R$ 1 bilhão: Investimento da FIESC em educação no período 2020-2030 - Foto: Shutterstock
Thiago Medeiros Gehrke cursou o ensino fundamental em escolas particulares de Joinville e até então era mais interessado em disciplinas da área de ciências humanas. No ensino médio a família optou pela matrícula na Escola SESI de Referência, onde o jovem tomou contato com a metodologia STEAM, que se propõe a aprofundar conhecimentos em ciências, tecnologia, engenharia, artes e principalmente matemática, com base no desenvolvimento de projetos e na resolução de problemas integrando estas áreas. A novidade fisgou o interesse e abriu novas perspectivas para o jovem.
“Esta nova forma de ensino amplia nossa oportunidade de aprendizado, por nos capacitar para atuar tanto na área industrial como também até para o mundo das artes”, avalia Thiago. “Além do aprofundamento técnico estamos desenvolvendo nossas soft skills, nesse momento em que a sociedade está cada vez mais interligada graças ao surgimento de novas tecnologias”, diz, referindo-se a competências como liderança, cooperação e criatividade. Aos 17 anos e cursando o terceiro ano ele já está decidido a se tornar engenheiro, só não sabe ainda se optará por engenharia civil, metroviária ou aeroespacial, e já se prepara para tentar conquistar uma vaga na UFSC ou na Udesc.
Thiago Gehrke: decisão por cursar engenharia após ensino médio no SESI - Foto: Filipe Scotti
Vanessa Brandão, de 20 anos, também passou pela Escola SESI de Joinville e já escalou alguns degraus na trajetória formativa e profissional. Ela concluiu o ensino médio integrado com a formação profissional, modalidade que é oferecida combinando a metodologia do SESI, que inclui o STEAM, com a expertise do SENAI em ensino técnico, e se enquadra no chamado quinto eixo dos itinerários formativos do Novo Ensino Médio, que possibilita ao jovem se profissionalizar concomitantemente à formação básica. Cerca de metade dos alunos do ensino médio do SESI em Santa Catarina faz o técnico integrado, atualmente oferecido nas áreas de química e desenvolvimento de sistemas.
“Sempre quis trabalhar na indústria, por isso estudei no SENAI e no SESI. No último ano do ensino médio comecei a olhar as vagas disponíveis nas grandes empresas e participei de vários processos seletivos”, conta Vanessa. Foi contratada pela ArcelorMittal de São Francisco do Sul, onde trabalha atualmente na área elétrica, realizando calibrações e manutenções em diversos equipamentos. Mas não parou por aí. Vanessa prestou o ENEM e foi aprovada na Udesc e no IFSC, optando por estudar engenharia elétrica na instituição federal. Atualmente trabalhando e estudando, ela planeja se especializar na área de energias renováveis.
As duas trajetórias contêm diversos elementos que apontam para a superação de um dos maiores desafios para a continuidade do desenvolvimento de Santa Catarina, e mais particularmente da indústria: a qualificação do chamado capital humano. Por uma série de motivos, que vão desde uma queda de indicadores educacionais do Estado até a enorme mudança de competências necessárias aos novos profissionais do setor, passando por um apagão de mão de obra, a capacitação de pessoas está no centro das preocupações da indústria.
Mario Cezar de Aguiar, presidente da FIESC: “Preparamos pessoas capazes de conduzir a transição da indústria para novos padrões de descarbonização da economia e a transformação digital do setor” - Foto: Filipe Scotti
Não é por acaso que a FIESC direciona os maiores investimentos de sua história para a área de educação: mais de R$ 1 bilhão está sendo aplicado pela instituição entre os anos de 2020 e 2030 no Projeto 20/30, um plano de ação para planejar e orientar as ações em educação ao longo do período. “Estamos multiplicando os esforços e introduzindo uma série de inovações que incluem ajustes de foco, metodologias e ganhos de escala”, afirma Mario Cezar de Aguiar, presidente da FIESC. “O objetivo é preparar pessoas que sejam capazes de conduzir a necessária transição da indústria para novos padrões de descarbonização da economia e a transformação digital do setor”, completa Aguiar.
