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Empresa boa que dá gosto

Entre 2017 e 2020 o Grupo Duas Rodas, de Jaraguá do Sul, fabricante de ingredientes para a indústria de alimentos, dobrou o faturamento, que chegou a R$ 1 bilhão. De lá para cá acelerou ainda mais o passo para alcançar este ano a receita de R$ 1,5 bilhão. E seguirá em expansão, principalmente no exterior, com exportações e a aquisição de fábricas nos EUA e Europa – já possui quatro unidades na América Latina, além de três no Brasil. Fundada em 1925, a maior casa de aromas do Brasil se renova constantemente com base em inovações e laços estratégicos com os clientes, conforme relata o presidente Leonardo Fausto Zipf.

Leonardo Fausto Zipf: “A expansão atual é uma construção que vem sendo conduzida por gerações, que aportaram o conhecimento que nos dá a base para crescer” - Foto: Divulgação

Qual é a receita para uma empresa de quase 100 anos e com controle familiar se manter relevante e em crescimento?
A receita da perpetuidade foi não desconectar uma geração e conectar a outra geração, mas dar sequência ao trabalho bem definido de propósitos, com fortalecimento de valores e um cuidado muito grande na execução. Somos extremamente aplicados na execução de nossos planejamentos estratégicos, e isso ao longo de nossos 96 anos. Somos uma das poucas empresas que tem BSC (Balanced scorecard) do planejamento estratégico, com acompanhamento quase semanal das ações para verificar se elas estão contribuindo para o crescimento ou não. A expansão atual é uma construção que vem sendo conduzida por gerações, que aportaram o conhecimento que nos dá a base para crescer. A empresa é familiar, mas sempre soube separar gestão da propriedade para poder construir com grandiosidade seus projetos integrando interesses do corpo societário.

O setor de alimentos acompanha a variação do PIB, mas a Duas Rodas cresce muito mais. Como está ganhando share?
Houve aproximação maior com os clientes. Em 2019, antes da pandemia, recebemos 5 mil clientes na empresa. Nós apertávamos a mão deles e perguntávamos o que podíamos fazer para melhorar o relacionamento, o que podíamos agregar ao negócio, buscando aproximação com a visão estratégica deles. Isso faz com que a gente se posicione não apenas como empresa de ingredientes para a indústria de alimentos, mas como empresa com expertise de mercado que consegue visualizar oportunidades que vêm junto com o produto que ele comercializa. Aliás, quando negociamos com o cliente pouco falamos sobre o aroma em si, mas para onde ele está olhando e para onde o cliente dele está olhando. Temos bancos de dados que nos permitem visualizar todo o varejo mundial para criar e personalizar conceitos para os clientes.

Nesse contexto, como é o processo de inovação na companhia?
Trabalhamos em três frentes. Com inovação incremental, dentro de demanda de mercado existente e às vezes demandada pelo próprio cliente. Temos a inovação disruptiva, que oferecemos ao cliente. Pode ser algo que estará no portfólio dele daqui a 10 anos, mas é importante que ele visualize que tem capacidade de construir esse produto inovador para atender demanda de futuro. E temos um trabalho que não é usual. Perguntamos aos clientes quais os equipamentos que eles têm ociosos e desenvolvemos projetos para ocupar essa capacidade produtiva. Assim ele pode aumentar o portfólio de produtos sem investir muito no capex. Estamos aprimorando o mapeamento dessas capacidades disponíveis e apresentando soluções. Com essas ações, 22% do nosso faturamento vem de produtos desenvolvidos nos últimos três anos, e 12% no último ano.

A Duas Rodas cresce ainda mais rápido no exterior do que no mercado interno. Como isso está acontecendo?
Hoje o mercado internacional representa 26% do faturamento global, considerando exportações e produção no exterior (a empresa tem unidades industriais na Argentina, Chile, Colômbia e México). A intenção é que até 2024 represente 50%. Criamos um grupo de produtos que está fazendo muito sucesso na Ásia, Estados Unidos e Europa, as superfrutas. São extratos de frutas como acerola, açaí e guaraná, e também mate verde, que trazem o conceito de latinidade para contextualizar a importância de se usar frutas regionais como ingredientes de suplementos em países que já possuem legislação específica para alimentos funcionais.

O que é feito, por exemplo, com a acerola?
É uma fruta que tem muita vitamina C. Nós potencializamos o percentual, fizemos (extrato botânico) com concentração de 17% e até 30%. O extrato é usado como ingrediente para produto funcional – por exemplo, uma bebida cujo copo equivale a cinco laranjas em vitaminas. É, portanto, a base de um produto “turbinado”. Só há três empresas no mundo que fazem isso, e somos uma delas. Criamos plataformas agrícolas no Brasil e estamos exportando tecnologia. O Brasil não pode ser apenas vendedor de commodities agrícolas, tem que agregar tecnologia. O nível tecnológico de nossos produtos evoluiu tanto que a percepção de valor está acontecendo mais nos países desenvolvidos. Começa a ser mais fácil entrar nesses mercados do que nos mercados em que estamos na América Latina.

A empresa também atua no setor primário?
Temos parcerias com agricultores. Compramos toda a produção, damos assistência técnica e auxiliamos na captação de recursos financeiros. No caso da acerola, por exemplo, processamos o produto na unidade de Estância (SE), onde estamos construindo uma nova planta, e exportamos. A empresa até tem fazendas próprias onde ainda cultiva especialidades como a catuaba, que é muito difícil de encontrar. Temos muito conhecimento agrícola, está no DNA da empresa. Os fundadores (Hildegard e Rudolph Hufenüssler) trouxeram um destilador da Alemanha, compraram um pedaço de terra e começaram a produzir extrato de óleo essencial de tangerina.

Além das exportações, a expansão internacional inclui aumentar a produção no exterior?
Sim, temos a intenção de realizar três aquisições industriais. Uma delas no Brasil; as outras nos Estados Unidos e na Alemanha, que estão em processo de análise. Não estamos comprando essas empresas para trazer tecnologia, isso já temos. Estamos comprando para trazer grupos de clientes. Temos que aportar a esses clientes lá fora os produtos que temos internamente. Conseguiríamos chegar até esses clientes de qualquer jeito, mas assim damos mais velocidade ao processo.

Haverá expansão em Santa Catarina?
Não há grandes projetos de ampliação industrial no Estado, mas aqui é o ponto forte de nossa inteligência, o nosso innovation center está em Santa Catarina. Nosso roadmap tecnológico é construído utilizando o potencial da região. O nível de contratação de mão de obra altamente especializada estará bastante ativo para os novos projetos.

Uma abertura de capital está nos planos para sustentar o crescimento?
A Duas Rodas tem um projeto bastante audacioso e não podemos limitar o crescimento à estrutura de capital que temos hoje, temos que buscar alternativas. Acho muito difícil uma empresa seguir com longevidade em processo de crescimento vigoroso sem pensar na possibilidade de IPO (oferta pública inicial de ações) ou parcerias estratégicas. Estamos preparados. Somos um relógio suíço em todos os indicadores que possam dar consistência à IPO no futuro, e também somos grandes geradores de Ebitda (geração de caixa). Analisamos essas possibilidades, mas tem que ter o momento certo. Não existe coisa pior do que errar o timing.

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