Florianópolis, 16.12.2022 – Santa Catarina está cada vez mais se consolidando como um polo de desenvolvimento aeroespacial, integrando-se à chamada New Space, um estágio em que se sobressaem os nanossatélites, de pequeno porte, mas com grande capacidade de desempenho. E um dos expoentes desse processo é o Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados, em Florianópolis, que já possui três projetos relacionados ao setor, podendo chegar a quatro nos próximos meses. O primeiro deles, o CVUB1, em parceria com a Visiona Tecnologia Espacial, deve chegar ao espaço no primeiro semestre de 2023.
“Desenvolvemos tecnologia para o fundo do mar e para o espaço sideral”, disse, nesta sexta (16) em reunião da diretoria da FIESC, o pesquisador-chefe do Instituto, Paulo Violada. Ele se referia ao conjunto de tecnologias inovadoras criadas pelo centro que dirige. Para o fundo do mar, está em andamento a construção de um robô, intitulado de Annelida, que reproduz os movimentos de uma minhoca para desobstruir dutos da extração de petróleo da camada do pré-sal. “Aqui para a superfície da Terra temos inúmeros projetos que, da mesma forma, atendem as mais diversas áreas, como indústria 4.0, agro, logística”, salientou o pesquisador.
“Os institutos do SENAI têm trazido soluções bastante relevantes para todos os segmentos industriais”, disse o presidente da FIESC, Mario Cezar de Aguiar. “O desenvolvimento aeroespacial é uma nova era para Santa Catarina”, destacou.
Conforme Violada, a New Space é uma mudança de paradigma. “O espaço se torna mais acessível e conseguimos criar uma nova economia aeroespacial, da indústria privada. Os satélites tradicionais pesam de 3 a 5 toneladas e orbitam a 35 mil quilômetros do nível do mar; os nanossatélites têm 20 ou 30 quilos e ficam numa órbita menor, de 600 quilômetros da Terra, no caso do VCUB1. Essa nova tecnologia é muito mais barata e tem desempenho similar ao dos grandes artefatos”.
O grande volume de negócios da nova indústria espacial está nas aplicações que proporciona. “O desenvolvimento da tecnologia movimenta algo em torno de 14 bilhões de dólares anuais; os lançamentos, algo em torno de 6 bilhões de dólares por ano; já os serviços proporcionados pelas aplicações mobiliza cerca de 250 bilhões de dólares”, explicou.
O VCUB será o primeiro satélite privado do país, resultado de uma parceria com a Visiona, uma joint-venture da Embraer com a Eletrobras. O projeto começou a ser desenvolvido em 2018 e está na fase de conclusão dos testes finais que antecedem o lançamento, marcado para abril de 2023. “Temos possibilidades de aplicação na geração de informações para os campos marítimo, saúde, logística (uma nova logística vai surgir com as informações geradas a partir dos satélites), meio ambiente, agricultura, mídia, energia, educação, aviação, financeiro, clima, observação da terra, navegação satelital, comunicação satelital, além de tecnologias para viagens espaciais”. No campo de smart cities, entre as aplicações possíveis estão a geolocalização com imagens em maior resolução e menor latência, monitoramento de energia, qualidade do ar, barulho, planejamento urbano, prédios verdes, mobilidade inteligente, saúde urbanística, indústria 4.0 e fazendas urbanas.
Participando on-line, o presidente da Visiona, João Paulo Campos, destacou a cooperação com a Embrapa para o desenvolvimento de tecnologias específicas para o Brasil para apoiar a agricultura de precisão. “O arranjo SENAI Embrapii foi muito importante para o programa, para reduzir riscos”, salientou Campos. “Os bons resultados nos sistemas que o SENAI se propôs a trabalhar, as plataformas de coleta de dados vão continuar evoluindo e sendo utilizadas nos próximos projetos”, explicou.
Campos informou ainda que os resultados do VCUB1 permitem o avanço para o próximo projeto da empresa, um satélite maior, com cerca de 170 quilos. “Será um projeto efetivamente nacional, rede de parcerias, com cerca de 8 empresas e cinco centros de tecnologia do Nordeste ao Sul do Brasil, entre os quais o Instituto SENAI e a UFSC. Será com aplicação ainda maior, questões inclusive de cartografia, fundamental para o trabalho de infraestrutura”. Ele também observou que parte desses satélites podem ser industrializada em Santa Catarina.
Além do VCUB, o Instituto SENAI atua na Constelação Catarina, uma iniciativa em parceria com a Agência Espacial Brasileira e UFSC, e que terá 14 nanossatélites, focados em prevenção de eventos climáticos, além de todas as demais funcionalidades possíveis para o VCUB. Outro projeto no campo aeroespacial é em parceria com a empresa catarinense Agrossatélites. Neste caso, não há desenvolvimento de satélites e sim de aplicações de inteligência artificial e visão computacional focadas no acompanhamento de plantio, para proporcionar ganhos que o agro tenha maior produtividade.
O deputado federal Daniel Freitas, que articulou a liberação à Constelação Catarina de R$ 5 milhões pela Frente Parlamentar Catarinense, quando a coordenava, salientou que o estado enfrenta com frequência os eventos climáticos. “Tivemos mais um episódio há alguns dias e a informação poderia ajudar a minimizar os efeitos”, disse.
Alerta quanto à estagnação do capital humano
Em outra palestra, Lucia D’Agnello, diretora do Centro de Inovação para a Educação Brasileira, alertou para as dificuldades da preparação de capital humano em Santa Catarina e no país. “A carência de capital humano qualificado é a única barreira que puxa o Brasil para baixo”, disse, referindo-se às posições do país em rankings internacionais. No caso dos estudos sobre competitividade, o Brasil ocupa posições medianas, mas cai para o final da fila quando se trata de educação e desenvolvimento dos jovens. Por exemplo, entre 141 países, o Brasil é o 133º em competências digitais.
Ela também salientou que entre 2007 e 2019, o desempenho dos estudantes catarinenses no ensino médio teve avanço quase zero, e o estado decaiu do topo do ranking para a 18ª posição. No outro extremo, estados como Pernambuco, Ceará e Piauí apresentaram grande avanço na qualidade da educação básica.
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