisador-chefe do Instituto. Um dos resultados alcançados foi o desenvolvimento de algoritmos para monitorar lavouras por meio da análise de imagens de satélites. Essa vertente evoluiu para uma parceria com a Visiona Tecnologia Espacial, joint venture entre a Embraer Defesa & Segurança e a Telebras, na criação do nanossatélite brasileiro de observação da Terra e coleta de dados VCUB, que ficou quase dois anos em órbita e registrou quase 500 mil quilômetros quadrados de imagens.

Atualmente, o Instituto está mobilizado para o lançamento de nanossatélites da Constelação Catarina, programa criado pela Agência Espacial Brasileira (AEB), que se propõe a criar uma rede de comunicação de dados satelitais nacional. Os dois primeiros devem ser lançados neste ano, um com o SENAI e outro com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Estamos trabalhando no desenvolvimento de comunicação definida por software, coleta de dados de solo, sensores terrestres e sensores satelitais, integração, testes e validação, controle de painéis solares, entre outros”, afirma Paulo Violada.

O engenheiro mecânico Luís Gonzaga Trabasso, pesquisador-chefe dos dois centros de Joinville – os ISI em Sistemas de Manufatura e de Processamento a Laser –, afirma que a robustez da carteira de projetos das instituições permitiu que elas se tornassem sustentáveis. Cada um dos dois institutos de Joinville conta com 50 pesquisadores. “Hoje, todos os nossos custos, dos salários dos pesquisadores ao consumo de água e energia e despesas com segurança, vêm dos projetos, e nos preparamos para crescer”, conta.

Ele se refere ao projeto de expansão da área construída, de 8 mil para 15 mil metros quadrados, impulsionado principalmente por parcerias com a Petrobras no campo da robótica para minimizar riscos operacionais. Os pesquisadores da instituição desenvolvem, por exemplo, robôs escaladores para fazer manutenção e pintura de plataformas de petróleo e outros talhados para limpar tubulações e cascos de navios.

Um dos frutos dessa vertente mecatrônica é o robô snake (cobra, em inglês), que tem mobilidade muito superior à dos robôs que imitam os homens. Desenvolvido em parceria com a General Motors, é um modelo articulado e flexível, capaz de chegar a locais de acesso complicado ou com espaço restrito, cumprindo tarefas como levar ferramentas, inspecionar soldas e aplicar selantes. “Qual vai ser o nosso próximo robô? Não sei. Vai depender da próxima necessidade real que aparecer. Desenvolvemos os robôs de acordo com as demandas da indústria”, diz o pesquisador-chefe.

Os institutos de Santa Catarina também atuam em projetos conjuntos com os de outros estados. A Boia Remota de Avaliação de Ventos Offshore (Bravo), por exemplo, foi criada pelo ISI em Sistemas Embarcados, em parceria com a Petrobras e o ISI em Energias Renováveis, do Rio Grande do Norte, para medir a velocidade e direção dos ventos em plataformas em alto-mar. O projeto MagBras, voltado para criar uma cadeia produtiva de terras raras no País, envolveu os institutos de Joinville e o Instituto de Terras Raras, de Minas Gerais.

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Os Institutos SENAI de Inovação de Santa Catarina são autossustentáveis, com todos os custos sendo cobertos pela carteira de projetos - Foto: Divulgação

O limpador de dutos

Um dos projetos do Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados é o robô Annelida, desenvolvido para desobstrução de dutos. A partir de um sistema que mimetiza a estratégia de movimentação das minhocas (anelídeos), o robô entra no duto e percorre o seu interior até o ponto de obstrução, onde remove a obstrução por meio de uma reação química. O projeto, uma parceria com a Petrobras, os Institutos SENAI de Inovação em Polímeros e Sistemas de Manufatura, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade de São Paulo (USP) e a empresa Upsensor Tecnologia, está em fase de testes em ambiente controlado e deve ser levado para a operação offshore no próximo ano. 

“É o nosso projeto com maior impacto econômico. Tem um potencial de economia de bilhões de reais que hoje são gastos na substituição de dutos danificados e lucros cessantes decorrentes da interrupção de operações. Imagine de­sobstruir rapidamente e sem riscos à segurança das pessoas o duto de uma linha de extração de petróleo que produz milhares de barris por dia”, diz Paulo Violada, pesquisador-chefe do Instituto.

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Foto: Divulgação

Balé tecnológico

No Instituto SENAI de Inovação em Processamento a Laser, em Joinville, uma das tecnologias exploradas é a de manufatura aditiva, que permite fabricar e fornecer rapidamente peças de reposição e componentes críticos para a indústria, mas já foi usada em aplicações fora do escopo industrial. Em 2024, uma estátua em aço de uma bailarina em escala real foi impressa pelo ISI e presenteada para ornamentar uma praça de Joinville. O projeto de impressão em 3D, que utilizou pó metálico importado da Suécia, foi feito a partir de escaneamento da silhueta de uma bailarina nascida na cidade, Thais Diógenes, que em 2011 se formou na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil e hoje atua na Ópera de Kazan, na Rússia.

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Foto: Divulgação

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