Foto: Edson Junkes/Arquivo FIESC
Um olhar panorâmico sobre o número de empregos na indústria ao longo do intervalo entre a divulgação dos dois últimos Censos revela uma inquietante estagnação no Brasil, ainda que variações intensas para cima e para baixo a partir de 2010 tenham ocorrido, de acordo com dados compilados pelo Observatório FIESC. Ao fim de 2022, o número de trabalhadores diretos no setor manteve-se praticamente inalterado no País, somando 10,7 milhões de empregados (veja o gráfico). Porém, a redistribuição dos empregos se deu de modo diferente pelo Brasil, e os dados demonstram que boa parte de vagas fechadas em diversos estados migrou para Santa Catarina.
No Estado, o crescimento médio do número de vagas de emprego na indústria foi de 1,3% ao ano. Isso significa uma abertura de 12 mil novas vagas no setor por ano, em média, o que tem atraído muita gente de outras regiões onde os empregos são mais escassos (leia reportagem subsequente) – em 2020, por exemplo, o Estado liderou a abertura de vagas na indústria de transformação no País. No total, a indústria incorporou 144,3 mil novos trabalhadores no período, totalizando 880,2 mil empregados em Santa Catarina, segundo estimativa do Observatório FIESC com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de 2022. Eles correspondem a 34% da força de trabalho do Estado, fatia menor somente que a do setor de serviços.
Indiretos | O papel da indústria para o aumento populacional não pode ser tomado apenas pela quantidade direta de vagas de trabalho que oferece. De acordo com a metodologia Matriz Insumo-Produto desenvolvida pela FIESC em parceria com a UFSC, conclui-se que para cada 10 pessoas ocupadas na indústria outros 16 empregos indiretos são gerados, devido ao elevado número de conexões do setor industrial com os outros segmentos produtivos. “Por isso a indústria é o motor que puxa o crescimento estadual”, afirma Mario Cezar de Aguiar, presidente da FIESC.
Os resultados acima da média de Santa Catarina devem-se também à reconhecida diversificação da indústria. A condição cria uma situação em que setores que se saem bem em determinado período compensem outros em dificuldades, garantindo um maior equilíbrio para a economia estadual. Dessa forma o desempenho da indústria colaborou – e muito – para o crescimento econômico do Estado. Do mesmo modo que as oportunidades na indústria contribuíram para intensificar o fluxo migratório de outras regiões para Santa Catarina, as variações de vagas abertas na indústria nos diferentes municípios do Estado encontram relação com a dinâmica do crescimento estadual.
A expansão industrial de Itajaí, por exemplo, está ligada ao forte crescimento populacional da cidade. O número de trabalhadores na indústria passou de 15 mil para 21,1 mil entre 2010 e 2021. Ao longo deste período o município, que já era o maior polo de pesca industrial do Brasil, tornou-se também o maior centro de produção de pescados enlatados do mundo, com a ampliação das operações da companhia Gomes da Costa.
A indústria náutica floresceu em Itajaí na última década. Além da retomada de estaleiros tradicionais e da complexa operação montada para a construção de quatro fragatas para a Marinha, projeto que envolve a contratação de milhares de trabalhadores, a indústria de embarcações de lazer tomou corpo. Sete em cada dez iates produzidos atualmente no Brasil saem de Santa Catarina, sendo Itajaí a cidade-polo do setor. Dentre os 10 maiores setores industriais do Estado, o que mais cresceu relativamente desde 2010 é o automotivo, no qual se insere a fabricação de lanchas (veja o quadro). A um ritmo médio de 4,6% ao ano, o setor chegou a 2022 com 30,6 mil empregos diretos no Estado.
O setor de alimentos e bebidas é o vice-campeão em vagas de trabalho em Santa Catarina, e também cresceu em ritmo forte desde 2010: 3,4% ao ano, em média. Saiu de 101 mil empregados diretos para 150 mil em 2022. Mais concentrada no Oeste, a produção de alimentos demandou o trabalho de muita gente em Chapecó, a principal cidade da região. Somente a duplicação de um frigorífico de suínos da Aurora, em 2019, abriu de uma vez 2,5 mil novos empregos diretos na cidade – a unidade passou a empregar 5,5 mil pessoas. O número total de trabalhadores na indústria em Chapecó cresceu 41% no período entre os Censos, algo muito próximo ao crescimento populacional da cidade, que foi de 39%. Outras cidades do Oeste com atividade agroindustrial forte como Concórdia, Videira e São Miguel do Oeste tiveram crescimento populacional significativo, em torno de 20%.
Desconcentração | Dentre os municípios com maior quantidade de empregados na indústria, apenas Itajaí e Chapecó aumentaram a participação relativa no Estado. “Entre 2010 e 2021 nota-se uma desconcentração dos empregos formais da indústria catarinense. Em 2010, os dez municípios com maior volume de vínculos representavam 43,4% dos empregos industriais do Estado, enquanto em 2021 esse valor foi para 38,7%”, informa Vicente Heinen, economista do Observatório FIESC. “Isso mostra a consolidação de novos polos industriais em Santa Catarina.”
Entre os maiores polos industriais, a maior parte cresceu em número de trabalhadores, mas abaixo da média de crescimento geral do Estado, perdendo, portanto, participação relativa. São os casos de Joinville, Brusque, Criciúma, São José e São Bento do Sul (veja o quadro). Já em Blumenau, Jaraguá do Sul e Florianópolis a quantidade de trabalhadores, em números absolutos, regrediu no período.
No caso das duas primeiras cidades, uma boa explicação é o declínio do setor Têxtil, Confecção, Couro e Calçados, ainda o maior empregador do Estado, com mais de 175 mil postos em 2022. Dentre os principais setores, este é o único a apresentar redução no período – há hoje 8 mil empregados a menos do que em 2010. Blumenau, o principal polo do segmento, fechou um total de 6 mil vagas na indústria no período, nem todas necessariamente no setor têxtil. Ainda assim a população de Blumenau cresceu 17%, e a de Jaraguá do Sul, 27%.