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Um excelente negócio, em essência

Empresas globais e locais apostam em Santa Catarina para aproveitar o crescimento do mercado que engloba cosméticos, perfumes e óleos com apelo ambiental, ético e vegano - Por Leo Laps.

100 milhões de frascos/ano é a capacidade da doTerra em Joinville - Foto: Shutterstock

O Brasil lidera, junto com a China, uma interessante tendência observada em pesquisa de 2021 da consultoria McKinsey & Company. Mais ainda do que foi percebido em países como Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Japão, brasileiros e chineses demonstram crescente interesse pessoal em seu bem-estar – ou wellness, como o conceito é conhecido mundo afora. Fundada em 2008 em Utah, nos Estados Unidos, a multinacional e líder em vendas de óleos essenciais doTerra mostra que estava atenta a essas curvas: em agosto, a empresa inaugurou sua primeira fábrica em solo brasileiro. Com 7 mil metros quadrados e investimento de R$ 50 milhões, a operação está sediada no Perini Business Park, em Joinville, e tem expectativa de gerar antes de 2030 um faturamento anual de R$ 10 bilhões.

Nova fábrica da doTerra em Joinville - Foto: Divulgação

Comprovando a pesquisa da McKinsey, as vendas da empresa têm apresentado forte crescimento no Brasil. Tanto que em janeiro o País se tornou o terceiro maior mercado mundial dos pequenos frascos de 10 ml que formam o carro-chefe da empresa. Contendo somente os óleos extraídos de plantas como patchouli, lavanda, eucalipto, cardamomo, jasmim, coentro e outras dezenas de opções, os produtos prometem proporcionar, através de doses minúsculas, relaxamento, melhora do sono e do humor, abertura das vias respiratórias e uma pele mais saudável, entre outros benefícios. A extração, para atender uma escala mundial, exige imensas quantidades de matéria-prima: para obter um litro de óleo essencial de rosas, por exemplo, é preciso destilar cerca de 2 toneladas de pétalas.

A comprovação científica de seus efeitos ainda é cercada de polêmica. O SUS, no entanto, já oferece a alguns pacientes a prática de aromaterapia, fazendo uso de óleos essenciais. Além da forma aromática, que fora do ambiente clínico é muitas vezes acionada por meio de difusores, os líquidos podem ser aplicados de forma tópica, como em massagens, e até mesmo consumidos com água, chás ou alimentos. Paulista fã de chimarrão, o diretor-geral da doTerra no Brasil, Helton Vecchi, pinga uma gota de óleo essencial de peppermint (hortelã-pimenta) e outra de erva-cidreira para dar um sabor diferenciado ao seu mate. Ele confessa que não acreditava muito nos benefícios dos óleos quando entrou na empresa, em 2018. Hoje, no entanto, se declara um “heavy user”.

Vecchi: logística portuária foi fator decisivo para instalação em Santa Catarina - Foto: Divulgação

Vecchi conta que Santa Catarina venceu uma corrida com Minas Gerais e Espírito Santo para a construção da fábrica. Com benefícios fiscais equivalentes, o Estado prevaleceu graças à infraestrutura tanto do Perini quanto da região. A empresa utiliza principalmente o Porto de Itapoá para receber os tanques com óleos essenciais que chegam de diversas partes do mundo: lavanda da França, patchouli da Índia, olíbano da África, e por aí vai. Diversos óleos cítricos, como de laranja, bergamota e limão siciliano, e de plantas amazônicas como o breu branco e a copaíba, são produzidos no Brasil.

A fábrica envasa e distribui os produtos para todo o País, e há planos de tornar Joinville um centro de exportação para todo o continente. “A abertura da operação trará benefícios logísticos e criará vantagens competitivas. Santa Catarina nos ganhou pela facilidade de escoamento e aquisição de matérias-primas, pela mão de obra qualificada e pelo fácil acesso dos colaboradores à fábrica”, enumera o executivo. Com 50 funcionários já contratados, o projeto vai abrir 150 vagas diretas de trabalho quando estiver em plena capacidade.

A fábrica de Joinville também conta com o laboratório mais moderno da empresa em todo o mundo, mais até que o dos Estados Unidos, para onde até então todos os lotes eram enviados para a realização de testes de pureza – o marketing da doTerra reforça a informação de que cada frasco contém apenas elementos extraídos de cada planta, de produtores que trabalham com rigor e ética ambiental. Os lotes agora são recebidos e testados em Joinville, o que dá ganho logístico, economia de custos e velocidade de produção.

