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Raízes profundas no campo

Agroindústria é o setor com maior adensamento produtivo em Santa Catarina, contando com fornecedores locais de soluções para praticamente tudo.
Cadeia produtiva é praticamente autossuficiente no Estado – Fotos: Adobestock

Carnes de aves e suínos são os dois itens de maior peso na pauta de exportações catarinense – em 2023 as vendas externas dos produtos somaram US$ 3,5 bilhões, o equivalente a 30% das exportações totais do Estado. Somente o abate de frangos envolve mais de 1 bilhão de unidades por ano. Já o plantel de suínos é calculado em 8 milhões de cabeças. A criação dos animais em território catarinense depende de enormes volumes de milho e soja, que são convertidos em ração. Como a produção local de grãos é insuficiente, há grande fluxo de entrada desses produtos no Estado – carretas carregadas são contadas às centenas, diariamente.

Porém, entre a entrada das matérias-primas pelo Oeste e a saída dos produtos finais pelo Leste (portos) ou com destino ao mercado nacional, há uma complexa e intrincada cadeia produtiva capaz de suprir praticamente tudo o que é necessário para produzir carne e derivados com padrões de qualidade dos países mais exigentes. O estudo que analisa a matriz insumo-produto da indústria de Santa Catarina concluiu que o segmento “abates e preparação de carnes” apresenta nada menos que 88% do seu consumo intermediário de bens e serviços adquirido localmente. Outra conclusão: quase metade da produção agropecuária catarinense é utilizada pela indústria de alimentos local para processar novos produtos.

No mercado de aves e suínos estabeleceu-se no Estado, ao longo de décadas, uma estrutura de produção que engloba, além de formação de mão de obra qualificada, criadores integrados altamente especializados. Empresas que desenvolvem, constroem e fornecem equipamentos e serviços para granjas, que se tornaram modernas e autônomas, evitando que os produtores tenham que, por exemplo, passar noites em claro para cuidar da temperatura de aviários. Há empresas e organizações atuando em desenvolvimento genético, nutrição animal, sanidade e outras frentes. Fornecedores de automação industrial, metalúrgicas, fabricantes de máquinas e equipamentos e companhias transportadoras atendem os grandes frigoríficos.

“A agroindústria é um organismo complexo e praticamente autossuficiente no Estado. As soluções estão todas bem representadas aqui”, afirma José Antônio Ribas Junior, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne). Uma das empresas que representam bem o enraizamento da agroindústria é a Plasson. Sua história em Santa Catarina remonta aos anos 1990, quando Sadia e Perdigão começaram a se interessar pela automatização de aviários. Era um processo complexo, e uma das principais empresas do ramo no mundo era a Plasson, fundada em um kibutz – comunidade agrária coletiva – em Israel em 1964. Só que, na negociação, os brasileiros deixaram claro que só fechariam acordo se os israelenses implementassem uma filial em solo nacional.

Instalações da Plasson, em Criciúma: soluções para indústrias e produtores rurais – Foto: Divulgação

Com 44 anos de experiência no agronegócio, o criciumense Franke Hobold já conhecia todas as partes envolvidas através de feiras e negócios. E colaborou decisivamente para trazer a Plasson do Brasil para o Sul do Estado em 1997. “Entre os meus argumentos estavam a qualidade de vida, que ajudaria a trazer mão de obra qualificada, e a localização privilegiada”, recorda o, desde então, CEO das operações da empresa no Brasil. Hoje com receita líquida de R$ 600 milhões ao ano e uma unidade também em São Paulo, a companhia soma 700 colaboradores e planeja crescer, em 2024, até 15%.

A Plasson vende para dois tipos de clientes: as agroindústrias e os produtores rurais integrados a elas. Focada em equipamentos para alimentação de frangos, perus e suínos, nos últimos anos passou a trabalhar também com produtos para aumentar a produtividade e o controle de qualidade na postura de ovos. A unidade nacional aposta no desenvolvimento de tecnologia própria – caso da Magna, uma máquina classificadora de ovos automatizada que já vem sendo exportada para diversos países, até mesmo para a China.

A empresa também oferece projetos completos de implantação de granjas e criadouros, incluindo toda a parte de construção civil e instalação de equipamentos. Chamado de Solução Total, ou Chave Em Mãos, o produto exigiu ampliação da fábrica em Criciúma para a produção dos materiais necessários. A tendência foi percebida diretamente com os clientes, que buscavam mais praticidade para a execução desse tipo de construção. Fora do País, a Plasson contrata trabalhadores locais e envia uma equipe própria para administrar o trabalho técnico. O serviço costuma levar entre quatro e cinco meses até ser concluído.

“Nosso negócio é muito competitivo, com margens pequenas, por isso percebemos que seria positivo fazermos nós mesmos. Estamos sempre trabalhando para reduzir custos, o que atende à expectativa do cliente, que investe, no caso do produtor rural, quase todas suas reservas num negócio desses, e precisa prosperar. Se a construção é malfeita, não terá a eficiência necessária”, diz Hobold. “Os equipamentos e instalações precisam garantir alta conversão alimentar, redução da mortalidade e praticidade para o manejo da produção.”

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