As mulheres ocupam um a cada três empregos no setor industrial catarinense e estão à frente de várias empresas que se destacam no cenário nacional.

Em 1922, viúva e com dois filhos pequenos, Johanna Altenburg (1882-1970) começou a pensar em alternativas para gerar renda. Teve a ideia de fabricar acolchoados artesanais, usando penas, fibra de algodão e lã de carneiro como matérias-primas. Instalou a oficina em um galpão anexo à própria casa, em Blumenau. Logo percebeu que se tratava de um negócio promissor, pois, graças à propaganda boca a boca, vendia rapidamente tudo o que produzia.

Com a ajuda de outras mulheres da família e das primeiras funcionárias, a empresa batizada com o sobrenome da empreendedora cresceu rapidamente. A produção, inicialmente 100% manual, foi sendo aos poucos aprimorada e diversificada com a adoção de máquinas de costura e de outros equipamentos. Hoje, com mais de um século de trajetória e consolidada como referência em artigos de cama, banho e decoração, a Altenburg é liderada por Tiago Altenburg, bisneto de Johanna.

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Johanna Altenburg (centro) - Foto: Divulgação

A empreendedora foi uma das pioneiras da indústria catarinense e, fato talvez ainda mais relevante, foi uma das pioneiras do protagonismo feminino no setor. Ao celebrar os avanços conquistados nas últimas décadas, é preciso evocar o papel fundamental de mulheres que, muitos anos atrás, demonstraram grande capacidade de realização sob condições adversas. Além da “estranheza” por ocuparem posições até então restritas aos homens, as pioneiras tiveram que conciliar os desafios do empreendedorismo com as demandas familiares. Nem tudo foi superado, entretanto.

“Muitas vezes, as mulheres ainda precisam provar sua capacidade mais do que os homens para serem reconhecidas”, diz Dayane Titon, a Day, 43 anos, o “rosto” da Baly, fabricante de energéticos sediada em Tubarão. Com vendas mensais acima de 10 milhões de litros, a empresa cresceu 50% no ano passado e assumiu a segunda posição no ranking brasileiro do segmento, com 26% do mercado, à frente da austríaca Red Bull e à caça da líder, a norte-americana Monster. Essas conquistas se devem, em grande parte, ao trabalho da diretora comercial e de marketing, que compartilha com o irmão, Mario Júnior, a gestão do negócio.

Superando preconceitos e outras adversidades, as mulheres são destaque na indústria catarinense, sejam elas as empresárias citadas nesta reportagem (leia os destaques a seguir) ou as 301.763 mulheres que trabalham em organizações industriais do Estado, de acordo com dados levantados pelo Observatório FIESC. Isso equivale a 33,3% dos empregos industriais do Estado, o que transforma a indústria catarinense na mais feminina do Brasil – a média nacional é de 25%.

Realizando sonhos

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Fábrica da Mensageiro dos Sonhos - Foto: Divulgação

Rita Cassia Conti construiu uma das principais fabricantes de pijamas do País, a Mensageiro dos Sonhos, fundada há quase três décadas em Brusque. Mesmo com uma história repleta de realizações, já teve que passar por situações de puro preconceito. Um exemplo: ao receber a visita de um fornecedor asiático de fios, ela ouviu como primeira pergunta se aquela empresa, tão bem estruturada, havia sido recebida como herança ou fundada pelo marido dela. “Quando respondi que eu era a empreendedora, ele se levantou e fez uma reverência”, conta a líder da Mensageiro dos Sonhos.

Da produção média de 700 mil peças por mês, dois terços são destinados à marca própria e o restante é fornecido para grandes redes ligadas ao segmento, como Lupo e DeMillus. Instalada numa área de 21 mil metros quadrados, a Mensageiro dos Sonhos tem 230 funcionários e mobiliza 800 prestadores de serviços – 80% dessa força de trabalho é composta por mulheres, que ocupam posições estratégicas na empresa. Alguns exemplos são Patrícia Conti, irmã mais nova de Rita e colaboradora desde os primeiros tempos; Daniella Soares, diretora financeira, com mais de 20 anos de casa; e Alexandra Ristow, diretora de compras de suprimentos, em quem Rita viu grande potencial depois de conhecê-la como manicure.

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Rita Cassia Conti - Foto: Divulgação

Celebrando gerações

Mais do que liderar uma empresa com 80 anos de existência, Micheli Poli Silva foi responsável por uma guinada nos negócios do Grupo Jurerê, especializado em cafés especiais. Hoje, a produção de 80 toneladas por mês é dividida entre as marcas próprias e o fornecimento para grandes varejistas. Essa combinação levou a receita da empresa a crescer 74% nos últimos dois anos.

Micheli é neta de Gentil Silva – que, em 1945, incluiu o café entre as lavouras que cultivava no Vale do Rio Tijucas. Quando o negócio do café entrou em crise, decorrência da queda dos preços, Micheli assumiu o comando. Decidiu que a melhor estratégia seria abandonar o mercado de commodities. “Não adiantava mais lutar pelo volume de vendas, e sim pelo aumento da margem de lucro”, lembra. O novo direcionamento levou à aquisição, em 2011, da marca de cafés especiais Jurerê, que já tinha mercado consolidado na região de Florianópolis. 
O lançamento recente da linha Gerações celebra a história do negócio: são sete tipos de cafés, cada um deles dedicado a um membro da família – avô, avó, pai, mãe e as três irmãs. “O café do meu avô, por exemplo, tem notas de laranja, tangerina e limão, porque nos lembramos dele nos ensinando a descascar frutas com um canivete antigo”, descreve Micheli.

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Micheli Poli Silva - Foto: Divulgação

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