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ESG: Uma nova forma de fazer negócios

A incorporação das dimensões ambiental, social e de governança pelas empresas é considerada uma reinvenção do capitalismo. Como toda grande mudança ela requer um período de transição, e a hora de embarcar é agora.

US$ 50 trilhões: Capital alocado em projetos que consideram o ESG até 2025, no mundo (Bloomberg Intelligence) - Foto: Shutterstock

Uma grande onda se ergueu no oceano corporativo, o ESG, sigla em inglês que se refere às práticas de governança ambiental, social e corporativa (Environmental, Social and Governance). Muitas empresas já pegaram a onda, e quem não o fez corre o risco de ser engolfado e se afogar. Tem gente que ainda acha que a onda é passageira e vai terminar em marolinha, mas a avaliação geral é de que se trata mesmo de um tsunami: nada mais nada menos que uma reinvenção do capitalismo, que se assenta sobre novas bases.

Na nova configuração, indicadores de saúde financeira são tão relevantes quanto os indicadores representados pelas três letras da famosa sigla. Em outras palavras, as dimensões passam a ser incorporadas às estratégias corporativas, associadas aos propósitos e posicionamentos das empresas – conexões muito mais profundas e duradouras do que meros programas de filantropia. Há quem compare a mudança de paradigma à revolução digital – hoje em dia todos se conectam no ambiente digital, e o que antes tinha ares revolucionários se tornou corriqueiro. Nesse sentido, o ESG está se tornando o novo normal.

Tamanha transformação requer uma verdadeira mudança cultural, que vem sendo fermentada há muito tempo. Há décadas o impacto da economia sobre o meio ambiente é fonte de preocupação. Responsabilidade social, transparência e compliance também já eram contemplados na governança das melhores companhias. Mas não havia ainda o senso de urgência e o engajamento de agora.

“Vivenciamos uma mudança significativa no papel das empresas na sociedade, e a velocidade da agenda ESG surpreende. Empresas estão mudando não apenas porque é o certo a ser feito, mas por causa de diversos vetores de pressão”, afirma Luciana Schneider, sócia e diretora de Relações Institucionais, Sustentabilidade e Empreendedorismo do Itaú Unibanco.

Uma diferença fundamental é que, dessa vez, a agenda se impõe a partir do próprio mundo dos negócios. Não se trata mais de grito de ambientalistas, mas de critérios de investidores, que passam a considerar os riscos aos negócios representados pelas mudanças climáticas, por exemplo. Compromissos sérios assumidos por empresas para não somente mitigar impactos ambientais e sociais, mas regenerar o que foi comprometido, são vistos como fator de valorização de ativos e maiores retornos no médio e longo prazo, tornando as empresas favoritas de investidores.

É esta a tese encampada por uma das maiores gestoras do mundo, a norte-americana BlackRock, que tem mais de US$ 10 trilhões em ativos sob gestão. O CEO Larry Fink dita as tendências de uma nova forma de fazer negócios por meio de cartas anuais às lideranças empresariais, afirmando que o risco climático é um risco real para os investimentos, e que por isso está em curso uma relevante realocação de capitais em todo o mundo que privilegia a descarbonização da economia.

Além de aspectos relacionados à governança corporativa, como combate à corrupção e respeito aos minoritários, Fink também sublinha a importância de haver propósitos que vão além do lucro financeiro nas relações com fornecedores, funcionários e comunidade. Em sua visão, quando todos os stakeholders saem ganhando, os retornos aos acionistas tendem a ser mais duradouros.

Parque eólico em Bom Jardim da Serra: energia limpa - Foto: Shutterstock

Segundo a Bloomberg Intelligence, até o fim de 2022 o volume de capital alocado em projetos que consideram o ESG deve atingir US$ 41 trilhões. Até 2025 deve ultrapassar US$ 50 trilhões. Pesquisa da PwC junto a investidores institucionais revelou que oito em cada 10 planejam parar de comprar produtos não ESG nos próximos dois anos. “A magnitude do fluxo de investimento sugere que ESG é muito mais que um modismo ou um exercício de bem-estar”, registra a consultoria McKinsey em relatório.

