Villa Francioni - Foto: Divulgação
Com um preço de gôndola que fica, na maioria dos rótulos, entre R$ 80 e R$ 200, a indústria de vinhos finos de Santa Catarina ainda é muito jovem, e compete com produtos de países com sólida reputação e valores muito agressivos, como Argentina, Chile, França, Portugal e Itália. Mas o cenário já foi mais difícil, afirma o especialista João Lombardo. Para ele o brasileiro bebe cada vez mais vinhos nacionais graças ao crescimento da oferta e da qualidade, além do incentivo gerado pelo enoturismo. “A venda de espumantes nacionais é superior à dos importados, e o consumo continua crescendo. Mas, claro, ainda existe o preconceito por parte de muitos consumidores”, pondera Lombardo.
Para quebrar o preconceito seria preciso investir em marketing para divulgar a qualidade da produção catarinense e conquistar novos canais de comercialização, de acordo com o especialista. No entanto, a maioria das vinícolas de altitude prefere escoar seus produtos em lojas especializadas, restaurantes e hotéis, além de vendas diretas ao consumidor, in loco ou via e-commerce. Salvo exceções, supermercados não são alvo das vinícolas. “Durante a pandemia, com o fechamento de lojas e restaurantes, a presença em supermercados se tornou um ponto de sustentação da vinícola. Mas nunca foi nosso foco, e hoje fazemos um movimento reverso”, afirma Daniela Borges de Freitas, que ao lado dos irmãos André Marcello e Adriana administra a Villa Francioni, em São Joaquim.
Daniela, André Marcello e Adriana Freitas, da Villa Francioni: pioneirismo - Foto: Divulgação
A vinícola foi a primeira a ser fundada na Serra Catarinense, em 2001. Seu fundador, o industrial Dilor Freitas, buscava uma propriedade na região para aproveitar a aposentadoria. Quando soube dos estudos de potencial para a vitivinicultura, resolveu construir uma propriedade com capacidade de produzir 300 mil garrafas por ano. Dilor faleceu em agosto de 2004, meses após a primeira colheita nos vinhedos da Villa Francioni. Os filhos então tornaram a empresa um dos ícones do setor em Santa Catarina.
“Investimos muito em marketing, trazendo jornalistas e chefs de São Paulo para conhecer os produtos. Mas a penetração comercial foi muito difícil até conquistarmos credibilidade”, recorda Daniela. Hoje, a carga tributária e o fato de vários insumos, como rolhas e garrafas, serem importados, aliados a uma produção relativamente baixa, na casa dos 100 mil litros por mês, diminuem a competitividade. “Quando a pessoa descobre que nossa colheita é manual, que só usamos uvas e mais nada, ela entende que um importado do mesmo valor pode não ter a mesma qualidade”, diz Daniela.
Neto de Dilor Freitas, Abner Zeus Freitas, da Vinícola Thera, revela que, nos primeiros anos de vendas dos vinhos da empresa – tocada em sociedade com o pai, João Paulo, irmão de Daniela Freitas –, as tentativas de venda para prospects eram complicadas: “Tínhamos de implorar para as pessoas provarem nosso vinho. Quando a gente falava que era nacional, alguns viravam a cara. Hoje restaurantes e lojas nos procuram para incluir nossos vinhos nos portfólios. Isso é reflexo de uma mudança de costumes, e também do salto de qualidade dos produtos brasileiros”, conta Abner.
Família Panceri: redução de custos e vinhos finos a preços competitivos - Foto: Divulgação
Sucos | Outra forma de conquistar mercado é através do ganho de produtividade e da diminuição de custos. Fundada em 1990 em Tangará, no Meio Oeste, por uma família de viticultores, a Vinícola Panceri começou a trabalhar com vinhos finos a partir dos anos 2000. Até hoje segue produzindo vinhos de mesa e sucos, responsáveis por 50% do faturamento da empresa. Mas todo o marketing é dedicado aos vinhos finos, que já ganharam premiações com vinhos como o Panceri Barbera, medalha de ouro no Wines of Brazil Awards. “Já pensamos em abandonar os vinhos de mesa, pois há também um preconceito no meio em relação a este tipo de produto. Mas eles ainda sustentam boa parte do negócio. Um ponto importante é que vinho de mesa não sofre com o descaminho, e temos uma boa reputação com a qualidade do nosso produto”, afirma Celso Panceri, o fundador da empresa que hoje divide a sociedade com as filhas Estefânia e Emanoela.
Com produção em torno de 100 mil litros de vinhos finos por ano, a vinícola também aposta em uma linha de entrada, com preços competitivos (no site há rótulos na faixa de R$ 40) e distribuição para mercados de toda a região. “Estamos sempre buscando reduzir custos para nos tornarmos mais competitivos, buscando variedades mais produtivas e que não exijam passagem por barricas de carvalho, diminuindo custos de armazenamento e envelhecimento, sempre com o máximo de excelência”, explica Estefânia Panceri.
Produto da Panceri - Foto: Divulgação
Drones | A Villaggio Grando, uma das primeiras vinícolas de altitude de Santa Catarina, localizada em Água Doce, no Meio Oeste, também trabalha para aumentar a produtividade dos 31 hectares de vinhedos da propriedade. “Estamos investindo em tecnologia no campo, nosso grande gargalo, para automatizar os processos, aumentando a qualidade e diminuindo a necessidade de mão de obra, cada vez mais escassa”, diz o fundador Guilherme Grando. Em janeiro, a vinícola começou a usar drones para pulverizar as videiras. A expectativa é aumentar a produtividade de 4 para 6 toneladas por hectare. “Mais do que isso você já começa a prejudicar a qualidade dos frutos”, explica.