Transição | Uma das faces mais visíveis deste projeto é a Escola SESI de Referência de Joinville, que iniciou suas atividades em fevereiro. Incorporando as vagas existentes na antiga Escola SESI do município e abrindo novas, a unidade passa a ser a maior do Brasil (veja mais detalhes na reportagem subsequente). É nela que o jovem Thiago Gehrke, citado no início desta matéria, concluirá o ensino médio para depois, possivelmente, se tornar um dos engenheiros que conduzirão o processo de transição industrial para o que vem sendo chamado de neoindustrialização.
Mesmo que sua formação em engenharia não seja feita na UniSENAI, a rede de ensino superior do Sistema FIESC, o mais importante é que ele possa ser despertado para as possibilidades da indústria por meio de uma série de novas abordagens na educação básica, como a metodologia STEAM, ensino bilíngue, salas de aula colaborativas, desenvolvimento de projetos voltados à resolução de problemas reais, laboratórios com estrutura 4.0 que permitem aos alunos colocarem a “mão na massa” e professores com experiência na indústria, além de equipamentos como impressoras 3D, cortadora a laser, kits de robótica e chromebooks individuais. “É um ensino conectado ao DNA da indústria, que ativa o mindset dos futuros protagonistas e influenciadores do setor, sejam eles técnicos ou engenheiros”, afirma Aguiar.
Indústrias como a Origetec, fundada em 2015, dependem de capital humano para catapultar o crescimento. A empresa fornece soluções completas em automação industrial, o que inclui o desenvolvimento e a fabricação de máquinas, linhas automatizadas e células robotizadas. Criada pelos irmãos Jefferson Moreira Orige, técnico em eletrônica e tecnólogo em automação industrial, e Gustavo Moreira Orige, técnico em ferramentaria e engenheiro eletricista, a empresa tem uma placa afixada na entrada de suas instalações em Araquari com os seguintes dizeres: “Bem-vindo à Origetec, uma empresa de tecnologia com foco em pessoas”.
Os empresários, que já são importantes fornecedores de soluções para a transformação digital da indústria brasileira, não têm dúvidas de que o desenvolvimento de seus negócios depende da capacidade de seu quadro de colaboradores – o próximo passo previsto é ampliar a atuação para toda a América do Sul. Vinte e cinco por cento dos mais de 70 funcionários já fizeram ou fazem cursos no SENAI. Os sócios-fundadores, que já se aprimoraram no SENAI e em outras instituições, buscam proporcionar aos funcionários a mesma oportunidade. “A empresa participa com 50% de bolsa-auxílio para cursos profissionalizantes, técnicos e superiores”, conta Jefferson Orige.
Os possíveis futuros dirigentes da companhia também já estão inseridos no universo educacional da indústria. Os filhos de Jefferson, Gabriel, de 15 anos, e Lucas, de 10 anos, estão cursando, respectivamente, o 1º ano do ensino médio e o 6º ano do fundamental na Escola SESI de Referência de Joinville.
Gabriel e Lucas Orige: pai é sócio em empresa de automação industrial - Foto: Arquivo pessoal
Contando com o suporte das novas tecnologias de ensino, o coração do novo projeto educacional da FIESC está em algo básico e profundamente essencial, porém muito mal resolvido no Brasil, e particularmente em Santa Catarina: o ensino de matemática. Se conseguir colaborar para melhorar o aprendizado em matemática no Estado, o projeto educacional estará dando uma contribuição inestimável para o futuro da indústria.
“Se quisermos uma indústria qualificada temos que causar uma revolução no aprendizado de matemática em Santa Catarina”, diz Fabrizio Machado Pereira, diretor de Educação, Saúde e Tecnologia da FIESC. “Afinal, não existe técnico sem uma boa formação em matemática, nem programador, engenheiro, designer ou mesmo cientista. Por isso, a educação básica do SESI tem como foco o aumento de proficiência em matemática”, afirma Pereira.
Nova escola em Joinville: investimentos da FIESC são os maiores da história - Foto: Filipe Scotti
Ferramentas | De fato, os resultados do ensino de matemática em Santa Catarina deixam a desejar. Na rede pública, os estudantes com aprendizado adequado na disciplina correspondem a 53% do total no 5º ano do ensino fundamental, de acordo com o Sistema de Avaliação de Educação Básica (SAEB). O percentual cai para 22% no 9º ano do fundamental, e desce a ínfimos 7% no 3º ano do ensino médio (veja o quadro). Os números melhoram significativamente na rede privada como um todo, e são particularmente mais altos na rede SESI, chegando próximos a 90% nas duas fases do ensino fundamental e ultrapassando os 50% no ensino médio.
