O ESG, sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa (Environmental, Social and Governance), é uma mudança cultural e estratégica que veio para ficar – pelo menos dentro de companhias que almejam crescimento e perenidade. Há cerca de dois anos, o Instituto SENAI de Tecnologia (IST) em Excelência Operacional, de Joinville, desenvolveu um novo produto para auxiliar indústrias em suas jornadas de transformação. Trata-se de um roadmap que inclui um diagnóstico do status de maturidade, a escuta ativa de todos os stakeholders, a elaboração de planos de ação e a entrega de um Relatório de Sustentabilidade para comprovar a evolução dentro dos três eixos.
“O propósito é produzir lastro de informações essenciais para investimentos e investidores, baseado em compromissos ESG assumidos pelos nossos clientes, de forma evidenciada, gerando contrapartidas para aquisição de créditos verdes, posicionamento de marca com diferenciais, e ainda benefícios à sociedade”, afirma o consultor sênior do IST, André Teixeira de Oliveira. A expertise do Instituto em temas como compliance, lean manufacturing e ISO 9001 embasou a criação da metodologia que já está transformando dezenas de indústrias.
A Master, com sede em Videira, voltada à produção de proteína suína, é uma delas. Dona da marca Sulita, com faturamento na casa de R$ 1 bilhão, a companhia teve cerca de um terço dos negócios adquiridos em 2023 pelo grupo espanhol Vall Companys. O novo sócio trouxe investimentos e novos negócios. Desde então, a empresa passou a atender uma parcela significativa do mercado de carne suína do Japão – um dos clientes mais exigentes do planeta. Para se consolidar neste mercado é preciso estar com as práticas ESG em dia.
A Master já trabalhava a questão do bem-estar animal em sua linha de produção, verticalizada desde a inseminação artificial até o abate, e de boas práticas com os parceiros produtores rurais e colaboradores. A principal ação provocada pela parceria com o IST, segundo a gerente de Operações do RH da empresa, Cristiane Andreola, foi a constituição de um comitê interno para integralizar todas as ações e elaborar novas propostas.
“Precisávamos de uma dinâmica que permitisse cascatear essa mudança cultural, estratégica, para todos os setores e unidades da empresa. O comitê criou um canal formal para dar voz aos stakeholders, formando uma rede de contatos com a comunidade e órgãos públicos da região onde atuamos”, explica Andreola. O comitê é formado por colaboradores especialistas de cada eixo, além de representantes de cada área dentro da Master. “Ele tem feito discussões e propostas de grande relevância, gerando empatia entre os diferentes setores e um olhar muito mais amplo sobre o negócio”, conclui a gestora.
Localizada em Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí, a Hergen é uma fabricante de equipamentos para a indústria de papel e celulose – uma das mais visadas por ambientalistas devido ao alto consumo de água, energia e árvores. Em busca de melhor posicionamento no mercado, os gestores perceberam que uma parte do caminho já havia sido feita. “A Hergen sempre entregou soluções de tecnologia para reduzir impactos, proporcionando mais eficiência energética e hídrica. Já fazíamos, mas não tratávamos como ESG”, conta Wagner Cavalett, gestor de Marketing e Comunicação da empresa.
A companhia procurou o IST para elaborar um diagnóstico e averiguar o nível de maturidade em relação ao ESG. A conclusão foi de que muita coisa já era feita, porém de forma não integrada. Desde então houve um salto de maturidade. Foram definidos 17 temas para serem trabalhados e surgiram 44 propostas de ações que passaram a trabalhar as práticas ESG em nível gerencial. O próximo desafio é incutir a mudança cultural no planejamento estratégico.
No caso da Inplac, indústria plástica de Biguaçu, o desafio era criar procedimentos para que o investimento social já realizado pudesse gerar cada vez mais impacto nas comunidades do entorno da companhia. A empresa já fazia doações para uma série de projetos sociais, como o Instituto Guga Kuerten, oferecia uma escola infantil para a comunidade e subsídios para a educação do quadro interno. Também buscava reaproveitar matérias-primas e dar a destinação adequada aos resíduos da produção de embalagens valvuladas, nicho de mercado liderado pela Inplac na América Latina.
Faltava, porém, estruturar e evidenciar todas as práticas, tanto para os clientes como para os munícipes. O trabalho com o IST iniciado em 2023 passou a organizar as políticas ESG, que foram separadas em dois eixos: investimento social privado e responsabilidade socioambiental. “As pessoas não sabiam de tudo o que a empresa fazia, especialmente na parte social, do bem-estar da comunidade”, diz Sávio Alves de Oliveira, gerente administrativo da Inplac.
Com a estruturação e documentação das práticas, a empresa monitora com mais minúcia os investimentos em ações sociais, trazendo indicadores mais confiáveis de retorno e resultados. O trabalho também fez com que a empresa voltasse a ser signatária do Pacto Global da ONU, composto por 10 princípios universais nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção.
Dimensões do ESG
Fatores que são organizados pela metodologia do IST.
Ambientais | Fatores relacionados aos impactos da empresa no meio ambiente, como emissões, eficiência energética e utilização de recursos naturais
Sociais | Relações da empresa com colaboradores, clientes e sociedade, abarcando temas como respeito aos direitos humanos, diversidade e redução de desigualdades.
Governança | Atuação no interesse dos acionistas em longo prazo, promovendo práticas contábeis transparentes e prevenção de práticas ilegais, dentre outras.