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A vez da quarta geração

Após mais de 50 anos à frente da empresa, Rui Altenburg conduz processo de sucessão mantendo a família no comando da companhia centenária - por Maurício Oliveira.

Rui Altenburg - Foto: Divulgação

A lembrança mais antiga de Rui Altenburg, 73 anos, é estar numa cadeirinha de bebê, aos pés da mãe, brincando com pedaços de tecidos e espumas. Essa ligação visceral e profunda com o negócio familiar o levou a lidar naturalmente com a missão de assumir o comando dos negócios com apenas 20 anos, em 1970. “Jamais cogitei trabalhar em outro lugar que não fosse a Altenburg. Sempre vi a empresa como algo que vai muito além do aspecto econômico, pois impacta a vida de milhares de pessoas”, descreve.

Após mais de cinco décadas à frente da empresa, Rui está concluindo o processo de sucessão. Seu filho Tiago, 37 anos, é o novo protagonista da saga iniciada há exatos 100 anos – a Altenburg foi fundada em 1922 pela avó de Rui, Johanna. Formado em Engenharia Industrial Têxtil pelo Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (SENAI-Cetiqt) do Rio de Janeiro, Tiago já atua há 15 anos na organização – desde que assumiu a área de Projetos, em 2007.

Além do acompanhamento essencial de Rui, que continuará atuante como presidente do Conselho de Administração, o líder da quarta geração contará com o apoio próximo dos irmãos. Danielle, 40 anos, a primogênita, estudou gestão de marcas e moda na Itália e esteve à frente do projeto de ampliar a rede de lojas da Altenburg. Já o caçula Gabriel, 34 anos, passou por vários setores como trainee e atualmente cuida do programa “Bem Mais Sustentável”, que gerencia as iniciativas de sustentabilidade e bem-estar da empresa.

Em certo momento, quando os filhos de Rui ainda eram muito jovens, a empresa chegou a ensaiar a contratação de um executivo do mercado para o cargo de CEO. Prospectou possibilidades, mas concluiu que o processo levaria a uma indesejável descaracterização da cultura. A aposta se voltou, então, para que Tiago se tornasse o “continuador”, como Rui gosta de dizer.

O marco zero do processo de sucessão foi a implantação da estrutura de governança corporativa, em 2010, que incluiu a consolidação do conselho consultivo, da estrutura patrimonial e do acordo de sócios. “Eu havia perdido dois amigos em acidentes e comecei a pensar no que seria da companhia se algo acontecesse comigo”, recorda Rui.

Ao longo da última década, já com a participação direta de Tiago e dos irmãos, a Altenburg deixou de ser somente uma indústria para atuar também no varejo. Atualmente são 14 lojas próprias e a marca está presente em mais de 10 mil pontos de venda espalhados por todos os estados brasileiros.

Parque fabril em Blumenau: líder na produção de travesseiros - Foto: Daniel Zimmermann

Assim como ocorreu com o próprio Rui ao assumir a empresa, Tiago tem planos bem delineados para cumprir, que incluem a ampliação da rede de lojas e do e-commerce, além da maior internacionalização da marca. Hoje os produtos da Altenburg já chegam a 30 países, mas 90% do volume de exportações está concentrado na América Latina.

Rui é o grande exemplo para os filhos, da mesma forma que ele aprendeu muito com os pais, Arno e Anna. O casal assumiu o negócio em 1944 e, durante os 25 anos seguintes, empenhou-se em consolidar e ampliar o legado recebido. Responsável pelas áreas de criação e produção, Anna abria a fábrica às cinco da manhã. “Minha mãe cuidava da empresa, dos filhos e da casa. Apesar desse excesso de atribuições, fazia tudo bem feito. Era exigente e passou essa característica para a Altenburg e para os filhos”, descreve Rui. Já Arno, responsável pela parte comercial, vivia em constante movimento. “Aprendi muito com ele sobre a arte de negociar e a importância de manter a curiosidade e a ambição por novidades. Meu pai estava sempre viajando em busca de melhores preços, matérias-primas e maquinários.”