Nova fábrica da doTerra em Joinville inclui laboratório para testes de essências - Foto: Divulgação

Quando estiver operando com 100% da capacidade, a fábrica trabalhará 24 horas por dia para envasar 100 milhões de frascos por ano. A produção, no entanto, pode dobrar se necessário, dentro do mesmo espaço físico. “A princípio, achávamos que essa seria uma boa taxa de produção para os próximos dez anos, mas agora calculamos que em cinco talvez seja necessário fazer upgrades ou montar novas plantas no Brasil, caso a aceitação continue aumentando”, projeta o executivo.

Longe dos números de escala mundial da doTerra, pequenas indústrias de Santa Catarina também apostam as fichas no mercado de bem-estar, buscando nichos especializados. Com escritório no mesmo Perini Business Park, a Herbia Cosméticos Orgânicos é um empreendimento de dois joinvilenses, Gilberto Augusto e Rafael Krause, pai e filho, ex-funcionários da Embraco. O negócio deu os primeiros passos em 2005 como um hobby em uma fazenda em Pirabeiraba, onde até hoje a dupla cultiva e extrai óleos essenciais com certificação orgânica – principalmente de melaleuca, planta de origem australiana tradicionalmente usada como antisséptico.

Logo, no entanto, a dupla percebeu que o negócio de óleos essenciais era “para cachorro grande”. “Para trabalhar em grande escala seriam necessárias grandes extensões de terra e maquinários muito caros. “Então, depois de alguns anos entendendo o negócio, optamos por desenvolver cosméticos com alto valor agregado, todos veganos, e alguns com certificação orgânica, usando óleos essenciais e ativos naturais”, explica Rafael Krause, diretor executivo da Herbia.

Permanência | A empresa passou por algumas pivotagens. Após lançar suas primeiras linhas de produtos em 2010, chegou a importar – e depois tentou produzir localmente – fraldas descartáveis ecológicas e a trabalhar com um e-commerce multimarcas. Faz somente um ano que voltou, de fato, a focar no desenvolvimento de produtos da marca Herbia. Desde então, a empresa lançou produtos pioneiros, como o primeiro protetor solar orgânico e o primeiro perfume orgânico do Brasil: o TRAU, um projeto que contou com a parceria da Givaudan, indústria suíça de sabores, fragrâncias e ingredientes cosméticos, e do perfumista brasileiro Leandro Petit, que trabalha na empresa europeia desde 2011.

“Foi um enorme desafio fazer um perfume com longa permanência sem usar sintéticos. Contamos com a paleta de ativos orgânicos de alta qualidade da Givaudan e a vontade do Leandro de encarar esse desafio no seu país natal”, explica Krause. O produto busca ser o mais ecológico possível: o plástico da embalagem é feito de cana-de-açúcar e promete ser 100% biodegradável (sem gerar microplástico). O restante da embalagem é de papel, e a válvula do perfume é rosqueável, permitindo a reutilização do frasco. O nome, TRAU, é uma homenagem ao bisavô de Krause, um alemão vegetariano e naturalista que imigrou para o Brasil em 1907.

Perfume da Herbia homenageia naturalista alemão que imigrou para o Brasil em 1907 - Foto: Divulgação

A Herbia conta hoje com uma linha de 65 produtos, que incluem óleos essenciais, desodorantes, xampus em barra, bálsamos labiais e outros. A empresa produz tudo de forma terceirizada, através de cinco indústrias parceiras localizadas em Balneário Camboriú, Curitiba, São Paulo e Juiz de Fora (MG). O desenvolvimento das fórmulas é feito por Krause e Fernanda Vollrath, diretora de Desenvolvimento e Operações da Herbia. A empresa busca canais de maior volume, entrando em e-commerces como Amazon e WestWing e também vendendo de forma on-line na rede de farmácias Panvel, onde em breve pretende operar também nas lojas físicas. “Crescemos 30% no último ano e acreditamos que dá para crescer mais no ano que vem”, afirma Krause.

Para ele, o Brasil é um mercado com alto potencial para produtos veganos e orgânicos. Uma pesquisa encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira ao Ibope em 2018 revelou que 14% dos brasileiros se consideravam vegetarianos e estavam dispostos a consumir mais produtos veganos. “Isso é um mercado de 30 milhões de pessoas, considerando o Censo 2022. Obviamente não é necessário ser vegetariano para ver benefícios nos produtos orgânicos e veganos, mas é um número que usamos como base para medir o tamanho do mercado. Por outro lado, apenas 2% dos cosméticos vendidos no País são orgânicos. É um mercado embrionário ainda”, considera o fundador da Herbia.

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