A onda cresce no Brasil. O índice de Sustentabilidade da B3 já é antigo – data de 2005. Atualmente, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) está definindo critérios para identificar fundos sustentáveis e dar segurança aos investidores. Já o Governo brasileiro, por meio do Tesouro Nacional, articula a emissão de títulos públicos com selo ESG, com o objetivo de atrair investidores estrangeiros para a dívida pública brasileira.

Reguladores do mercado também avançam na agenda, contribuindo de forma decisiva para sua materialização. Desde 2017, uma rede formal de bancos centrais de todo o mundo, a Network for Greening the Financial System (NGFS), coordena esforços para quantificar riscos e oportunidades que sustentem ações efetivas em ESG.

Foi com base nesse alinhamento que o Banco Central do Brasil divulgou, no final do ano passado, resoluções relativas ao gerenciamento de riscos climáticos, ambientais e sociais pelos bancos brasileiros, criando regras para as questões serem reportadas. Outra norma estabeleceu parâmetros socioambientais para a concessão de crédito rural, para estimular práticas sustentáveis no agronegócio.

Tendências como essas são emolduradas por grandes esforços a nível global, como o Acordo de Paris, assinado por quase 200 países, com o objetivo de limitar o aumento médio da temperatura global em 1,5%. O Brasil assumiu compromisso de reduzir em 50% as emissões de gases de efeito estufa até 2030. O não alinhamento de empresas e países aos objetivos compromete o acesso a mercados. A União Europeia está instituindo a Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM), uma sobretaxa a produtos que emitiram gases de efeito estufa ao longo da produção. O mecanismo, que deverá ser integralmente implementado em 2026, sofre acusações de ser meramente protecionista, mas de um jeito ou de outro empurra a agenda.

Complexo portuário na China: mundo busca alternativas de fornecimento - Foto: Shutterstock

“Toda empresa precisa estar atenta ao ESG, que passará a ser cada vez mais uma exigência de mercado”, afirma Mario Cezar de Aguiar, presidente da FIESC. “Também é uma oportunidade. Boa parte do mundo deseja depender menos da Ásia para o fornecimento de produtos. Uma das formas de Santa Catarina ocupar esse espaço é avançando na agenda ESG”, complementa Aguiar. Além do acesso a mercados, especialistas apontam várias formas pelas quais as práticas ESG podem criar valor (veja o box).

Os fatores ESG

Significado das letras que transformam o mundo corporativo

  • Fatores ambientais

    Relacionados ao impacto da empresa no meio ambiente. Compreende entre outros aspectos emissões de gases, o uso eficiente de recursos naturais, poluição e gestão de resíduos e efluentes e inovação para design sustentável dos produtos.

  • Fatores sociais

    Relações da empresa com colaboradores, clientes e sociedade. Inclui aspectos relacionados à diversidade, inclusão, respeito aos direitos humanos e compromisso com redução de desigualdade. Também contempla esforços para manter trabalhadores e clientes satisfeitos.

  • Fatores de governança

    Administração atuando no melhor interesse dos acionistas de longo prazo, o que inclui salvaguardar direitos dos acionistas e manter uma política de prevenção de práticas ilegais, como fraude e suborno, além de adoção de práticas contábeis transparentes.

Fonte: e-investidor Estadão

Hábitos | A pandemia foi um divisor de águas para a maturidade da agenda. Estudo da McKinsey sobre tendências para os próximos anos destaca que a Covid evidenciou a interconexão entre negócios e a sociedade, gerou uma onda de inovações e lançou uma nova geração de empresários, ao mesmo tempo que alterou para sempre os hábitos de consumo. “A pandemia acelerou em dez anos a agenda ESG”, afirma Sérgio Sampaio, vice-presidente de Operações do Grupo O Boticário. “Isso porque enfrentamos a mortalidade e o cerceamento da liberdade. São situações que mudam as pessoas, mudam os comportamentos e os hábitos”, analisa o executivo.