Para superar esses números, a linha pedagógica do SESI se utiliza de diversas ferramentas para tornar a temida matemática prazerosa e compreensível para a maioria dos alunos, desde cedo. Atividades de robótica na educação infantil, por exemplo, são importantes auxiliares na aprendizagem da disciplina, ao mesmo tempo que despertam nas crianças o interesse por temas associados à indústria. Alunos jogam Minecraft durante as aulas (o SESI tem parceria com a Microsoft) e produzem conteúdos digitais para resolver problemas. Participam de quizzes e games utilizando a plataforma MangaHigh, que permite aprofundar o conhecimento em matemática. O SESI é a principal referência no Brasil no uso desta plataforma, que utiliza inteligência artificial para detectar as habilidades não consolidadas de cada estudante e direcionar o aprendizado de acordo com as necessidades individuais.
Além dos indicadores SAEB, os bons resultados alcançados em matemática aparecem em eventos como o concurso Canguru de Matemática, que é uma competição anual internacional para alunos do 3º ano do ensino fundamental até os do 3º ano do ensino médio. No ano passado participaram quase 5 mil estudantes da Escola SESI. Competições como essa engajam ainda mais os alunos e despertam seu interesse pelos estudos. Crianças e jovens também participam de torneios de robótica, olimpíadas de astronomia, astronáutica e satélites, mostra de foguetes e a Mostra STEAM, que foi realizada pela primeira vez no ano passado em diversas cidades de Santa Catarina.
Metodologias e ferramentas despertam crianças para a tecnologia - Foto: Arquivo FIESC
Insuficiente | Apesar dos avanços nos resultados, a formação de alunos pela Escola SESI ainda é insuficiente para a elevada necessidade da indústria. Atualmente a rede conta com 9 mil alunos, e até o final desta década deverão ser 13 mil matrículas por ano, considerando as ampliações previstas ao longo da década – até 2030 estarão operando 21 Escolas SESI de Referência em Santa Catarina, alinhadas ao conjunto de escolas SESI do Brasil. Trata-se de um crescimento expressivo, mas ainda é um número modesto diante do total de 1,6 milhão de alunos da educação básica no Estado, considerando as redes pública e privada.
De acordo com o Mapa do Trabalho Industrial, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), somente Santa Catarina deverá requalificar 650 mil trabalhadores do setor, em diferentes níveis, para que estejam aptos à nova realidade tecnológica e organizacional da indústria. Além desses, outros 150 mil deverão ingressar no sistema de formação profissional. Uma das missões da Escola SESI é justamente formar jovens com uma boa base educacional para que possam, a partir daí, se dedicar à profissionalização. Outro objetivo do SESI é atender aos filhos dos trabalhadores da indústria de Santa Catarina, e somente nessa conta há cerca de 300 mil jovens em alguma etapa da educação básica.
São números muitos superiores aos que a Escola SESI consegue atingir diretamente. Para ganhar escala, a estratégia é transbordar as metodologias, ferramentas e expertises para as escolas públicas, justamente as que têm mais dificuldade em oferecer ensino de qualidade e reter alunos. No ano passado foram realizadas parcerias com 65 municípios cujas escolas incorporaram diversas soluções utilizadas pelo SESI no ensino fundamental.
O município de Monte Castelo foi o primeiro a adotar completamente a metodologia e os resultados já começaram a aparecer (leia o box). “A matemática é uma das disciplinas em que os alunos têm mais dificuldade, é uma espécie de vilã que causa até bloqueios em crianças”, afirma Luzia Aparecida Duffeck, professora de matemática e diretora da escola Edson Nagano, de Monte Castelo. “Mas ao mostrarmos outro ponto de vista e utilizarmos as novas ferramentas, obtemos melhorias na aprendizagem e a matemática já deixou de ser a vilã da escola”, conta.
