
A história de Santa Catarina é um testemunho da importância das habilidades e da qualificação profissional para o desenvolvimento econômico. Imigrantes, principalmente alemães, trouxeram consigo uma série de conhecimentos técnicos e habilidades que foram cruciais para o florescimento da indústria. Implantaram técnicas de produção, substituíram o trabalho manual pelo uso de máquinas e desenvolveram novos produtos e mercados.
“Apesar de todas as adversidades dos primeiros tempos, o que determinou o encaminhamento para a industrialização nas incipientes colônias foi o fator humano”, explica a professora Sueli Petry, diretora da Secretaria Municipal de Cultura e Relações Institucionais de Blumenau. “Esses imigrantes colocaram seu conhecimento em prática de forma paulatina e segura, começando com experimentos de fundo de quintal. Com o passar dos tempos, evoluíram para novas tecnologias da época e se tornaram grandes complexos industriais”, afirma.
A evolução da indústria, entretanto, demandava a formação de novas gerações de trabalhadores que fossem capazes de atuar com máquinas e processos produtivos cada vez mais complexos. Os operários eram essencialmente oriundos do campo – a industrialização acelerou a urbanização – e a vasta maioria dos trabalhadores não era tecnicamente capacitada para exercer funções nas fábricas.
No Brasil, as primeiras iniciativas para fomentar o ensino profissionalizante datam dos anos 1930. Elas culminaram com a criação de um sistema nacional de aprendizagem, de inspiração europeia. Representantes da indústria propuseram que os órgãos sindicais implementassem o projeto, e em 1942 o presidente Getúlio Vargas assinou o decreto de criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). O modelo de ensino era baseado na aprendizagem prática, aproximando a formação profissional da realidade industrial, e os cursos eram voltados para setores estratégicos, como metalurgia, têxtil e construção civil.

Em 1943 foi criada a Delegacia Sul do SENAI em Curitiba, que atendia Santa Catarina também. Dez anos mais tarde, em 1953, já com a FIESC em plena atividade, o processo legal para criação do SENAI catarinense foi deslanchado, culminando com a fundação oficial em 1º de janeiro de 1954. A primeira escola do SENAI foi construída em Lages, em 1955. Já a unidade de Blumenau, que veio na sequência, foi projetada para atender alunos das cidades vizinhas, todas com empresas já destacadas no setor têxtil e do vestuário. Uma escola em Siderópolis formava trabalhadores para a indústria carbonífera, e posteriormente a unidade foi transferida para Criciúma para atender a nascente indústria cerâmica. Programas de treinamento de menores de idade no local de trabalho foram implantados em dezenas de empresas, e programas de qualificação para gestores, com base em metodologias norte-americanas, também foram realizados.
As iniciativas foram o embrião do que é hoje a maior rede de ensino profissional do Estado, que registra 93% de empregabilidade de seus egressos. O SENAI/SC possui atualmente 51 unidades de educação profissional e um centro universitário, além de 14 unidades móveis. A estrutura comporta 675 laboratórios didáticos e 393 salas de aula, distribuída em todo o Estado de acordo com as necessidades locais dos setores industriais.
Um exemplo é o Laboratório de Processamento da Madeira do SENAI, inaugurado em março deste ano em Caçador. A região é o maior polo setorial do Estado, e já contava com um curso de tecnólogo para suprir a indústria local. Agora o laboratório, que simula uma fábrica completa, será utilizado por alunos do curso Técnico em Processamento da Madeira e também para alunos de cursos de aprendizagem. O SENAI investiu R$ 4,3 milhões na unidade, que possui equipamentos de alta tecnologia como coladeira automática de bordas, furadeira múltipla e cabine de climatização de lixas.

Estudos avançados
No início do século o SENAI deu os primeiros passos no ensino superior, mas o grande salto ocorreu em 2021, quando o UniSENAI foi reconhecido como Centro Universitário pelo MEC. O status garante maior autonomia e agilidade nos programas de graduação e pós, o que acelerou a oferta de cursos para as engenharias. Está presente em cinco campi: Blumenau, Chapecó, Florianópolis, Jaraguá do Sul e Joinville. Cada campus foca em áreas estratégicas para a economia regional, como tecnologia da informação, manufatura avançada, indústria de alimentos, energias renováveis e mobilidade elétrica. A primeira graduação em Ciência de Dados e Inteligência Artificial de Santa Catarina foi lançada no início de 2025, em Florianópolis.
A metodologia de ensino inclui aspectos como projetos cocriados com a indústria, para conectar a academia ao mercado. Na modalidade dual, os cursos são ministrados parte dentro de uma indústria e parte em sala de aula. Na pós, os cursos incluem MBI em Indústria 4.0, Engenharia de Software Automobilístico e MBI em Mobilidade Elétrica e Energias Renováveis.