75% das pessoas no Brasil mudaram de alguma forma seus hábitos de consumo em função de preocupações ambientais (Toluma/FGV) - Foto: Shutterstock

Esse fator incidiu fortemente sobre os consumidores, que são outro poderoso vetor de pressão da agenda ESG. Estão cada vez mais atentos a temas como bem-estar animal, diversidade nas empresas e ojeriza à corrupção. Detalhando ainda mais os recortes, especialistas veem os jovens da chamada Geração Z – pessoas nascidas entre 1997 e 2010 – como um forte motor de indução da tendência. Uma pesquisa do Bank of America realizada em 10 países, em 2020, concluiu que 80% deste público prefere investir e comprar de empresas comprometidas com práticas ESG.

A Geração Y, os chamados millennials, nascidos entre 1981 e 1996, também é sensível aos princípios e está chegando, rapidamente, às posições de comando das empresas. Da mesma forma atuam os trabalhadores desta geração, que claramente preferem operar em empresas com propósitos e ações condizentes com sua visão de mundo – e nesse sentido o ESG é um poderoso fator de atração e retenção de talentos.

Pesquisas aferem os resultados desse tipo de escolha. Um exemplo: segundo a McKinsey, é praticamente certo que empresas com diversidade de gênero superam a performance financeira das concorrentes.

A probabilidade de empresas com diversidade de gênero superarem performance financeira das concorrentes é de 93% (McKinsley) - Foto: Shutterstock

Em resposta a tudo isso, grandes empresas aderem à pauta, assumindo compromissos que definem um novo padrão de responsabilidade corporativa. Pesquisa do Global Network of Directors Institute (GNDI) com mais de 2 mil conselheiros de empresas concluiu que 85% deles anteveem maior foco em questões ESG daqui para frente. As empresas se inserem tanto como parte do problema, ou seja, como causadoras de impactos ambientais e sociais, quanto como parte da solução, considerando o poder do setor privado em contribuir.

Dentre as metas estabelecidas pelas empresas, no mundo e no Brasil, destacam-se a busca pela neutralidade nas emissões de carbono (Net Zero), economia circular, a diversidade racial e de gênero entre executivos e no quadro geral de trabalhadores, programas comunitários de empoderamento de mulheres, redução da desigualdade – tema particularmente sensível no Brasil – e o espraiamento das boas práticas junto às cadeias de fornecedores, por exemplo.

Métricas | Para aferir o quanto disso tudo é de fato consistente (se é orientação estratégica e não apenas programas isolados) busca-se a incorporação de métricas ESG às tradicionais, que medem os desempenhos financeiros e operacionais das companhias. Já existem metodologias no mercado, como os indicadores Global Reporting Initiative (GRI) e Sustainability Accounting Standards Board (SASB), mas ainda se discute uma padronização capaz de dimensionar os compromissos e as práticas de forma efetiva, evitando o chamado greenwashing, ou maquiagem verde.

São tantas as forças que empurram para frente a agenda que uma frase atribuída ao escritor francês Victor Hugo (1802-1885) é repetida por analistas que buscam explicar de modo sintético o tamanho do fenômeno. A frase é: “Não há nada mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou”. “O tempo de criar um novo modelo econômico é agora. Esta é uma década de ação”, afirma Sonia Consiglio Favaretto, especialista em sustentabilidade, board member e SDG pioneer pelo Pacto Global da ONU, iniciativa da Organização das Nações Unidas para encorajar empresas a adotar políticas sociais e de sustentabilidade.

Favaretto foi um dos destaques do evento Fórum Radar Reinvenção, da FIESC, realizado no final do ano passado, com o objetivo de refletir sobre as transformações, oportunidades e riscos para os negócios diante de eventos como a pandemia. Ela participou do painel ESG/Sustentabilidade como referência no tema. “Sustentabilidade é transformação, não é abraçar árvores ou beijar criancinhas”, disse a consultora. “É integrar objetivos econômicos com ambientais e sociais, e isso é essencial porque o econômico passou a ser afetado pelo social e ambiental.”

O assunto teve direito a um evento exclusivo organizado pela Escola de Negócios da FIESC no final de abril, o Radar Pocket ESG, em que foram apresentados casos concretos, visões setoriais e o envolvimento das cadeias de suprimento. Para além das tendências, dos grandes movimentos globais e dos exemplos de grupos multinacionais, emergiu ali um profícuo debate sobre como empresas com atuação muitas vezes local podem incorporar os princípios ESG em suas práticas e lidar com questões desafiadoras como o chamado consumo consciente, que pode significar na prática a redução do consumo de bens ou de energia, por exemplo.

