Natural de Ipumirim (SC), Gilberto Tomazoni comanda a maior produtora de proteínas do mundo, a JBS, e objetiva tornar sustentável a imensa operação zerando o balanço líquido da emissão de gases de efeito estufa em 20 anos.
Gilberto Tomazoni - Foto: Divulgação
Em 1963, a pequena Ipumirim, com pouco mais de 7 mil habitantes, emancipou-se de Concórdia. O novo município da região Oeste catarinense, colonizado por descendentes de italianos vindos de outras partes de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, vivia um clima de orgulho e de otimismo. Aos cinco anos, era como se o pequeno Gilberto integrasse duas grandes famílias em Ipumirim – palavra que significa “pequeno vale” em tupi-guarani. A da vizinhança, que se conhecia e se ajudava, e sua família propriamente dita, os Tomazoni.
Caçula entre cinco irmãos, filhos de um pequeno comerciante, ele teve a oportunidade de se dedicar aos estudos – e desde cedo demonstrou vocação para isso. Quando chegou a época do vestibular, escolheu o prestigiado e concorrido curso de Engenharia Mecânica na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi aprovado, para orgulho de toda a cidade.
Foi assim que o rapaz deixou a terra natal, como tantos outros jovens do interior catarinense que vão à capital para estudar. O êxodo se manteve ao longo das décadas – tanto que Ipumirim continua com o mesmo número de habitantes, pouco mais de 7 mil, que tinha ao ser emancipada.
JBS Unidade de Itajaí - Foto: Divulgação
No caso de Tomazoni, foi um “até breve”. Quando ele se formou, em 1982, voltou à região de origem para iniciar a vida profissional – ingressou como estagiário na Sadia, em Concórdia, a apenas 30 quilômetros de casa. Duas décadas depois, em 2003, chegou à presidência da empresa. Foi um período em que a Sadia viveu um grande impulso nas vendas, na valorização da marca e no projeto de internacionalização.
Um novo desafio para a carreira chegou em 2009, quando Tomazoni assumiu a vice-presidência da Bunge para a América do Sul e Central. “Mergulhei em um outro elo da cadeia produtiva de alimentos, o de farinha e ingredientes”, ele lembra.
Em 2013 foi contratado pela JBS, empresa goiana fundada em 1953 por José Batista Sobrinho que se transformara em uma das maiores indústrias de alimentos do planeta – atualmente é a maior produtora mundial de proteínas. Tomazoni tornou-se o líder da área global de aves e suínos ao assumir a presidência da Seara, que havia sido adquirida pelo grupo naquele mesmo ano. Ele teve, assim, a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento de mais uma empresa catarinense, surgida no município de mesmo nome e coincidentemente localizado a menos de 50 quilômetros de Ipumirim. “A Seara representa um grande exemplo de como a JBS transforma negócios. Depois de passar pelas mãos de muitas companhias, sempre com dificuldade, é hoje uma empresa de grande sucesso, com muita inovação e crescimento acelerado”, descreve o executivo.
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Cultura | Além de atender o mercado interno, a Seara exporta para mais de 90 países. A empresa tem uma das maiores estruturas industriais do Estado, com 31 operações de produção de aves, suínos, alimentos preparados, além de centros de distribuição, incubatórios, fábricas de ração e um terminal portuário. São mais de 20 mil colaboradores e 2.600 produtores integrados no campo. “A JBS continua investindo forte em Santa Catarina e considera o Estado como estratégico para seu crescimento. As pessoas e a cultura empreendedora são diferenciais importantes”, diz Tomazoni. “A nosso ver, um desafio importante para o Estado é o déficit na produção de grãos, matéria-prima essencial para o nosso negócio”, ressalta.
Em 2015, Tomazoni assumiu a presidência global de Operações da JBS, oportunidade para ampliar ainda mais o escopo de atuação. Além das operações no Brasil, ele passou a contribuir com o desenvolvimento dos negócios da empresa no exterior: Estados Unidos, Europa, México, Austrália, Canadá, entre vários outros mercados. Em 2017, assumiu como COO (diretor de Operações).
Em 2018, diante da necessidade de suceder Joesley Batista – o filho do fundador que havia sido preso sob acusação de uso de informação privilegiada no mercado financeiro –, Tomazoni surgiu como a solução natural: era uma liderança que já estava na casa e era respeitada dentro e fora do grupo. Foi assim que ele assumiu como CEO global da JBS, mais um grande desafio para o menino de Ipumirim.
“Não existe nada melhor para o desenvolvimento de um profissional do que dar um desafio que ele ainda não sabe como resolver. Comigo não foi diferente. E foi de desafio em desafio que construí minha carreira e forjei minhas crenças”, afirma Tomazoni. “E é claro que ninguém faz nada sozinho”, ressalta. “Sempre estive cercado de um time excelente, tendo as pessoas certas nos lugares certos. São elas que constroem a cultura e o resultado de qualquer companhia.”
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Conscientização | Como se já não bastasse a responsabilidade de liderar 250 mil colaboradores de uma organização presente em cinco continentes e cujos produtos alimentam milhões de pessoas todos os dias, surgiu ainda o desafio imposto pela pandemia em 2020. A JBS destinou globalmente R$ 2,8 bilhões para combater seus efeitos e implementar medidas de proteção para os colaboradores no Brasil e no mundo.
Para Tomazoni, um dos aspectos que unem os profissionais de qualquer empresa é ter uma causa clara e amplamente compartilhada. No caso da JBS, esse propósito ficou ainda mais claramente definido por conta da crise da Covid-19: liderar o desafio global de alimentar o mundo com sustentabilidade. “Estima-se que em 2050 seremos 9,7 bilhões de pessoas no planeta. Atender às necessidades alimentares e nutricionais da crescente população global de maneira sustentável é o grande desafio de nosso tempo”, avalia o executivo.
A empresa decidiu, então, lançar o projeto de ser Net Zero até 2040. Ou seja, comprometeu-se a zerar o balanço líquido das suas emissões de gases causadores do efeito estufa em duas décadas, o que significa implementar uma série de ações para reduzir a intensidade das emissões e compensar a residual. Para chegar lá, projeta investimentos de US$ 1 bilhão até 2030.
Um dos grandes desafios é a adesão dos milhares de produtores de gado que são fornecedores da empresa – só no bioma amazônico há cerca de 50 mil fornecedores, dos quais 11 mil já estão bloqueados por falta de comprovação de que atendem a política de desmatamento zero da JBS ou por outros fatores. Para acelerar o processo de conscientização, a empresa está montando 13 “escritórios verdes” no bioma amazônico, que funcionarão como centros difusores de práticas modernas e, também, como apoio para que os produtores se ajustem às exigências da legislação.
“Estamos no limiar de uma grande revolução verde, que pode ter a amplitude e a abrangência do que foi a Revolução Industrial. Essa revolução verde vai gerar grandes oportunidades e desafios a todos, pessoas e negócios”, avalia Tomazoni. “Este é o grande legado que pretendo deixar, como profissional e como pessoa: ter contribuído para uma sociedade melhor e um planeta mais sustentável.”
JBS
- Fundação - 1953 em Anápolis (GO)
- Funcionários - 250 mil
- Unidades Produtivas - 400 em 15 países
- Receita (em 2020) - R$ 270,0 bilhões
- Operações em SC - 31 unidades produtivas e 20 mil funcionários