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Mudança cultural para novos tempos

Ascensão de Márcio Bertoldi ao comando da Karsten consolida processo de reestruturação iniciado há uma década em uma das empresas mais antigas do Brasil - Por Maurício Oliveira.
Bertoldi: “Eu admirava a Karsten como uma organização centenária que fabricava, e ainda fabrica, produtos de extrema qualidade. Conhecia seu renome, pois nasci e me criei em Blumenau” – Foto: Divulgação

Fundada em 1882, a blumenauense Karsten completou 142 anos no dia 29 de setembro de 2024 – é uma das empresas mais antigas do Brasil em atividade. “Eu me sinto com muita responsabilidade por manter o legado, mas também por transformar esta organização para os novos dias e tempos que estão aparecendo no horizonte”, afirma Márcio Bertoldi, 53 anos, que assumiu como CEO no início de 2024. “Estamos saindo de uma economia predominantemente industrial para uma economia fundamentada no digital. É uma honra ser testemunha e liderar a mudança cultural pela qual estamos passando.”

Bertoldi considera que a mudança da cultura para adaptação aos novos tempos é um desafio tão significativo ou até maior do que o ambiente macroeconômico. “Há cinco gerações convivendo hoje dentro da Karsten. Fazer a gestão de talentos com perfis tão distintos é um dos grandes temas que nos envolvem no dia a dia.”

Um dos maiores símbolos da confiança da empresa no futuro são os investimentos que a fabricante de produtos de cama, mesa, banho e tecidos para decoração continua fazendo, a exemplo da recente aquisição de seis teares de última geração e três máquinas de tingimento. “Confiamos na indústria brasileira, confiamos na capacidade do segmento de se renovar continuamente, embora enfrente ventos contrários, mesmo com toda a diferença de competitividade que temos em relação às indústrias do exterior”, diz Bertoldi.

O CEO está completando dez anos de ligação com a empresa, junto ao grupo controlador que assumiu o negócio naquele momento. As fases iniciais da nova gestão envolveram reorganização financeira e dos ativos – ou, em outras palavras, “colocar o trem nos trilhos”, como Bertoldi define. Nesse período em que ocorreu a reestruturação da dívida da companhia, principalmente bancária, ele atuou como diretor financeiro.

Ficou então desenhado o processo de sucessão em que Bertoldi assumiria o comando da empresa, em substituição a Armando Hess de Souza. Antes da conclusão da transição programada, estabeleceu-se que ele passaria pela direção de varejo, cargo que ocupou por um ano e meio. “Foi um caminho para ampliar o meu conhecimento do mercado e entender de que forma a Karsten deveria atuar, tanto na frente digital do e-commerce quanto no varejo físico, para colocar o consumidor final no centro da estratégia.”

Instalações da Karsten, em Blumenau: empresa tem 142 anos – Fotos: Divulgação

Hoje a empresa exporta para 14 países e está presente em mais de 7 mil pontos de venda no Brasil, além de manter lojas próprias nas cidades catarinenses de Blumenau, Florianópolis, Balneário Camboriú e Porto Belo, e nas paranaenses Curitiba, Londrina e Campo Largo.

Não havia relação de Bertoldi com a Karsten antes do seu envolvimento no projeto de reestruturação da empresa – a não ser a admiração por uma marca tão relevante da indústria catarinense e brasileira. “Eu a admirava como uma organização centenária que fabricava, e ainda fabrica, produtos de extrema qualidade. Conhecia seu renome, pois nasci e me criei em Blumenau, e sempre contemplava essa força têxtil quando passava em frente à empresa”, recorda.

Bertoldi é formado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), bagagem que considera ter sido essencial para o projeto de reestruturação financeira da companhia. “Sem o conhecimento de todas as nuances do Direito, em diversos aspectos – tributário, bancário, civil, comercial –, teria sido muito difícil trilhar esse caminho, pois foram dias difíceis, bem complicados no início, principalmente na entrada de uma nova gestão que visava reestruturar uma empresa centenária”, descreve. Um dos pontos mais delicados, conta Bertoldi, foi explicar como transcorreria o processo aos diversos stakeholders envolvidos com o negócio, desde fornecedores de matéria-prima até os mais de 2,5 mil funcionários.

Várias leituras de cunho empresarial o ajudaram ao longo do caminho. Um livro que Bertoldi considera ter sido especialmente impactante é Walking the talk – A cultura através do exemplo, de Carolyn Taylor, considerada uma das maiores especialistas do mundo em transformação de cultura organizacional. “O livro traz argumentos sólidos para demonstrar a um líder que é fundamental servir pelo exemplo. Não adianta só falar, é preciso também ser, e isso certamente tem feito a diferença no meu dia a dia”, afirma o CEO da Karsten.

Instalações da Karsten, em Blumenau – Fotos: Divulgação

Conexões | Preocupado com o aprimoramento contínuo, Bertoldi fez MBA pela Fundação Dom Cabral e especialização e mestrado em Direito Tributário pela UFSC e pela Universidade de São Paulo (USP). Recentemente concluiu o curso OPM (Owner/President Management, “gestão de proprietário/presidente”) em Harvard, nos Estados Unidos, a mais importante e renomada escola de negócios do planeta.

“A experiência em Harvard foi muito importante para conhecer outras culturas, outros jeitos de fazer negócio, e, principalmente, trazer uma fonte de conhecimento para dentro da companhia”, descreve. Outra consequência importante foi estabelecer relacionamento com representantes de diversos tipos de empresas ao redor do mundo. “Essa rede de conexões é muito importante para que, nos momentos de dúvida, você possa trocar ideias com colegas experientes.”

Chegar a Harvard era algo impensável para um “menino do Morro do Paca, interior de Blumenau”, como ele se descreveu num artigo recente. “Minha infância foi a de um garoto que nasceu em uma família de baixa renda, a realidade mais comum daqueles que são imigrantes, principalmente no interior do Estado. Mas tanto meu pai, que era de Rio dos Cedros, quanto minha mãe, de Dona Emma, tinham muita vontade de crescer e prosperar”, conta Bertoldi.

Com a família instalada em Blumenau, o menino teve anos importantes de formação na Escola Básica Professor Lothar Krieck, antes de ser contemplado com uma bolsa de estudos para o Colégio Franciscano Santo Antônio, atual Bom Jesus. “Acredito que essa trajetória, do Morro do Paca a Harvard, pode inspirar outros jovens que também sonham em criar, transformar e vencer na vida. O futuro é brilhante para essa juventude que está enfrentando de frente um mundo completamente digital”, diz Bertoldi.

Em meio a tantos afazeres e desafios, ele passou a cuidar mais da saúde, com atividades físicas, além de se dedicar intensamente à família – Bertoldi tem três filhos ainda pequenos, um menino de dez anos e duas meninas, de oito anos e de um ano e cinco meses. “É uma época muito importante e prazerosa da paternidade e da maternidade, para estar em casa com a minha esposa, ao lado das crianças.”

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