Evento Radar Pocket ESG na FIESC: transição não é um ato, é um processo - Foto: Filipe Scotti

A melhor resposta que emergiu dos debates é a de que a adesão ou incorporação ao ESG não é um ato, mas sim um processo, ou uma jornada. Mesmo as empresas maiores não estão prontas, estão ainda em um estágio de transição, embora mais avançado. São elas que servem de farol e que darão o tom para as menores que fazem parte de suas cadeias de suprimento incorporarem as mudanças, sob pena de serem excluídas de arranjos produtivos cada vez mais exigentes.

Cidadania | Essa é a ideia, mas é fato que a transição é complexa, diferente em cada caso, com maior ou menor facilidade de aderência a depender do setor e das características do mercado, sem falar em porte de empresas e do ambiente de negócios a que estão submetidas. Ao abraçar, propagar e incentivar a agenda ESG, a FIESC atenta também para a centralidade da própria sobrevivência da indústria catarinense, que se vê diante de exigências que demandam investimentos relevantes e um razoável processo de transição.

“O conceito ESG está ligado à cidadania, e não existe cidadania sem emprego, nem emprego sem empresa. Portanto, ESG é um tema que precisa estar no radar de todos, mas deve ser aplicado com equilíbrio”, salienta Mario Cezar de Aguiar. “O retorno ao acionista, a capacidade de competir e de manter as empresas ativas, gerando postos de trabalho, são tão importantes quanto os pilares ambiental, social e de governança”, complementa.

Mario Cezar de Aguiar, presidente da FIESC: "ESG é de extrema importância para a indústria, que tem o desafio da perenidade dos negócios, sem os quais não há desenvolvimento econômico e social" - Foto: Filipe Scotti

Um caso que movimentou Santa Catarina ilustra bem a questão. A companhia Engie Brasil Energia era proprietária do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, localizado em Capivari de Baixo, cuja fonte para a geração de energia é o carvão mineral. Entretanto, a empresa, de origem francesa, com base em sua política de ESG, adotou estratégia global de acelerar a transição para uma economia neutra em carbono, e esse direcionamento inclui “descarbonizar” o portfólio de ativos existentes no Brasil. Não havia espaço para Jorge Lacerda.

Uma das opções que estavam na mesa era o descomissionamento imediato, ou seja, a desativação da usina, o que causaria impacto socioeconômico brutal. O complexo termelétrico é o principal consumidor do carvão mineral catarinense, setor responsável por movimentação financeira anual de R$ 6 bilhões e por mais de 20 mil empregos. Outra opção era vender a usina, mas a continuidade da operação, mesmo que sob outra gestão, manteria a queima de carvão, anulando, na prática, o esforço de descarbonização da Engie. Como pano de fundo havia ainda a questão dos subsídios a combustíveis fósseis, como é o caso do carvão catarinense, que vai na contramão de políticas de redução de emissões.

Mais de 20 mil empregos na região sul de SC seriam afetados com a desativação do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda - Foto: Shutterstock

Colapso | Houve grande mobilização na região em favor da continuidade do projeto – trabalhadores, empresários e lideranças políticas –, todos stakeholders da Engie, a comunidade afetada pelas operações da empresa e que deve se desenvolver juntamente com a companhia, de acordo com os preceitos do ESG. A usina é responsável, por exemplo, por 20% da receita do município de Capivari de Baixo, e sua desativação provocaria um colapso nos serviços municipais, incluindo saúde e educação.

“A empresa decidiu vender o complexo, ao invés de desativar, para contemplar o ‘S’ (Social) do ESG”, explica José Lourival Magri, gerente de Meio Ambiente e Responsabilidade Social da Engie Brasil Energia e presidente da Câmara de Qualidade Ambiental da FIESC. A própria FIESC apoiou e trabalhou para viabilizar a transição, e a usina passou à gestão de um novo grupo empresarial. Ao mesmo tempo, leis foram criadas para possibilitar uma transição energética justa, que considera a regeneração de estragos causados e a mitigação dos impactos daqui para frente, até a completa desativação da usina, que ganhou sobrevida até 2040, com tempo para a reorganização econômica da região.

