Santa Catarina não vai parar de crescer, ao menos não tão cedo. De acordo com estimativas do IBGE, a população do Brasil ainda espichará um pouco até 2041, quando começará a declinar. O processo, entretanto, será bastante desigual entre os estados. O Rio Grande do Sul, por exemplo, deverá começar a encolher já em 2027, e o Pará em 2045. Santa Catarina, por seu lado, ficará maior do que os dois, e será um dos últimos a começar a encolher, lá pelo fim dos anos 2060. Contará então com mais de 10,5 milhões de habitantes – um crescimento de quase 30% sobre a população atual.
Viabilizar e dar sustentabilidade a um crescimento dessa magnitude ou ainda maior, conforme outras instituições projetam, é um gigantesco desafio multidimensional, que faz acender o alerta do planejamento de longo prazo – a exemplo do que fez Celso Ramos como governador do Estado (1961-1966). Fundador e primeiro presidente da FIESC, Ramos implementou o Plano de Metas do Governo (Plameg), contemplando as demandas da indústria e proporcionando um salto de desenvolvimento para Santa Catarina.
Desde então a história não se repetiu. A falta de planejamento nas últimas décadas teve como consequência a escassez de soluções à altura em infraestrutura, mobilidade, saneamento e habitação, que avançaram de forma fragmentada, sem a visão sistêmica necessária para atender o crescimento do Estado.
Marcos importantes vieram, é verdade, como a duplicação da BR-101, o novo aeroporto de Florianópolis e o alargamento da praia em Balneário Camboriú, porém com atraso e desconectados de um projeto de estado mais abrangente. Ainda assim, demonstraram como investimentos estruturantes podem mudar a percepção sobre o Estado, como no caso do aeroporto da capital, considerado o melhor do País pelo quinto ano consecutivo pela Secretaria Nacional de Aviação Civil.
Para José Eduardo Fiates, diretor de Inovação e Competitividade da FIESC, é necessário colocar em prática um novo ciclo de planejamento estratégico capaz de articular políticas públicas, investimentos privados e qualidade de vida. “Não existe uma bala de prata, mas um conjunto de fatores que precisam andar juntos em uma espiral de desenvolvimento, em que avanços em uma frente retroalimentam as demais, garantindo crescimento sustentável para Santa Catarina”, explica.
A ideia é combinar avanços em várias frentes, como o investimento em infraestrutura de transportes e em cidades planejadas e bairros inteligentes, que garantam moradia adequada, mobilidade eficiente e preservação da identidade urbana. A capacidade de atrair e reter talentos precisa ser mantida, com a oferta de salários competitivos, segurança e qualidade de vida. Outro ponto importante é a construção de marcas fortes, com investimento em branding – tanto das empresas quanto do próprio Estado – para ampliar a inserção internacional e atrair investimentos.
Complexidade | No campo do planejamento, o Governo Estadual elabora o Avança SC, enquanto a FIESC estrutura o Avança Indústria SC, projetos alinhados que oferecem diretrizes para orientar o crescimento com base em dados e indicadores, com metas estabelecidas e ênfase na integração regional, na elevação da complexidade econômica e com visão de longo prazo.
O Avança SC, em elaboração pela Secretaria de Planejamento do Estado, é uma plataforma que reúne indicadores detalhados e pretende oferecer roteiros de ação para prefeitos e gestores locais, alinhando políticas públicas, investimentos em infraestrutura, incentivos tributários e vocações econômicas regionais. A ideia é criar um ambiente de equilíbrio entre litoral e interior, evitando que o desenvolvimento se concentre apenas em algumas cidades. “O sucesso de Santa Catarina está na diversificação e no equilíbrio regional. Por isso somos os últimos a entrar em crises e os primeiros a sair”, afirma Fabricio Oliveira, secretário de Estado do Planejamento.
O programa se baseia no conceito de complexidade econômica, ou seja, a diversidade e sofisticação das atividades produtivas em cada região. “Podemos organizar pacotes de infraestrutura, logística e incentivos que fortaleçam as vocações regionais e atraiam novas indústrias”, diz Oliveira. O programa está em fase final de estruturação e deve ser lançado como uma ferramenta inteligente, constantemente atualizada, integrando o trabalho do Governo com instituições estratégicas, como a FIESC. A iniciativa pretende ainda criar uma “escola de governo”, para capacitar gestores municipais a interpretar os dados e tomar decisões técnicas de longo prazo.
O Avança Indústria SC almeja promover conexões em diversas camadas. Por exemplo: o ecossistema de inovação do Estado deverá estar ainda mais interconectado aos clusters industriais regionais; estes, por sua vez, poderão direcionar seus esforços para os seis setores prioritários da política industrial nacional vigente, como indústria 4.0, descarbonização, agro, saúde e defesa; complementa o quadro o setor de serviços com forte sinergia com a indústria, como logística e transportes, economia criativa e turismo.
“A chave para o sucesso está na visão integrada”, diz Fiates, da FIESC, para quem o desenvolvimento catarinense deve ser entendido como um ecossistema em que talentos, inovação, infraestrutura e qualidade de vida se alimentam mutuamente, com o Governo criando condições e a indústria gerando valor, impulsionando o Estado em uma espiral de crescimento contínuo. “Se conseguirmos alinhar esses fatores, Santa Catarina tem todas as condições de se tornar um modelo de desenvolvimento sustentável”, conclui.
O desafio do capital humano
Indústria precisa de quase 1 milhão de trabalhadores qualificados nos próximos três anos.
Apesar de ser considerada moderna e dinâmica para os padrões locais, a indústria catarinense, na média, fica atrás da maior parte dos concorrentes internacionais, de acordo com o Índice de Competitividade Industrial (ICI). Para superar o gap, um dos desafios é avançar em automação, robótica e inteligência artificial. Também é necessário inovar mais para avançar em produtividade e conquistar novos mercados. A FIESC desenvolve inúmeras ações que contemplam essas necessidades, mas se destaca especialmente na formação de capital humano. “A educação sempre foi uma das nossas prioridades porque a indústria depende de pessoas preparadas para lidar com novas tecnologias. Precisamos de gente capaz de inovar e resolver problemas”, afirma Gilberto Seleme, presidente da FIESC.
O SENAI/SC é a maior rede de ensino profissional do Estado, com 51 unidades de educação profissional, um centro universitário e 14 unidades móveis. Seu desafio é qualificar mais de 950 mil trabalhadores nos próximos três anos somente para atender às demandas da indústria. A FIESC também atua em educação básica por meio das Escolas SESI, que despertam o interesse das crianças pela tecnologia, valorizam a matemática e preparam futuros empreendedores.