Em Rio do Sul, a parceria entre uma fábrica de tijolos e lavanderias têxteis tem dado destinação adequada, todos os meses, a toneladas de lodo de baixa biodegradabilidade, que até então era separado do efluente industrial tratado e armazenado em contêineres enviados para aterros industriais. Com o suporte do Instituto SENAI de Tecnologia Ambiental, localizado em Blumenau, o material passou a ser incorporado aos tijolos da Cerâmica Princesa, empresa octogenária que produz mensalmente 3,6 milhões de unidades.
Os materiais são incorporados à massa para fazer os tijolos, representando no máximo 3% da mistura. Segundo Sandro Tavares, gerente administrativo da empresa ceramista, o processo não aumenta a lucratividade da indústria, mas melhora a qualidade do produto e reforça a imagem de empresa ESG. “Estamos dando uma destinação correta a esses resíduos. Em nosso parque fabril não jogamos nada fora. Utilizamos serragem reciclada como combustível para as fornalhas, por exemplo. São atitudes que representam algo mais na hora de fechar negócios, e o cliente prefere cada vez mais trabalhar com empresas com esse tipo de política”, avalia Tavares.
Cinco lavanderias do Alto Vale fornecem o lodo de efluentes para a fabricação de tijolos da Princesa. O maior parceiro é a Lavanderia Cristal, empresa fundada em 1995 pelo casal Simone e Sandro Luiz Martins. Especializada na lavagem e tingimento de jeans (item de maior destaque do polo têxtil local), a empresa beneficia até 20 mil peças por dia. Com isso, gera em média 10 toneladas de lodo de efluentes por mês. Há cerca de um ano, todo esse material vai para o parque fabril da Cerâmica Princesa. “Somos uma empresa que se dedica a causar o menor impacto, em busca de perenidade para o nosso negócio. Se não avançarmos nessas políticas, teremos um posicionamento de mercado cada vez pior, e podemos ficar para trás”, considera Hiago Martins, gerente de Desenvolvimento e sócio da Cristal.
A empresa já havia tentado, há cerca de uma década, implementar o processo de reciclagem do lodo em tijolos. Esbarrou na legislação da época, que não exigia uma destinação adequada aos resíduos da indústria de construção civil. Dessa forma, apenas estaria empurrando o problema para frente: quando esses imóveis fossem demolidos, o resíduo acabaria chegando ao meio ambiente. As novas exigências para o setor permitiram, agora, o sucesso da empreitada. Hoje a Cristal também conta com energia solar e compra de energia verde, usa biomassa para o aquecimento e processos industriais, e destina as cinzas de fornalhas para adubação na zona rural.
O IST Ambiental realizou o trabalho essencial de testar a viabilidade do processo de incorporação do lodo à fabricação dos tijolos. Foram realizados ensaios para descobrir se havia emissão de elementos tóxicos na queima ou no processo de lixiviação dos blocos. Com o resultado foi possível garantir o ganho ambiental da parceria entre as indústrias. “Por mais que a destinação para um aterro industrial fosse correta, era um passivo que crescia a cada mês. Usamos muita água nos nossos processos, que é tratada e devolvida ao meio ambiente. Agora temos um destino sustentável para o lodo”, comemora Martins.
5 lavanderias | fornecem lodo de efluentes para produção de tijolos.
3,6 milhões de tijolos | Produção mensal da Cerâmica Princesa.
10 toneladas/mês | Geração de lodo da Lavanderia Cristal.