A solução encontrada, que pesou os diversos aspectos do ESG, demonstra que a transição para a nova economia é um processo longo, complexo e não linear. É neste contexto que especialistas alertam para o fato de que se a régua for colocada alta demais e com pouco tempo para os ajustes, obrigando empresas a cumprir centenas de indicadores, acabará por desestimular a transição para a sustentabilidade. “O ESG é como uma estrada que todos terão que pegar. Porém alguns começam a viagem mais cedo e alguns andam mais rápido do que outros. O que não pode é andar na contramão”, diz Carlos Kurtz, diretor jurídico e institucional da FIESC.

Carlos Kurtz, diretor jurídico e institucional da FIESC: "ESG está fundamentalmente ligado à ideia de fazer a coisa certa, do modo certo, pelo motivo certo" - Foto: Filipe Scotti

Casamento | Uma boa notícia é que os novos projetos, em sua maioria, contemplam os princípios da agenda desde a largada. De acordo com Magri, empreendimentos do setor de energia, por exemplo, são de longa duração, e desde já deve-se saber como ficará o território nas próximas décadas, ou o que será feito dos equipamentos após o final de seu ciclo de vida. “Empreendimentos como esses formam um casamento indissolúvel”, afirma o executivo, pois as empresas têm que participar das questões de educação, emprego, saneamento ou meio ambiente das comunidades ao longo do tempo. “Elas se tornam parte daquele cotidiano e da própria paisagem.”

Por outro lado, Santa Catarina é rica em exemplos de empresas mais antigas que estão em processo avançado de transição para o modelo de negócios baseado em ESG. Elas estão em setores como o do vestuário e dos alimentos (leia matéria subsequente), os dois maiores empregadores e PIBs industriais do Estado. Muitas indústrias já nasceram, há décadas, incorporando conceitos que hoje são associados ao ESG, ou passaram a trilhar o caminho muito antes da agenda se tornar uma obsessão global.

Caso da Ciser, indústria do setor metalmecânico de Joinville, que desde 1983 preserva 9 mil hectares de mata atlântica onde estão as principais nascentes do Rio Quiriri, que abastece a cidade. Em outras regiões de Joinville são preservados 3 mil hectares, e dentro da cidade a empresa criou o Parque Ambiental Guará, o que propiciou a volta da ave guará à região. Para mitigação de impactos da atividade industrial a Ciser recicla, trata ou refina 95% dos resíduos. Há eficientes processos para economia de energia e reaproveitamento de água, além de logística reversa. No braço imobiliário do grupo, a Hacasa, um programa garante a preservação de mesma área de mata atlântica para a área construída, com o objetivo de zerar as emissões.

Parque Guará, em Joinville, criado pela Ciser, e a ave que voltou a habitar a cidade - Foto: Divulgação / Shutterstock

Na área social, há iniciativas como o apoio financeiro a projetos sociais e culturais da região e a parceria de 15 anos com a penitenciária industrial de Joinville, da qual a Ciser é uma das maiores empregadoras. Na governança, a empresa instituiu um código de ética e conduta desde 2009. “É um ESG que eu chamo de caseiro”, diz Carlos Rodolfo Schneider, dirigente do Grupo H. Carlos Schneider. “Faz parte dos valores da empresa. Criamos isso quando o conceito não era ainda disseminado, e com certeza muitas outras empresas também o fazem”, conta o empresário, sublinhando aspectos culturais que ele entende serem predominantes no Estado.

“Santa Catarina está preparada para o ESG por causa da mentalidade do empresário. Se há um estado equilibrado do ponto de vista das regiões, das cidades, das empresas, da relação com o meio ambiente, esse estado é Santa Catarina”, diz Carlos Kurtz, da FIESC. “ESG está fundamentalmente ligado à ideia de fazer a coisa certa, do modo certo, pelo motivo certo”, afirma o diretor.

Não é de hoje

Alguns dos eventos precursores que amadureceram a agenda ESG

  • 1972

    Conferência de Estocolmo: primeiro evento da ONU para tratar das questões relativas ao crescimento econômico e à degradação do meio ambiente.

