Prédios equipados com geradores da empresa WEG: energia consolidada - Foto: Divulgação
A potência instalada de energia solar no Brasil rompeu a barreira dos 15 mil megawatts (MW), de acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). É quase o dobro do patamar registrado há apenas um ano. Isso significa que a produção já supera a potência instalada da Usina Hidrelétrica de Itaipu (14 mil MW), uma das maiores geradoras de energia renovável do planeta.
Mas essa marca é apenas o início do forte crescimento anunciado para a energia solar no País. A projeção é chegar ao equivalente a quase três Itaipus até o final desta década. Segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia, publicado pelo Ministério de Minas e Energia em fevereiro, a fatia da matriz elétrica brasileira ocupada pela energia solar deverá dobrar nos próximos dez anos, saltando dos atuais 2% para 4%. Isso em meio a um cenário de aumento médio anual previsto de 3,4% na demanda nacional por energia elétrica. Assim, se as projeções forem cumpridas, a potência instalada da energia solar ultrapassará 40 mil MW no início da década de 2030.
Fonte solar fotovoltaica no Brasil | |
---|---|
Ano | Potência instalada (MW)* |
2012 | 7 |
2013 | 13 |
2014 | 21 |
2015 | 42 |
2016 | 93 |
2017 | 1.158 |
2018 | 2.416 |
2019 | 4.609 |
2020 | 8.008 |
2021 | 13.662 |
2022** | 15.852 |
(*) Considerando-se a soma de Geração Centralizada (10.027 MW) e Geração Distribuída (4.974 MW)
(**) Maio
Cabe à energia solar, em associação a outras modalidades limpas emergentes (a exemplo da eólica e a da biomassa), a missão de manter a alta proporção de fontes renováveis na matriz brasileira. Hoje, essa participação é de 85%, contra uma média global de apenas 27%. Quadro tão positivo se deve principalmente às hidrelétricas, responsáveis por 58% da produção nacional, mas que deverão perder participação gradualmente em decorrência da desaceleração dos projetos de usinas de grande porte – modelo do qual a Itaipu é o maior símbolo.
Santa Catarina ocupa posição de destaque no mercado brasileiro de energia solar, tanto pelo protagonismo que empresas catarinenses vêm assumindo no desenvolvimento de produtos para o setor quanto pela sexta posição do Estado no ranking de Geração Distribuída (veja o quadro). Trata-se da energia obtida por meio de pequenas estruturas, com potência de até 5 MW, instaladas em residências, prédios, comércios, indústrias e propriedades rurais.
Embora a Geração Centralizada – produzida em centrais de grande porte – responda, no momento, por dois terços da capacidade de energia solar instalada no País, acredita-se que as mudanças recentes na legislação impulsionarão especialmente a Geração Distribuída. O marco legal de energia solar regula o mercado de micro (até 75 quilowatts – kW) e minigeradores (entre 75 kW e 5 MW), as duas faixas que compõem a Geração Distribuída, trazendo mais segurança jurídica para o setor. Ficou estabelecido que quem instalar energia solar até 6 de janeiro de 2023, quando a lei completa um ano, terá direito à isenção de encargos e tarifas até 2045, mesmo benefício assegurado a quem já tinha sistema em funcionamento antes de 7 de janeiro de 2022.
Estados com maior potência instalada | ||
---|---|---|
Estado | Potência instalada (MW)* | % do país |
Minas Gerais | 1.787,6 | 16,7 |
São Paulo | 1.422,2 | 13,2 |
Rio Grande do Sul | 1.249,1 | 11,6 |
Mato Grosso | 716,0 | 6,6 |
Paraná | 522,1 | 4,8 |
Santa Catarina | 521,9 | 4,8 |
(*) Em Geração Solar Distribuida
Fonte: Absolar/Aneel, maio/22
Ambiente | O marco legal era muito aguardado pelo setor, que dependia de regras mais claras e garantias jurídicas para ampliar os investimentos e gerar mais empregos. “Foi um passo essencial para o incentivo ao sistema de geração, pois cria um ambiente de oportunidades de negócios”, afirma Marcio Osli dos Santos, diretor da Unidade de Energia da Intelbras, que passou a atuar no mercado de geração solar recentemente, em 2019, e objetiva se consolidar como referência nesta área.
Marcio Osli dos Santos, diretor da Unidade de Energia da Intelbras - Foto: Divulgação
Desde então a empresa já desenvolveu e colocou no mercado dezenas de produtos e soluções em energia solar voltadas a públicos específicos – corporativo, residencial, industrial, agro e governamental. A Intelbras fornece equipamentos tanto para o sistema on grid, em que o imóvel com energia solar instalada permanece conectado à rede pública de distribuição de energia (com isso, a eventual produção excedente de eletricidade pelo imóvel é convertida em créditos), quanto off grid, em que o imóvel não está interligado à rede pública e opera de forma autônoma – alternativa adotada principalmente em localidades isoladas.
