
Reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) é o propósito do Hub FIESC de Descarbonização, que une esforços do setor produtivo, do poder público, dos centros de pesquisas e da sociedade civil na construção de soluções sustentáveis para os segmentos mais representativos da economia do Estado.
O Hub foi lançado em 2023, em decorrência de uma demanda apresentada pela Tupy, metalúrgica sediada em Joinville. No ano anterior, a empresa havia adquirido a MWM, fábrica de motores e geradores de energia que já desenvolvia projetos de descarbonização em alguns estados do Brasil, mas nenhum em Santa Catarina. Surgiu então a intenção de desenvolver um projeto associado a alguma atividade típica da indústria catarinense. A FIESC foi consultada e envolveu os Institutos SENAI de Inovação e Tecnologia na prospecção de possibilidades.
Chegou-se à ideia de incentivar a produção de biogás a partir de dejetos suínos. Trata-se de um passivo ambiental relevante em Santa Catarina, maior produtor nacional de suínos. Novos parceiros foram agregados ao projeto, a exemplo da JBS, interessada em iniciativas que contribuam para a descarbonização da sua cadeia de produção.
O programa nasceu com uma meta ambiciosa para os próximos dez anos: que 100% dos dejetos gerados nas propriedades focadas na produção comercial de suínos em Santa Catarina sejam aproveitados para a geração de biogás. Estima-se que os resíduos orgânicos têm potencial para produzir quase duas vezes mais biometano do que o consumo atual de gás natural no Estado – o biometano é um dos produtos obtidos a partir do biogás e possui características similares ao gás natural. O programa prevê a instalação de biodigestores nas mais de 8 mil unidades produtivas de suínos de Santa Catarina.
“É um quadro que será transformado pela existência de um projeto amplo, com financiamento, acompanhamento e apoio técnico adequados. É isso que o Hub de Descarbonização se propõe a fazer”, descreve Mauricio Cappra Pauletti, gerente executivo de Inovação e Tecnologia do SENAI/SC. Ele afirma que muitos produtores ainda não se sentem pressionados pela necessidade de reduzir as emissões, mas ressalta que essa percepção está mudando rapidamente, por conta das demandas que vêm das grandes empresas para as quais eles fornecem os produtos.
A experiência de estruturação do programa está servindo como referência para a arquitetura de outros programas do Hub de Descarbonização, que envolverão problemas ambientais complexos em setores relevantes da indústria catarinense. Alguns candidatos naturais são os setores de mobilidade, cerâmica e carvão – este último é um exemplo claro de setor que precisa se reinventar, já que quase toda a produção do Sul catarinense é destinada à Usina Termelétrica Jorge Lacerda, que será desativada em 2040.
A proposta é que o Hub funcione como uma grande plataforma para a entrada e a análise de demandas da indústria, sempre com foco na descarbonização das cadeias produtivas. “Além dos ganhos ambientais, os projetos têm o objetivo de gerar diferenciais competitivos e oportunidades de negócios para a indústria”, ressalta Charles Leber, especialista do Instituto SENAI de Tecnologia Ambiental.
Nesse verdadeiro “mutirão” pela sustentabilidade é fundamental a adesão de parceiros que contribuem com diferentes expertises para o enfrentamento do problema em pauta. No caso do projeto de biogás, a lista inclui instituições como o Governo do Estado, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), a Companhia de Gás de Santa Catarina (SCGás), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) e a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), entre outras.
No que diz respeito a financiamento dos projetos, um dos parceiros do Hub é o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). “Participar do Hub é uma iniciativa alinhada ao papel do Banco desde sua criação, há 64 anos: apoiar o desenvolvimento da economia catarinense”, diz João Paulo Kleinübing, diretor financeiro do BRDE.
Além do alinhamento histórico, há também o propósito mais recente do BRDE de ser reconhecido como um “banco verde”. “A inserção global da economia catarinense exige transição para a economia de baixo carbono. Viabilizar crédito diferenciado para esse propósito faz parte dos objetivos estratégicos do Banco”, enfatiza Kleinübing.

Como participar do Hub
Qualquer empresa do setor industrial catarinense pode se integrar ao Hub, mesmo que ainda não haja um projeto específico relacionado ao setor de atuação. Um dos benefícios imediatos é ter acesso a informações e orientações sobre como descarbonizar o processo produtivo, além da possibilidade de trocar experiências com outras organizações que vivem desafio semelhante. O Hub planeja e conduz seminários e workshops temáticos, novas tecnologias e práticas sustentáveis, visando capacitar e informar os participantes. Os membros são encorajados a compartilhar conhecimento e experiências que possam enriquecer o aprendizado coletivo. Assim, além de promover a sustentabilidade e o cumprimento de regulamentações e de requisitos de compliance, a adesão impulsiona o acesso a fontes de fomento, novas tecnologias, mercados e modelos de negócio de baixo carbono. Contribui, ainda, para a melhora da reputação da empresa junto ao mercado e aos consumidores.