
Uma mudança de perspectiva se consolidou na indústria de Santa Catarina nas últimas décadas, a de que a educação dos trabalhadores deve fazer parte da estratégia competitiva das empresas, o que colocou a indústria como protagonista do processo educacional. É um ponto de vista muito diferente do que vigorou por muito tempo em boa parte do setor produtivo, que atribuía ao setor público a responsabilidade única pela educação dos brasileiros. Só que as enormes e conhecidas limitações do ensino público têm entregado um dos piores resultados do mundo, conforme avaliações internacionais. Fato que está ligado à baixa produtividade do trabalhador brasileiro, equivalente a apenas um quinto do desempenho médio do trabalhador norte-americano.
A virada estratégica das principais empresas, que passaram a investir mais na qualificação dos trabalhadores e se tornaram mais exigentes quanto à qualidade do ensino, esteve associada a uma reformulação da oferta de educação básica, profissional, continuada e executiva oferecida pela FIESC. Mais ainda do que isso, mexeu profundamente na maneira como a Federação passou a influenciar no setor. Já não bastava centrar os esforços em qualificar quem já estava empregado, mas era necessário preparar melhor os jovens para as transformações do mundo do trabalho.
Foi daí que nasceu o Movimento Santa Catarina pela Educação, lançado em 2012. Trata-se da maior articulação intrassetorial já obtida no Estado, pois envolveu, além da indústria, que aderiu em grande número, o setor público e inúmeras organizações que formalizaram parcerias e disponibilizaram ferramentas. Vale citar as adesões entusiasmadas do movimento Todos Pela Educação, Instituto Ayrton Senna e Google, além do Governo do Estado, municípios, trabalhadores e suas centrais sindicais, pais, professores, alunos e o Conselho Estadual de Educação. O Movimento ficou conhecido como um alinhamento de planetas, em função de sua capacidade de organizar as pautas e concentrar esforços.

As indústrias, por seu lado, criaram ambientes que passaram a valorizar mais os estudos e ofereceram oportunidades aos colaboradores, abrindo mais espaço para os programas de aprendizagem industrial, voltados para a profissionalização de adolescentes e jovens, que desde cedo podem se adaptar à cultura e às necessidades da empresa e podem ser efetivados. Companhias passaram a pagar integralmente ou em parte as matrículas de trabalhadores em cursos técnicos e de ensino superior. O SENAI e o SESI são os principais parceiros dessas iniciativas.
“Quando iniciamos o Movimento, muitos empresários me perguntavam: o que temos a ver com isso? Buscamos demonstrar que a educação e a qualificação dos trabalhadores também são assuntos das empresas. A renovação do conceito de responsabilidade sobre educação é uma das maiores contribuições do Movimento”, explicou, em 2018, Glauco José Côrte, presidente da FIESC à época e responsável pela criação do Movimento.

A evolução da mentalidade – e do grau de exigência – da indústria também esteve entre os motivadores do Projeto de Educação SESI SENAI 20/30, um plano orientador de todas as iniciativas educacionais das entidades, que passaram a atuar em conjunto. O objetivo é a criação de escolas que não apenas acompanhem, mas que sejam precursoras de novos modelos de ensino e novas tecnologias. As escolas SESI de Referência, instaladas em Joinville e Itajaí, são exemplos concretos da nova proposta, com conceitos como ensino híbrido, aprendizagem baseada em problemas e gamificação (leia matéria subsequente).
A integração do SESI e do SENAI na área educacional concluída em 2018, que foi pioneira no Brasil para obtenção de sinergias e otimização de recursos, também impôs diferenças de abordagem. Surgiu a necessidade de se articular a jornada completa do estudante, desde a educação infantil até a pós-graduação, o que passou a dar um novo sentido ao complexo educacional mantido pelo Sistema FIESC.
De executivos para executivos
Concebida em plena pandemia, a Academia FIESC de Negócios tem o propósito de desenvolver empresas capazes de se adaptar e tirar proveito das grandes transformações impostas não somente pela experiência da Covid-19, mas também mudanças tecnológicas, geopolíticas e climáticas. Passou a funcionar no primeiro andar da sede da FIESC, em Florianópolis, e o espaço logo se tornou ponto de encontro de dezenas de industriais e executivos do Estado e também de fora de Santa Catarina, interessados em trocar experiências e obter conhecimentos avançados. “A Academia é a vertical de educação executiva idealizada para apoiar a reinvenção e a transformação da indústria catarinense”, define José Eduardo Fiates, diretor de Inovação e Competitividade da FIESC.
Dentre as abordagens destaca-se a hands on, que pode ser traduzida como “mão na massa” ou “aprender fazendo”, que valoriza a construção de soluções práticas e o compartilhamento de experiências. O empreendedorismo em rede estimula a formação de alianças entre os participantes e as parcerias com escolas internacionais conectam os alunos às principais tendências internacionais de gestão.