Além das perspectivas financeiras positivas, este mercado envolve outros atributos, enfatiza Osli dos Santos. “Temos investido em Pesquisa & Desenvolvimento em energia solar por ser um mercado alinhado à cultura da companhia e uma exigência da sociedade.” Foi no setor da energia solar que a Intelbras realizou a maior aquisição de sua história, anunciada em fevereiro e concluída em abril: R$ 355 milhões por 100% da também catarinense Renovigi Energia Solar, sediada em Chapecó e voltada à geração distribuída. Com 200 funcionários, dez anos de trajetória, atuação nacional e faturamento de R$ 799,5 milhões no ano passado, a Renovigi continuará tendo operações e políticas comerciais e de produtos independentes.
Um ano depois de realizar sua abertura de capital, a Intelbras, fundada há 46 anos em São José, fechou o primeiro trimestre de 2022 com crescimento de 24,4% na receita operacional líquida em relação ao mesmo período do ano passado. Importante ressaltar que 2021 já havia sido um ano excelente para a empresa, com aumento de 44,6% no faturamento, que chegou a quase R$ 3,1 bilhões.
Fábrica da Intelbras, em São José, com painéis solares: resultados - Foto: Divulgação
Oscilações | No primeiro trimestre de 2022, o segmento de energia foi o que mais se destacou em termos de aumento da receita – 119,8% em relação ao primeiro trimestre de 2021. A normalização do abastecimento de matérias-primas para os geradores solares, depois de oscilações em decorrência da pandemia de Covid-19, foi essencial para o resultado. A Intelbras se beneficia ainda da recente saída da Engie do mercado de geração distribuída, absorvendo boa parte de seus profissionais especializados.
Outro importante player catarinense no mercado é a WEG, que criou a WEG Solar como área dentro da unidade de negócios Automação. “Foi um processo iniciado em 2011, momento em que a empresa começou a desenvolver seus inversores de energia solar”, lembra o diretor-superintendente da WEG Automação, Manfred Peter Johann.
Naquela época, a energia solar ainda dava seus primeiros passos rumo à viabilidade comercial no Brasil e os principais projetos eram de Pesquisa & Desenvolvimento. “Hoje o cenário é bem diferente, com a energia solar consolidada como opção atrativa de investimento, inclusive por conta da contribuição importante para a diversificação e a sustentabilidade da matriz elétrica brasileira.”
No mercado de Geração Distribuída, a WEG fornece os principais equipamentos de um sistema solar – módulos fotovoltaicos, inversores, estruturas de suporte – por meio de uma rede de integradores autorizados. Esses parceiros realizam a integração do sistema, com projeto de engenharia, instalação e trâmites nas concessionárias de energia. Já no mercado de Geração Centralizada, a companhia fabrica e fornece a solução completa, incluindo recursos de automação, para o funcionamento de usinas de grande porte.
A WEG tem desenvolvido, também, parcerias que envolvem a produção de energia solar. É o caso do projeto com a BMW Brasil e a Energy Source para um sistema de recarga rápida de veículos elétricos, baseado no uso de baterias conectadas a painéis solares. O sistema permite a recarga com energia gerada pelo sol e armazenada em baterias de segunda vida, fornecidas pela Energy Source para os veículos elétricos da BMW. “Com tecnologia nacional, estamos desenvolvendo a infraestrutura necessária para dar suporte à mobilidade elétrica no Brasil”, diz Johann.
Manfred Peter Johann, diretor-superintendente da WEG Automação - Foto: Divulgação
Outra gigante de raízes catarinenses, a companhia de alimentos BRF investe na energia solar como parte do projeto de se tornar neutra em carbono até 2040. A empresa já ajudou a viabilizar a instalação de painéis solares em mais de 100 granjas parceiras, resultado de linhas de financiamento com o Banco do Brasil e outros agentes financeiros, com custos atraentes para os produtores. A geração somada é de 1.300 MWh/mês, o que equivale ao consumo de uma cidade com 18 mil habitantes.
O cenário atual é favorável à energia solar. O País enfrentou recentemente mais uma crise hídrica, o que reforça a importância de alternativas sustentáveis e renováveis, ao mesmo tempo que o planeta busca estratégias para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Considerando os efeitos esperados da nova legislação brasileira, tudo indica que 2022 se tornará um ano histórico para a energia solar no Brasil – talvez ainda mais relevante que 2017, quando a capacidade instalada saiu praticamente do zero e deu um salto por conta dos leilões de energia no mercado regulado e da redução dos custos da tecnologia.