A economia de Santa Catarina vem mostrando um crescimento acima da média nacional desde a recessão de 2014. Este bom resultado não é gratuito e reflete a força do agronegócio no Estado e a resiliência de seu mercado consumidor.
O Estado faz parte da história de sucesso dos setores ligados a commodities dos últimos anos. Além de milho e soja, a região é um destaque nacional na produção de proteínas. Mais importante, o complexo de carnes é integrado com a indústria de alimentos.
Por isso, o setor industrial mostra dinamismo e faz com que a participação da indústria no PIB esteja acima do padrão nacional. Vestuário, têxtil, maquinário, couro e móveis compõem um perfil diversificado e competitivo da indústria do Estado.
Esta estrutura produtiva reflete também o fato de a dinâmica econômica regional ser liderada pelo setor privado e marcada por uma forte cultura empresarial. Mesmo com um menor peso na economia, no entanto, vale notar que o setor público tem apresentado contas relativamente bem arruado.
Como resultado, os níveis de desemprego são historicamente mais baixos que os nacionais, o que favorece a renda e permite patamares menores de inadimplência. Não por outro motivo, crédito e renda ajudam a sustentar bons números no consumo e nos serviços.
O Estado tem desafios importantes à frente. Além da crônica escassez de mão de obra e infraestrutura, o cenário global é de desaceleração, o que implica a manutenção de uma tendência de queda de preços de matérias-primas.
De fato, os custos de crédito seguem em alta na Europa e, principalmente, nos Estados Unidos, cujo desafio de controlar a inflação se mantém elevado. Ao mesmo tempo, a economia chinesa tem menor fôlego com os ajustes no mercado imobiliário, menor oferta de mão de obra e tensões geopolíticas, afetando a confiança de empresários e consumidores.
Por outro lado, no entanto, a estrutura econômica do Estado permite resistir melhor aos choques. Dado o ambiente global desinflacionário, o IPCA deve se estabilizar na casa de 4,0%, o que abre espaço para a continuidade dos cortes das taxas de juros.
Os choques externos e as preocupações crescentes com as contas públicas locais atrapalham, mas não impedem um ciclo favorável no crédito. Isso porque a queda dos juros e o aumento da renda gerado por um mercado de trabalho aquecido e por programas sociais do governo trazem alívio financeiro e controle da inadimplência.
Com crédito e renda, a confiança sustenta níveis historicamente elevados e permite a aceleração do consumo, compensando parte do impacto negativo sobre o crescimento gerado pela queda da produção agrícola e pela desaceleração da economia internacional.
Mesmo com um cenário global adverso, portanto, o mercado consumidor regional deverá ser a grande notícia dos próximos meses e manter Santa Catarina como um destaque nacional.
Carlos Lopes e Roberto Padovani, economistas do banco BV.
18 de abril 2024