“Ser referência para a educação básica dos municípios é fundamental para acelerar o despertar para a tecnologia, conseguir avanços na matemática e promover orientação vocacional para a educação profissional”, diz Fabrizio Pereira. A solução interessa às prefeituras, que têm o dever de entregar maior qualidade de educação, mas muitas vezes têm problemas de formação dos docentes, não possuem infraestrutura tecnológica e não sabem por onde começar a promover mudanças. Ao incorporar a metodologia do SESI as prefeituras recebem assessoria, suporte à gestão, formação de professores, ferramentas, aplicativos, kits, propostas de trabalho, materiais didáticos, acesso à plataforma educacional e sistema avaliativo que mede o desempenho de alunos e turmas, tudo para apoiar a ampliação dos indicadores de qualidade do município.
Pereira: proposta de revolucionar o ensino de matemática em Santa Catarina - Foto: Filipe Scotti
“A ideia é que os alunos da rede pública tenham acesso ao ensino da maior rede privada do Brasil, que é o SESI, sem que tenham de pagar por isso”, diz Adriana Cassol, gerente executiva de Educação do SESI/SENAI/SC. De acordo com ela, é possível que os municípios utilizem, por exemplo, recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) para financiar a transição. No caso do transbordamento para o ensino médio, o objetivo principal é oferecer cursos técnicos para a rede estadual, além de formação de professores e metodologia STEAM. O Governo do Estado anunciou no início do ano um programa para incorporar formação técnica ao ensino médio, com o objetivo de formar 100 mil pessoas até 2026.
Trata-se de um aprofundamento das parcerias com o setor público. Elas já são crescentes, por exemplo, na oferta de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e de cursos técnicos. Unidades móveis do SENAI levaram cursos técnicos a cerca de 30 municípios no ano passado. Por meio de parcerias com prefeituras, mais de 13 mil estudantes participaram de formações no contraturno escolar, e diversos eventos e programas buscaram despertar nos jovens o interesse por carreiras tecnológicas.
Há anos a produtividade da economia brasileira está estagnada, fato que, a grosso modo, é o que melhor explica o baixo crescimento econômico. Ao dividir o PIB pelo número de horas trabalhadas, a Fundação Getulio Vargas concluiu que nos últimos 40 anos a produtividade do trabalho cresceu em média 0,6% ao ano no País, uma das piores taxas globais. Há múltiplas causas para o problema, mas é certo que a baixa qualificação geral dos trabalhadores é uma sólida barreira para a elevação do índice e do crescimento econômico. Paradoxalmente, a quantidade de alunos nas escolas cresceu no período.
“O Brasil é um caso que precisa ser estudado, pois houve aumento da escolaridade e a produtividade caiu”, comentou, de forma retórica, o vice-presidente da República Geraldo Alckmin em evento na FIESC, em janeiro. Na verdade, a questão é bastante estudada e o problema não é quantidade, mas qualidade. “Esperava-se que o aumento de escolaridade aumentaria a produtividade. Mas se a escolaridade não está elevando as habilidades e as competências que os jovens precisam para o mundo do trabalho, não faz diferença”, diz Lucia Dallagnelo, doutora em educação pela Universidade de Harvard e consultora do Banco Mundial para a área de tecnologia educacional.
Ela também observa que há, sim, um problema quantitativo. Se por um lado há mais crianças na escola, são poucos os que chegam ao final do ciclo de escolarização. O grande gargalo é o ensino médio, etapa que não é superada por quase 40% dos jovens. No caso da formação profissional, apenas 10% dos jovens se tornam técnicos e 18% cursam o ensino superior. “É muito pouco para um país se desenvolver no tipo de economia que temos hoje”, afirma Dallagnelo. É um situação muito distante, por exemplo, de países como a Alemanha, onde até 60% dos estudantes realizam cursos técnicos, e mesmo de empresas multinacionais que atuam no Brasil, que apoiam a formação contínua ao longo da vida dos funcionários.
Barreira | O conceito de capital humano utilizado pelo Banco Mundial considera três dimensões: saúde infantil, educação dos jovens e longevidade, que engloba os anos de vida produtiva (veja o quadro). Santa Catarina vai bem nas duas pontas e se destaca positivamente no ensino fundamental, mas no ensino médio apresenta declínio. No ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) o Estado ocupava o primeiro lugar no ensino médio em 2005, mas em 2021 caiu para a 18ª posição, o que para Dallagnelo põe em risco a competitividade catarinense. “Se não investirmos agora intensivamente e de um modo diferente do que vem sendo feito, a falta de capital humano se tornará uma barreira para o desenvolvimento catarinense.”
