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Fonte limpa e renovável, a energia eólica tem peso crescente na matriz energética brasileira. Ainda há, porém, uma gigantesca fronteira a ser desbravada: o alto-mar. A geração offshore apresenta vantagens em relação aos projetos desenvolvidos em terra firme. Um deles é a maior velocidade e constância dos ventos, que não encontram barreiras no meio do oceano. Nessas regiões também é possível instalar geradores muito maiores do que os convencionais.
Em setembro a Petrobras protocolou 10 pedidos de licenciamento ambiental junto ao Ibama para a instalação de seus primeiros parques eólicos offshore em diversos estados, com capacidade somada de 23 gigawatts. O sucesso da empreitada está vinculado a uma tecnologia criada em parceria com o Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados (ISI-SE), sediado em Florianópolis, e com o ISI em Energias Renováveis, instalado no Rio Grande do Norte. Trata-se do projeto Bravo (Boia Remota de Avaliação de Ventos Offshore), que é desenvolvido desde 2021 com recursos do programa de P&D do setor de energia elétrica da Aneel. Os investimentos no projeto chegam a R$ 11,3 milhões.
Um fator decisivo para o sucesso de um parque eólico é o conhecimento do potencial energético. Ao se prospectar uma região é necessário aferir a velocidade e a direção dos ventos e outras variáveis meteorológicas, como pressão atmosférica e temperatura, além de correntes marítimas e ondas. A tomada de decisão de investimentos depende de dados de alta confiabilidade obtidos em medições reais, e não em simulações.
Alguns dos dados são captados por meio de sensores ópticos que utilizam feixes de laser para medir direção e velocidade dos ventos em alturas compatíveis com as dos geradores, que podem ter mais de 200 metros de altura. A Petrobras já realiza este tipo de medição com sensores instalados em plataformas fixas. Com a nova boia as medições poderão ser feitas remotamente, ampliando as áreas de prospecção.
Foto: Mateus Filipe / SENAI
Instável | Além de contar com diversos sensores, a Bravo é equipada com painéis solares e um aerogerador, o que lhe dá autonomia energética e capacidade de operar em regiões remotas. Os dados são captados de forma automatizada e transmitidos para um servidor em nuvem, por meio de comunicação satelital. Um dos principais desafios do projeto é utilizar sensores ópticos a laser em uma plataforma instável, em constante movimento devido às ondulações e ao vento. O sistema é validado com base na comparação de dados obtidos por sensores instalados em base fixa. Os testes de campo começaram no final do ano passado, e uma nova versão da boia entrou em testes na segunda quinzena de outubro.
Hoje não há disponibilidade de equipamento para realizar essas tarefas no Brasil, tampouco janelas próximas para a prestação de serviços por companhias estrangeiras, o que compromete o desenvolvimento do setor. “Com o projeto vamos nacionalizar a tecnologia, podendo oferecer um serviço mais barato e com disponibilidade que atenda a indústria nacional de geração eólica”, afirma Renato Simão, coordenador de Inovação do ISI em Sistemas Embarcados.
De acordo com a Petrobras, a boia poderá representar uma redução de custos de 40% em relação à contratação do serviço no exterior. Ao desenvolver um equipamento validado com critérios de aceitação internacional, o SENAI se qualificará para a prestação de serviços de medição de recursos eólicos offshore.