  • 1987

    Relatório Brundtland define o conceito de desenvolvimento sustentável: é o que contempla as necessidades atuais sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atenderem suas próprias necessidades.

    Protocolo de Montreal: atenta para a destruição da camada de ozônio.

  • 1994

    Disseminado o conceito de Triple Bottom Line: negócios passam a considerar a performance ambiental e social da companhia, além da financeira.

  • 2004

    Termo ESG aparece no documento Who Cares Wins, da ONU e do Banco Mundial, dirigido aos presidentes das maiores instituições financeiras do mundo.

  • 2015

    ONU lança os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): agenda global com objetivos e metas para até 2030 erradicar a pobreza, proteger o meio ambiente e promover a paz.

    Acordo de Paris: tratado mundial com o objetivo de reduzir o aquecimento global, assinado por 189 países.

  • 2016

    A partir deste ano o fundo trilionário BlackRock estabelece critérios cada vez mais rígidos em ESG: para direcionar seus investimentos e influenciar o mercado.

  • 2020

    Pandemia da Covid 19: estima-se que a crise acelerou em cerca de 10 anos a chamada agenda ESG.

Oportunidades da nova economia

Propostas sólidas de ESG podem criar valor de várias formas para as empresas.

Foto: Shutterstock

Quando se fala em ESG, nova economia e cumprimento de exigências de mercado ou de legislações mais rígidas, muitos empresários demonstram preocupação quanto aos impactos sobre os negócios – especialmente custos imediatos. O outro lado da moeda é retorno de longo prazo, representado pela própria sobrevivência. Entre um e outro polo de expectativas, especialistas buscam estimar o potencial da nova economia.

Parece não haver dúvidas de que seu principal motor é a descarbonização, ou a transição energética de fontes poluentes para fontes limpas. Estima-se que a migração para o mercado de baixo carbono pode injetar R$ 2,8 trilhões na economia brasileira desde agora até 2030. Outra oportunidade de ouro é o mercado de créditos de carbono, pois o Brasil é tido como um dos países com maior potencial de venda de créditos gerados a partir de reduções de emissões de gases de efeito estufa. A depender do modo que o mercado seja regulamentado internacionalmente, receitas de cerca de US$ 100 bilhões podem ser geradas no País até 2030.

Gestores se debruçam sobre as formas com que a adoção de critérios ESG se associa à criação de valor para as empresas. Um dos trabalhos mais relevantes foi desenvolvido por sócios da consultoria McKinsey e publicado em artigo (*). A conclusão é de que o ESG se relaciona com o fluxo de caixa de cinco maneiras:

  1. Crescimento de receita: proposta sólida de ESG ajuda empresas a explorar novos mercados e expandir os atuais, por meio de aprovações e licenças que ofereçam novas oportunidades de negócios, por exemplo; também pode atrair a preferência dos consumidores;
  2. Redução de custos: menores gastos com matérias-primas, água ou energia;
  3. Redução de intervenções regulatórias e legais: práticas ESG aliviam a pressão regulatória e reduzem riscos de ações adversas por parte do Governo, conferindo maior liberdade estratégica às empresas;
  4. Elevação da produtividade: a satisfação dos trabalhadores é relacionada ao retorno aos acionistas, e empresas com impacto social positivo e propósitos podem ter mais facilidade em atrair e reter profissionais qualificados;
  5. Otimização de ativos e investimentos: melhor retorno graças à alocação de capital em oportunidades mais promissoras e sustentáveis, como recursos renováveis e redução de desperdício.

“Uma avaliação honesta das práticas ESG inclui um franco reconhecimento de que não entender essas áreas pode resultar em grande destruição de valor”, escrevem os autores. “As empresas que têm baixa performance nos critérios ambiental, social e de governança têm maior probabilidade de ter que passar por eventos altamente adversos.” Eis uma boa síntese da chamada nova economia, e os riscos a que está exposto quem não tiver capacidade de entendê-la.

(*) Práticas ESG podem criar valor de cinco formas; Artigo, autores: Witold Henisz, Tim Koller e Robin Nuttall.

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