O ranking de competitividade do Centro de Liderança Pública (CLP) coloca Santa Catarina no segundo lugar do País, atrás apenas de São Paulo. São vários itens que compõem o índice – educação é um deles. Nele, Santa Catarina ocupa a quinta posição na edição de 2023, sendo que havia ficado em terceiro na edição anterior. Há no ranking um indicador denominado Capital Humano (que neste caso não engloba a educação), em que o Estado ficou em primeiro lugar por causa da elevada inserção econômica de sua população, especialmente os jovens. A boa notícia, entretanto, embute um problema. Com baixíssimas taxas de desemprego nos últimos anos, a demanda por jovens no mercado de trabalho tem sido elevada, o que fez muitos abandonarem o ensino médio para trabalhar.
Hoje, a falta de pessoas afeta indústrias de todos os portes em praticamente todos os níveis. A Nidec Globbal Apliance relata dificuldades para encontrar profissionais técnicos, principalmente das áreas de elétrica, mecânica e manutenção. “Também temos dificuldade para preencher as vagas operacionais, pois a concorrência com outras companhias é grande”, conta Robson Luiz Leandro, gerente sênior de Recursos Humanos da Nidec, que investe em parcerias com instituições de ensino como o SENAI para garantir formação adequada aos trabalhadores (leia o box).
Operacionais | A necessidade de trabalhadores para ingresso imediato em funções operacionais impacta os serviços educacionais da FIESC. No ano passado, o SENAI ampliou em 160% a oferta de cursos rápidos de qualificação, aperfeiçoamento e iniciação profissional, muitos deles in company, que permitem a pessoas sem experiência começarem a trabalhar rapidamente em funções como a operação de máquinas. Ou garante que profissionais obtenham atualização rápida em determinada tecnologia.
Os resultados das várias abordagens de formação profissional oferecidas são medidos pela empregabilidade: 93% dos alunos saem do SENAI empregados. A conexão direta com a indústria é a principal característica. No ensino superior, por exemplo, cursos de graduação e pós-graduação já estão funcionando no modelo dual, em que a formação é ancorada em projetos desenvolvidos dentro de empresas.
Na educação básica, a estruturação da rede de Escolas SESI de Referência almeja a formação de uma base apta a sustentar o crescimento do setor, agora apoiado por uma política industrial que se propõe a desenvolver setores ligados à nova economia. “O programa tem R$ 300 bilhões em recursos, mas este capital por si só não será suficiente”, afirma Mario Cezar de Aguiar. “Só conseguiremos avançar se contarmos com capital humano de excelente qualidade.”
Formação de técnicos: empregabilidade de alunos do SENAI é de 93% - Foto: Arquivo FIESC
Mais confiança no futuro
Monte Castelo revoluciona o ensino fundamental com a implantação de metodologias inovadoras
Foto: Divulgação
O município de Monte Castelo, no Planalto Norte catarinense, é essencialmente agrícola. Para a população de 8 mil habitantes, a ideia de desenvolvimento local passa pelo sonho da industrialização, de acordo com o prefeito Jean Carlo Medeiros de Souza. É por isso que a administração municipal investe na formação do recurso mais demandado pela indústria: o capital humano.
Monte Castelo é pioneira na implantação da metodologia SESI em toda a rede municipal de ensino fundamental, abrangendo cerca de 600 alunos. O processo foi iniciado há quatro anos com assessorias, consultorias, formação de professores e aplicação de ferramentas de ensino. Ficou completo este ano, com o acesso integral de alunos e professores à plataforma do SESI e à incorporação de diversos materiais didáticos.
“Foi desafiador, mas as dificuldades foram superadas e hoje temos uma parceria consolidada”, diz Adriana Wiatek, responsável pela implementação da metodologia. Uma das mudanças percebidas é no comportamento de professores e alunos. Segundo Luzia Aparecida Duffeck, diretora da escola Edson Nagano, é notável como a timidez dos alunos, em grande parte oriundos da área rural, está sendo superada. “Hoje o aluno é protagonista do processo de aprendizagem. Antes não era assim”, completa Wiatek.
O prefeito Medeiros de Souza afirma que a parceria com o SESI é um marco para a sua pequena cidade. A imagem de qualidade da instituição ajudou a convencer os moradores de que as mudanças iam na direção certa. “Havia desconfiança em relação ao nosso trabalho visando o futuro da comunidade”, diz o prefeito. “Agora a desconfiança não existe mais.”
