João Paulo Kleinübing: "Uma das causas do bom momento que o banco vive hoje é a harmonia entre os três governadores (do Sul). Há um alinhamento com relação ao papel do banco que se reflete em nossa atuação" - Foto: Ricardo Dias
O que explica a ampliação do volume de recursos repassados pelo BRDE nos últimos anos?
Está ocorrendo uma internacionalização do banco. Há cinco anos, 91% do nosso funding vinha de repasses do BNDES. Hoje está em 60%, e a meta é chegar a 50%. Mas o volume com o BNDES continua praticamente o mesmo. Ao mesmo tempo, saímos de um volume médio de operações de R$ 2,1 bilhões ao ano para R$ 4,1 bilhões em 2022, e vamos chegar a R$ 4,5 bilhões neste ano. O crescimento se dá com outras fontes, com fundos internacionais especialmente, o que tem nos permitido crescer fora do BNDES.
Houve aumento da oferta internacional de recursos?
Sim, houve aumento de recursos para a América Latina, para projetos específicos. Temos operações com o Banco Europeu de Investimento, por exemplo, para financiamento de energia renovável; com o NDB, o Banco do Brics, para agricultura e investimentos; com o Banco de Desenvolvimento da América Latina temos recursos interessantes, para capital de giro; com o Banco Mundial, especificamente para municípios, para projetos de resiliência urbana; e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para pequenas e médias empresas, dentre outras fontes, que apoiam projetos para mitigação de mudanças climáticas, por exemplo. Além disso, somos o maior repassador de recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) no Brasil. Há pouco abrimos uma nova linha de R$ 1 bilhão com a Finep.
Estes são recursos para projetos de inovação em indústrias?
Cerca de 27% do total que liberamos este ano foi para a indústria, muito disso para projetos de inovação e energias renováveis. A Finep opera diretamente com empresas de mais de R$ 300 milhões de faturamento, e abaixo disso opera indiretamente. Deste montante o BRDE foi responsável por mais da metade dos recursos aplicados no Brasil nos últimos anos. E mais de 40% do que repassamos é somente para Santa Catarina. Isso mostra capacidade de inovação das empresas do Estado e da nossa capacidade de repassar os recursos ao nosso cliente, que muitas vezes imagina que inovação é somente algo completamente novo, mas melhorias em processos e o desenvolvimento de produtos também podem ser apoiados pela Finep.
Qual é o papel do banco na chamada neoindustrialização, que inclui transformação digital e economia verde?
O Brasil caminha nessa direção. Há um programa anunciado pelo BNDES, o Governo Federal vai disponibilizar recursos para isso e nós também fazemos parte do esforço da neoindustrialização. O BNDES faz diretamente apenas as grandes operações – nas demais utiliza os bancos subnacionais. Além disso, estamos prospectando novas fontes de recursos com condições até melhores para custear a transformação ecológica.
Como a visão de desenvolvimento dos governos dos estados do Sul se reflete nas ações do BRDE?
Uma das causas do bom momento que o banco vive hoje é a harmonia entre os três governadores. Há um alinhamento com relação ao papel do banco que se reflete em nossa atuação, além de características que são semelhantes aos três estados, como agronegócio forte, cooperativismo desenvolvido e indústria competitiva. Os governadores têm insistido em duas coisas. Uma delas é a ampliação de nossa atuação para além do crédito, em especial no apoio à estruturação de Parcerias Público-Privadas (PPPs) nos municípios. Já tivemos ações no Rio Grande do Sul e agora vamos atuar também no Paraná e Santa Catarina, estruturando projetos dentro do conceito de cidades inteligentes, resíduos sólidos e saneamento, áreas de enorme potencial. A outra orientação é a pulverização dos recursos para atendimento às pequenas e médias empresas. Já temos um bom atendimento às médias em função das parcerias que mantemos com cooperativas de crédito, que originam operações de crédito com nossas linhas e têm capilaridade, nos permitindo chegar a clientes que teríamos enorme dificuldade de acessar. Também estamos melhorando do ponto de vista tecnológico para fazer pequenas operações 100% on-line. Isso deve começar no ano que vem e nos permitirá chegar a grande número de empresas para viabilizar o Pronampe, que é uma demanda específica do Governo de Santa Catarina.
Como será o programa?
Envolve várias secretarias e o BRDE e o Badesc como agentes operacionalizadores. Nossa expectativa é chegar a R$ 150 milhões em operações até o final do próximo ano. Serão operações médias de R$ 50 mil, basicamente para capital de giro, envolvendo cooperativas, Sebrae e operações via internet, para chegarmos na ponta. O desafio é a desburocratização, o que também envolve a criação de um fundo de aval próprio, com aporte dos municípios. Um de nossos desafios é nos aproximarmos cada vez mais da política geral de desenvolvimento de Santa Catarina. Por isso trabalhamos cada vez mais de forma conjunta, como parte do governo que somos, em sintonia com os demais órgãos como as secretarias de Inovação, Agricultura, Meio Ambiente, Indústria e Comércio e outros, e o Pronampe é um bom exemplo disso.
O BNDES estrutura diversos projetos do setor de saneamento para concessões e PPPs. O BRDE está fazendo o mesmo?
Sim, a ideia é fazer um pouco do que o BNDES faz, o que envolve a estruturação da PPP, a elaboração dos editais e outras ações. Não vamos necessariamente financiar os projetos, mas daremos todo o suporte para os municípios na fase inicial, que é o grande desafio que eles têm. Acho que é isso que vai destravar as PPPs no setor.
Em sua visão, qual é a função atualmente de um banco de desenvolvimento?
Nosso papel como banco de desenvolvimento não é apenas emprestar recurso, é de fato gerar desenvolvimento, gerar qualidade de vida. O financiamento é um meio pelo qual fazemos isso, e temos também olhado para outras ações além do crédito, como no caso das PPPs, que é um apoio técnico para os municípios. O BRDE é fruto de um momento extremamente importante para o desenvolvimento de Santa Catarina. Nasceu há 62 anos do esforço conjunto dos três estados do Sul, mas com uma participação muito relevante do então governador catarinense Celso Ramos, que também fundou a FIESC. Foi quando se lançaram as bases para o desenvolvimento catarinense com uma visão de longo prazo, que nos permitiu deixarmos de ser um estado agrícola para ser uma força industrial. Há quem diga que as instituições têm seu DNA moldado em seus atos fundacionais, então o BRDE nasceu com o DNA da inovação, da visão de longo prazo e de entender Santa Catarina como esta força industrial que estava se formando.