Quando Rui assumiu o comando da empresa, Arno e Anna haviam feito investimentos consideráveis na ampliação e renovação do parque fabril e a Altenburg havia acabado de inaugurar a primeira loja própria, anexa à fábrica. Ele se viu diante do desafio de materializar o crescimento que os pais haviam vislumbrado – e se dedicou de corpo e alma à missão. “Um pensamento que sempre compartilhei com minha família e com meus colaboradores é que precisamos ser criativos, insistentes e persistentes. Estagnação e medo de dar novos passos não nos fazem sair do lugar, da nossa zona de conforto.”

Parque fabril em Blumenau: líder na produção de travesseiros - Foto: Daniel Zimmermann

Lã de carneiro | Uma das grandes lições da trajetória da Altenburg é justamente a capacidade de transformar adversidades em oportunidades. Foi assim que a empresa nasceu. Precisando de uma fonte de renda para sustentar a família, a viúva Johanna Altenburg começou a costurar acolchoados em casa. A qualidade dos produtos, feitos de algodão, lã de carneiro e penas, conquistou a vizinhança. Com o boca a boca, logo começaram a chegar encomendas de outras partes de Blumenau e de toda a região.

Empreendedora, Johanna buscou formas de responder à demanda crescente e transformar a fabriqueta artesanal em um negócio consistente. Como a procura por acolchoados era sazonal, excessivamente concentrada no inverno, logo veio a ideia de diversificar a linha com produtos de uso regular ao longo de todo o ano. Hoje, a Altenburg é a maior produtora de travesseiros do continente. A companhia tem quatro plantas no Brasil e uma no Paraguai. Com mais de 2.200 funcionários, vem registrando crescimento anual entre 10% e 15% – em 2021, a receita chegou a R$ 610 milhões.

A gestão de Rui foi marcada, desde o início, pelo arrojo. Um exemplo ocorreu em meados da década de 1970, quando a crise do petróleo causou retração no mercado têxtil. A Altenburg foi na direção oposta dos movimentos do mercado e continuou investindo em novos maquinários, de grande porte, para seguir diversificando o portfólio e ampliando o faturamento.

Pioneira em vários aspectos, a empresa foi a primeira a trazer ao Brasil roupas de cama 100% algodão, característica que reduz drasticamente os amassados e, em consequência, a necessidade de utilização do ferro de passar. Aliás, faz tempo que a Altenburg se preocupa com sustentabilidade. Em 2010, a empresa ganhou um importante prêmio internacional pelo lançamento do travesseiro Ecofriendly, produzido com recheio de fibras derivadas de garrafas PET.

Ao relembrar sua trajetória, Rui faz questão de ressaltar que todas as conquistas só foram possíveis graças à parceria essencial com a esposa, Irene Reuter Altenburg. Mesmo não estando no dia a dia da Altenburg, ela manteve a tradição familiar de mulheres fortes e atuantes. “Sempre me acompanhou e me orientou em cada passo. Soube entender as minhas ausências e deu todo o suporte quando precisamos recuar em projetos familiares, seja porque tínhamos que canalizar investimentos para a empresa ou porque eu precisava estar ausente. Irene é e sempre será a nossa maior fortaleza.”

Rui com a esposa Irene e os filhos Tiago (à esq.), Danielle e Gabriel: saga empresarial iniciada há 100 anos segue sob a batuta da família Altenburg, com novas lojas, e-commerce e internacionalização - Foto: Divulgação

Altenburg - bem dormir, bem viver

  • Fundação: 1922
  • Sede: Blumenau
  • Faturamento: R$ 610 milhões
  • Funcionários: 2,2 mil
  • Fábricas: 4 no Brasil e 1 no Paraguai
  • Lojas próprias: 14
  • Exportações: 30 países

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