Francisco Graciola - Foto: Divulgação
Francisco Graciola, 71 anos, conhecido como Chico, é protagonista de uma daquelas histórias impressionantes de menino pobre que sonhou alto – literalmente – e conseguiu realizar o que parecia impossível. Trata-se do principal responsável pela proliferação de arranha-céus no skyline de Balneário Camboriú, uma das características que fazem a fama da “Dubai brasileira”.
Fundador da FG Empreendimentos em sociedade com o filho Jean Graciola, ele ocupa hoje a presidência do Conselho do Grupo FG, holding que transita por setores diversos. Além da construção e incorporação, há negócios em hotelaria, alimentos, entretenimento e vários outros tipos de serviços. Apesar da diversidade da atuação, os prédios colossais são mesmo a grande marca da carreira de Graciola. Sete dos dez maiores do Brasil estão em Balneário Camboriú. O primeiro, o quarto, o sexto e o décimo do ranking foram construídos pela FG, que orgulhosamente ostenta seu logotipo no topo das obras.
O número um é o One Tower, com 290 metros, inaugurado em 17 de dezembro do ano passado. Localizado na emblemática Avenida Atlântica, é o maior edifício residencial da América Latina. Tem 84 pavimentos, sendo 70 habitáveis, com dois apartamentos por andar e valor médio de R$ 12 milhões por unidade. “Foram mais de 2 mil trabalhadores envolvidos na construção, que consumiu o equivalente a 8 mil caminhões-betoneiras de concreto”, relata Chico, com orgulho. A tecnologia aplicada é a mais avançada disponível. Um exemplo são os cinco elevadores, que, à velocidade de cinco metros por segundo, atingem o topo em menos de um minuto.
One Tower, de 84 andares, demandou mais de 9 mil toneladas de aço na construção - Foto: Divulgação
Erguido em parceria com a família Hang, da Havan, o One Tower chegou perto da barreira dos chamados supertalls, os arranha-céus com mais de 300 metros, dos quais há pouco mais de 100 concluídos ao redor do planeta. O visionário Graciola pretende não apenas romper essa marca, mas ir muito além dela. O Triumph Tower, em fase de projeto e tramitação legal, deverá superar os 541,3 metros do One World Trade Center, em Nova York – o que o tornaria, se fosse inaugurado hoje, o prédio mais alto das Américas e o sexto maior do mundo.
Os antepassados dos Graciola vieram da região de Trento depois que o Império Brasileiro estabeleceu, em 1874, um contrato com o empreendedor Joaquim Caetano Pinto Jr., prevendo a chegada de 100 mil imigrantes italianos à província de Santa Catarina no período de dez anos. O projeto começou pela instalação de núcleos italianos em áreas periféricas das colônias alemãs, como é o caso de Gaspar, cidade natal de Chico. Ele é o terceiro entre 12 filhos do casal Arthur e Teresa, agricultores. A família possuía um pequeno sítio, com uma casa de madeira de três quartos – um era ocupado pelos pais, outro pelas meninas e outro pelos meninos. O único banheiro ficava do lado de fora, a quase 100 metros. Escola só havia até a quarta série, e era preciso uma longa caminhada para chegar lá.
“Com meu pai aprendi o valor do trabalho. Com minha mãe, o valor da fé”, diz Chico. Os meninos ajudavam na lavoura e as meninas nas lidas domésticas. Quando era possível brincar, as crianças aproveitavam ao máximo. “Eu adorava escorregar o morro com casca de coqueiro”, lembra. À noite, todos rezavam juntos o terço.
Aos 14 anos, ansioso por conhecer o mundo além da roça e pensando em ajudar a família financeiramente, o rapaz começou a trabalhar como aprendiz de barbeiro. Aos 18 abriu a própria barbearia em Blumenau. Começou a levar os irmãos para ajudá-lo. Os Graciola aproveitavam os momentos em que não havia clientes para prestar serviços de costura à Hering, cuja sede ficava próxima. Algum tempo depois, Chico comprou a lanchonete ao lado, paga em 36 prestações. Mesmo sem jamais ter ouvido a palavra holding até então, o jovem empreendedor atuava simultaneamente em três ramos bem distintos: barbearia, alfaiataria e alimentação. Aos poucos a família passou a administrar outras lanchonetes e padarias. A rede chegou a 12 estabelecimentos.
Graciola em frente à barbearia, em Blumenau: jovem atuava em três ramos distintos - Foto: Divulgação
Em 1983 ele decidiu investir a poupança na construção de um prédio de quatro andares em Blumenau, com o propósito de alugar os apartamentos. “Desde cedo admiro o novo, o desafio, o desconhecido. Após construir o primeiro prédio, tive certeza de que continuaria nesse caminho, sempre almejando mais”, recorda Chico.
Ao mesmo tempo que pegava gosto pelo mercado da construção civil, ele passou a visitar Balneário Camboriú com frequência. Em muitos domingos colocava a família no Fiat 147 – Jean era criança – e partia para lá. A fascinação pela cidade vinha tanto das belezas naturais quanto do ar cosmopolita que ela ganhava à medida que surgiam os primeiros prédios altos. Unir as duas paixões – construção civil e Balneário Camboriú – tornou-se um caminho natural. Na década de 1990, Chico comprou um terreno na Avenida Atlântica e construiu um prédio de 14 andares. Em 2003, ele e Jean fundaram a FG Empreendimentos, focada no mercado imobiliário da cidade.
“A verticalização é uma necessidade, ainda mais numa região como a nossa, com limite territorial”, afirma Chico, referindo-se à área de apenas 45,2 quilômetros quadrados de Balneário Camboriú, segundo menor município entre os 295 de Santa Catarina, à frente apenas de Bombinhas (35,1 quilômetros quadrados). “Mas a altura nunca foi um fator decisório. A FG sempre seguiu a premissa de investir no ineditismo, em projetos de vanguarda e com arquitetura moderna, elegante e luxuosa.”
Infinity Coast Tower foi o primeiro a ultrapassar os 200 metros no Brasil - Foto: Divulgação
Resultados | A FG já entregou 62 empreendimentos, envolvendo mais de 5,2 mil unidades residenciais. Alguns foram especialmente marcantes, como o Infinity Coast – que, inaugurado em 2019, com 66 pavimentos habitáveis e 234,8 metros de altura, tornou-se o prédio mais alto do Brasil à época, primeiro a romper a barreira dos 200 metros no País. Hoje está em quarto lugar no ranking. Há 13 obras em andamento em Balneário Camboriú e na Praia Brava, em Itajaí, com mais de 1,2 milhão de metros quadrados projetados. Metade dessa área será lançada nos próximos três anos, com Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 10 bilhões. Há quatro lançamentos previstos para 2024, com VGV de R$ 2,6 bilhões.
Enquanto se dedica a projetos tão grandiosos, Chico não se abala com as críticas que os arranha-céus recebem, especialmente aquelas que os classificam como projetos “megalômanos”. “Mantemos nosso foco no desenvolvimento da cidade, do segmento, investindo, criando postos de trabalho e contribuindo para o crescimento de toda uma cadeia produtiva. Nossa melhor resposta é a credibilidade ante o mercado, o respaldo técnico e construtivo e os resultados mercadológicos”, diz o empreendedor. “Hoje vibro pelo que Balneário Camboriú se tornou. Não é um orgulho somente para os moradores locais, mas para todos os brasileiros.”