Aprendizagem contínua, sucesso duradouro
Bosch investe na formação de talentos para se perpetuar como referência global em tecnologia
Foto: Divulgação
Somente no ano passado a centenária companhia alemã Bosch promoveu 30 mil sessões de treinamento em todo o mundo, com foco em expertise tecnológica. “A Bosch promove a aprendizagem contínua. Esta é a chave para um sucesso profissional e de negócios duradouros”, diz Stefan Grosch, diretor da área de Relações Industriais da empresa.
Em linha com a diretriz a Bosch criou no Brasil, em 2021, a Digital Talent Academy (DTA), que proporciona formação técnica para jovens por meio de capacitações e treinamentos customizados em digitalização, automação inteligente, desenvolvimento de software, inteligência artificial e análise de dados. A iniciativa conta com a parceria do SENAI e teve início em Campinas (SP). No segundo semestre do ano passado foi ampliada para as unidades de Joinville e Curitiba.
A formação tem duração de dois anos e é direcionada para estudantes de 16 a 19 anos. “Nossa expectativa é formar cerca de mil jovens talentos ao longo dos próximos anos para atender às demandas globais da empresa”, conta Lucas Chaves, gestor de Novos Negócios da divisão Service Solutions da Bosch América Latina.
Na DTA os jovens trabalham competências empreendedoras, de liderança, interpessoais e técnicas. Paralelamente vão agregando conhecimento em desenvolvimento de software em Java e Pyton, criação de banco de dados, internet das coisas e curso de rede de computadores. A empresa ministra conteúdos que ensinam assuntos específicos e de interesse da companhia, enquanto o SENAI oferece uma grade de conhecimentos amplos do mundo da tecnologia. “O programa vem agregando muito conhecimento técnico desde o primeiro momento, na mesma medida em que trabalha aspectos comportamentais como relacionamento interpessoal e trabalho em equipe”, diz Analice Leite, 19 anos.
Digital Talent Academy: meta é formar mil jovens talentos - Foto: Divulgação
Cooperação para a qualificação
Nidec aprofunda parcerias com instituições de ensino para desenvolver capital humano
Empresa oferece bolsas de até 80% para cursos técnicos e educação superior - Foto: Divulgação
A Nidec Global Appliance, fabricante de compressores para refrigeração em Joinville, enfrenta um desafio comum a toda a indústria catarinense, que é recrutar pessoal especializado. Uma solução é trabalhar em parceria com as instituições de ensino. “Assim conseguimos qualificar nossos times e atuar em seu desenvolvimento”, afirma Robson Luiz Leandro, gerente sênior de Recursos Humanos.
Uma das frentes é a oferta de bolsas em cursos técnicos e superior. No ano passado foram concedidas 101 bolsas com até 80% de subsídio. Numa parceria com o SENAI e a Associação Brasileira de Fundição (Abifa), a Nidec subsidia um curso para nove técnicos que atuam na fundição da empresa. Já o programa Preparando o Futuro beneficia 86 colaboradores que são preparadores de máquinas recém-promovidos ou com potencial para assumir tal posição.
A Nidec também é parceira do SENAI no programa de aprendizagem industrial, voltado para jovens de 14 a 24 anos que estejam cursando ou já concluíram o ensino médio. Os jovens fazem curso de qualificação do SENAI e realizam atividades práticas na indústria.
Ana Luiza de Abreu Sarmento, ex-jovem aprendiz, está efetivada. “Minha base como jovem aprendiz foram os pilares de produção, qualidade e trabalho em equipe. Aprendi sobre a importância da eficiência e precisão na produção, assim como a busca constante pela excelência. O trabalho em equipe ensinou a colaborar, compartilhar ideias e valorizar a diversidade”, conta Ana Luiza, que integra o time de engenharia de manufatura e atua na avaliação de dados para a geração de novas oportunidades de negócio. “Considerando minha formação em TI e experiência atual, vou buscar papéis que permitam integrar a TI com outras disciplinas, contribuindo para soluções inovadoras”, afirma.
Ana Luiza, jovem aprendiz que foi efetivada: eficiência, precisão e excelência - Foto: Divulgação