Currículos defasados, baixa taxa de conclusão e falta de alinhamento com a indústria motivam projeto nacional para formar profissionais capacitados, e UniSENAI/SC é referência.

Engenheiros e indústria são como unha e carne: inseparáveis. Não dá para imaginar uma empresa do setor que prescinda de engenheiros para exercer funções técnicas, inovar, gerir ou, de forma mais genérica, resolver problemas. Deles se esperam resultados que podem ser medidos em produtividade e qualidade, o ‘santo graal’ de qualquer indústria. Porém, pode-se dizer que a relação está abalada. Há um sentimento generalizado de que a maioria dos engenheiros recém-formados chega ao mercado distante da realidade da indústria, frustrando as expectativas do setor. Além da qualidade deficiente, a quantidade de engenheiros que se formam é insuficiente.

As constatações são compartilhadas no próprio meio profissional. Tanto que a Academia Nacional de Engenharia (ANE) está desenvolvendo uma ação para tentar reverter o quadro. Um grupo de trabalho foi criado com o propósito de dinamizar o ensino de engenharia no Brasil, estabelecendo proposições de boas práticas para a formação profissional consolidadas em uma base de informações que possa ser compartilhada pelas universidades, além de elaborar um plano nacional de reestruturação das escolas de engenharia.

A iniciativa tem à frente engenheiros catarinenses ou ligados ao Estado, dentre eles José Fernando Faraco, ex-presidente da FIESC, Ernesto Heinzelmann, ex-presidente da Embraco, e Álvaro Toubes Prata, ex-reitor da UFSC, além do presidente da ANE, Mário Menel, que foi diretor da Celesc. “O engenheiro é um agente central para o aumento da produtividade, que é um dos maiores desafios do Brasil. Precisamos de engenheiros competentes, capazes de resolver problemas reais dentro das empresas”, afirma Carlos Alberto Schneider, criador da Fundação Certi em Florianópolis e coordenador do grupo de trabalho da ANE.

A fotografia atual da engenharia no Brasil de fato não é bonita. Atualmente o número de graduados em engenharia no Brasil é de 19 para cada 100 mil habitantes, proporção que é algo entre 15 e 20 vezes menor do que em países como Ucrânia, Rússia, Coreia do Sul e Irã (veja o quadro). Mesmo em Santa Catarina, onde alguns cursos como a engenharia mecânica da UFSC se tornaram referenciais nacionais, a disputa por vagas despencou nos últimos anos, e dos alunos que entram apenas 36% se formam. 

Dentre as causas da decadência quantitativa e qualitativa da engenharia brasileira, Schneider cita fatores como currículos ultrapassados e pouco práticos, burocráticos e com excesso de teoria, e gestão universitária deficiente, com pouco incentivo ao mérito e resistência a práticas modernas de ensino. “Além disso, no ensino fundamental e médio há falhas graves na formação em matemática, física e inglês, o que se reflete na redução da procura por cursos de engenharia ou em dificuldades para os estudantes concluírem sua formação”, diz Schneider.

“Esse descompasso gera um ciclo vicioso”, complementa o engenheiro Fabrízio Pereira, diretor regional do SENAI/SC e reitor do UniSENAI/SC, parceiro da ANE na iniciativa. “As empresas têm dificuldade em encontrar profissionais aptos a enfrentar os desafios do dia a dia e as universidades, muitas vezes, não conseguem alinhar seus currículos às demandas reais do mercado”, diz Pereira, que afirma haver demanda reprimida por engenheiros para trabalhar em automação, digitalização, sustentabilidade e integração de tecnologias, mas a indústria não encontra esse perfil na maioria dos recém-formados.

Um dos pilares do projeto da ANE é a articulação com universidades catarinenses para testar novas metodologias de ensino que posteriormente servirão de referência no Brasil – Santa Catarina foi escolhida por já contar com um ecossistema maduro de interação entre universidades e indústrias. Além do UniSENAI, são parceiras no projeto UFSC, Udesc e Católica SC. A proposta pedagógica diferenciada do UniSENAI é uma das principais referências que poderão ser adotadas, no futuro, por outras instituições. “Ela é construída a partir de um diagnóstico preciso das necessidades da indústria”, diz Pereira.

IndTechs | As chamadas metodologias ativas estão entre os destaques do UniSENAI, como o PBL (Project-Based Learned) e cocriação com a indústria, que colocam o estudante em contato com problemas reais desde o início do curso. Os currículos são elaborados em parceria com empresas como Bosch, Tupy, WEG e Portobello, que acompanham e avaliam os projetos dos alunos. “A metodologia permite que os estudantes desenvolvam pensamento crítico, capacidade de inovação e habilidade de trabalhar em equipe, competências essenciais para os engenheiros do século 21”, afirma Cleunisse Rauen Canto, pró-reitora de graduação do UniSENAI/SC.

Além disso, por meio da integração com os Institutos SENAI de Inovação e Tecnologia, os alunos têm acesso a laboratórios de ponta e participam de projetos avançados em áreas como robótica, inteligência artificial, bioeconomia e manufatura avançada. Há incentivo para a criação de startups (IndTechs) ligadas à indústria e ao intraempreendedorismo, o que permite a formação de engenheiros também com perfil de gestores. A internacionalização é outra trilha aberta nas engenharias, com a oferta de dupla certificação com instituição norte-americana, ampliando a qualificação e a competitividade global dos egressos.

O resultado é uma taxa de empregabilidade superior a 90% entre os engenheiros formados pelo UniSENAI catarinense, a maior parte deles absorvida pela indústria. Certamente é o que mais próximo há no mercado do conceito de “engenheiro de excelência” que está sendo elaborado pela ANE para nortear a sua ação. A definição ainda não está completa, mas certamente passa por profissionais reconhecidos pela indústria como solucionadores de problemas, preparados para aplicar conhecimentos de forma prática e elevar a produtividade do setor. “Não é apenas quantidade que importa, mas a formação de quadros capazes de gerar valor imediato e sustentável para a competitividade do País”, diz Carlos Alberto Schneider.

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