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Negócios bem empacotados

Indústrias de embalagens de papel e papelão aproveitam a sustentabilidade dos processos produtivos para ganhar mercado e obter melhores opções de financiamento.
Foto:Adobestock

A indústria de celulose e papel costuma ser a primeira lembrança quando se fala em indústria de base florestal. Não é à toa, pois o Brasil é potência global no fornecimento de celulose, commodity produzida a partir da polpa de madeira de florestas plantadas que é a matéria-prima para o papel. Com 25 milhões de toneladas em 2022, o Brasil é o segundo maior produtor – atrás dos Estados Unidos – e maior exportador mundial de celulose. Quase 90% desse impressionante volume é feito com eucalipto, gerando a chamada celulose de fibra curta, utilizada principalmente na fabricação de papéis para impressão. O grosso dessa produção se localiza no Estado da Bahia e nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do País.

Já o pinus dá origem à celulose de fibra longa, ideal para a fabricação de papéis para embalagem, que precisam ser mais resistentes. Por causa desta característica Santa Catarina tem uma cadeia produtiva relevante em torno da fabricação de embalagens de papel e papelão. O setor é formado por grandes companhias integradas – que plantam as árvores, fabricam a celulose, o papel e as embalagens – como a Klabin, que tem quatro unidades em Santa Catarina, e a West Rock, sediada em Três Barras, no Norte do Estado. Também atuam em Santa Catarina diversas empresas recicladoras de papel. De acordo com a Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), associação que representa o setor, mais de 75% de todo o papel para embalagem – que é a matéria-prima das caixas de papelão – consumido no Brasil é reciclado.

A produção de papéis para embalagem cresceu 7% no País em 2022, segundo a IBÁ. Os números estão associados ao avanço do e-commerce e o delivery, que utilizam caixas de papelão. Outra estatística corrobora a tendência. Segundo a Associação Brasileira de Embalagens (ABRE), as indústrias consumidoras estão substituindo embalagens de plástico por embalagens de papel e papelão ondulado em ritmo acelerado (veja os gráficos).

Embalagens de papel e papelão movimentaram mais de R$ 42 bilhões em 2023, enquanto em 2019 o mercado dos produtos somou pouco menos de R$ 17 bilhões. Cerca de 80% das embalagens utilizadas no e-commerce são de papelão ondulado, e a modalidade poderá crescer 15% ao ano entre 2022 e 2026, conforme informações levantadas pela Irani, companhia com operações no Oeste catarinense e nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. As tendências estimulam investimentos no segmento.

Circular | “A pandemia trouxe um aumento estrutural da demanda para esses segmentos e desafiou as empresas do setor a inovar e se posicionar com embalagens que passam a ir até o consumidor final”, afirma Sérgio Ribas, diretor-presidente da Irani. A companhia está em fase final de um ciclo de investimentos de cerca de R$ 1 bilhão que inclui a modernização e a ampliação de todas as frentes de negócios e a elevação de produção de energia hidrelétrica própria.

A Irani possui áreas florestais, produção de celulose, fabricação de papel e embalagens de papel e de caixas de papelão ondulado a partir de material reciclado. As embalagens de papel são utilizadas em segmentos como panificação e sacolas, e as caixas de papelão atendem em grande parte a agroindústria, tanto no mercado interno quanto para produtos de exportação. “É um negócio de economia circular perfeita”, diz Ribas. “A empresa virou referência ao fabricar produtos 100% recicláveis a partir de recursos naturais renováveis.”

A Irani está no negócio desde a fundação, há mais de 80 anos, e vê agora grande oportunidade de crescimento em função das novas tendências, projetando dobrar de tamanho nos próximos anos. Em 2023 a receita líquida da companhia somou R$ 1,59 bilhão. “Existe pressão sobre o varejo para substituir toda e qualquer embalagem por embalagens sustentáveis. É uma oportunidade em um setor que pode se beneficiar de um novo foco de sustentabilidade, impulsionada pelo consumidor final”, afirma Ribas.

Carência | Em Caçador, a Adami é tradicional fabricante de papel reciclado e de caixas de papelão. Recentemente concluiu a emissão de títulos para a construção de uma nova fábrica de papel para abastecer sua fábrica de embalagens, que atualmente depende, em grande parte, da aquisição de papel de terceiros. O financiamento do novo projeto chama atenção pela dimensão da sustentabilidade. Boa parte dos recursos para o investimento, que deverá totalizar R$ 800 milhões, foi obtida por meio da emissão de debêntures verdes, papéis com spread reduzido, maior carência e prazos alongados em função do apelo ambiental, de acordo com o diretor superintendente da Adami, Hideo Ogassawara.

“O projeto foi todo baseado na reciclagem de papel e papelão, na utilização de um produto que iria para lixões”, afirma o executivo. Além do projeto de reciclagem em si, a certificadora que avalizou a emissão como “verde” levou em conta todo o modelo de negócios da Adami. A companhia possui áreas florestais certificadas internacionalmente de cerca de 40 mil hectares, sendo quase metade delas formada por matas nativas. As plantações de pinus se destinam a outra divisão de negócios, a fabricação de produtos de madeira. “Não perdemos nada no procedimento. A madeira chega e nós serramos, secamos e o resíduo vai para queima. Fabricamos portas, molduras, painéis, pallets, e dos resíduos fazemos os pellets (biocombustível granulado de alto poder calorífico). Nada se perde no processo, tudo se torna produto”, conta Ogassawara.

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