Foto: Divulgação
A Eletro Zagonel, de Pinhalzinho, caminha a passos largos rumo ao seu objetivo de, até 2029, quando completa 40 anos, se tornar a segunda maior marca nacional de chuveiros e a primeira em iluminação – hoje, segundo um dos fundadores, Roberto Zagonel, ela é respectivamente a terceira e a segunda maior no Brasil, e exporta para toda a América Latina, México, Estados Unidos e países da África.
Nascida de uma sociedade entre irmãos que começou como uma simples oficina de eletrodomésticos, a Zagonel logo inovou ao criar o primeiro chuveiro eletrônico do Brasil. De 2007 para cá a empresa triplicou sua área produtiva, hoje com 30 mil metros quadrados. Também passou de sete para 19 injetoras operando em sua moderna fábrica, que se destaca na entrada do município de 21 mil habitantes, à beira da BR-282.
A Zagonel é um retrato da expansão industrial por que passa o Oeste de Santa Catarina. Berço dos maiores frigoríficos do País, a região é muito conhecida por ser uma potência agroindustrial, que se destacou ainda mais nos últimos anos devido à projeção crescente do agronegócio brasileiro.
“Há um movimento de diversificação em nossa região. Os setores que mais geraram empregos em 2022 foram papel e celulose, máquinas e equipamentos, metalmecânica e equipamentos elétricos” - Foto: Arquivo FIESC
Ao mesmo tempo, de modo mais discreto, o Oeste viu surgir uma indústria dinâmica e diversificada, com destaque para setores como máquinas e equipamentos, metalmecânica, confecções, produtos químicos e plásticos e a indústria de base florestal, que inclui os setores moveleiro e de papel e celulose. Na região Centro-Oeste, por exemplo, cuja cidade polo é Joaçaba, os setores que mais geraram empregos em 2022 foram papel e celulose, máquinas e equipamentos, metalmecânica e equipamentos elétricos.
A mesorregião Oeste de Santa Catarina
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118 municípios
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1,3 milhão de habitantes
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R$ 54,5 bilhões (PIB 2019)
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9.830 indústrias
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178,3 mil trabalhadores na indústria
Fonte: Observatório FIESC
Levantamento do Observatório FIESC sobre a atividade industrial na região identificou 9.830 indústrias instaladas na mesorregião Oeste (também conhecida como Grande Oeste), área que contempla a totalidade ou parte das vice-presidências regionais da FIESC para o Extremo Oeste (cuja cidade polo é São Miguel do Oeste), Oeste (Chapecó), Alto Uruguai (Concórdia), Centro-Oeste (Joaçaba) e Centro-Norte (Caçador). A região abarca um total de 118 municípios, onde vivem 1,3 milhão de pessoas, o equivalente a quase 18% da população catarinense. Nos últimos 10 anos, o número de indústrias cresceu 29% neste território, movimento que gerou saldo positivo de 38 mil vagas de trabalho.
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38 mil
Saldo de vagas formais de emprego criadas pela indústria do Oeste entre 2011 e 2021.
Os setores de Madeira/Móveis e de Máquinas/Equipamentos estão entre os que mais contribuíram, com cerca de 5 mil vagas abertas para cada um.
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2.069
Saldo de novas indústrias entre 2011 e 2021.
Deste total, mais de 1.100 empresas foram abertas no setor de Construção.
“Uma das explicações para o crescimento é o alto índice de empreendedorismo que se observa na região Oeste”, diz Mario Cezar de Aguiar, presidente da FIESC. “Também impressiona a busca das empresas pela inovação e a criação de soluções para superar limitações encontradas na região, como a infraestrutura precária, distância dos maiores mercados e baixa oferta de recursos humanos”, complementa Aguiar.
Roberto Zagonel: empresa triplicou área produtiva - Foto: Divulgação
Colágeno | De fato, o Oeste possui mais CNPJs por mil habitantes do que a média de Santa Catarina e também do que a média de São Paulo, o estado com maior índice no Brasil. Concórdia, cidade de origem da Sadia (atual BRF) e com cerca de metade da economia vinculada ao agronegócio, possui 10 mil CNPJs para uma população de cerca de 80 mil pessoas, e grande parte disso se deve à diversificação dos últimos 20 anos, de acordo com Álvaro Luis de Mendonça, vice-presidente regional da FIESC para o Alto Uruguai Catarinense.
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135
Número de CNPJs ativos para cada mil habitantes da região Oeste.
O número é superior à média de Santa Catarina e de qualquer outro estado brasileiro. As cidades mais empreendedoras são Piratuba (281 CNPJs/1.000 hab.), Xanxerê (184) e Pinhalzinho (178)
“Temos indústrias de madeira, móveis e metalmecânica. O setor de alimentos se diversificou com fábricas de sorvetes, chocolate e pães congelados, além de diversos pequenos frigoríficos com alto valor agregado e da grande indústria do leite que surgiu. A construção civil teve um boom”, enumera Mendonça. Ele também cita a Gelnex, empresa fabricante de gelatina e colágeno fundada há 25 anos em Itá. Com atuação global, foi comprada recentemente pela norte-americana Darling Ingredients por US$ 1,2 bilhão.
Com mais de 3.700 empresas em atividade, Pinhalzinho, a cidade da Eletro Zagonel, possui uma das maiores taxas de empresas abertas por mil habitantes: 178. As soluções criadas pela Zagonel e o sucesso da companhia certamente são inspiradores para empreendedores da região. A empresa tem 800 funcionários diretos, mas suas atividades geram cerca de 5 mil empregos indiretos, associados a muitos CNPJs locais.
Para Roberto Zagonel, há uma série de motivos para explicar a prosperidade da companhia, como o investimento em tecnologia e indústria 4.0 (com implementação total ainda este ano), consultorias para cada área da empresa, relacionamento estreito com universidades e um departamento de Pesquisa & Desenvolvimento com 30 funcionários, que Roberto frequenta com assiduidade.
“Também temos um RH bastante eficiente, que oferece muito treinamento e garante uma rotatividade baixa. Os funcionários se sentem valorizados e, como estamos nos destacando como uma empresa de tecnologia e inovação, ela é bastante desejada para se trabalhar na região”, explica Zagonel.
A retenção de pessoal qualificado é essencial para driblar a pouca cultura de eletrônica e automação na região. Na Zagonel, no entanto, a cultura cresce junto com a empresa. Desde os primeiros anos, boa parte do maquinário é desenvolvida internamente, gerando não apenas economia, mas conhecimento. “Sempre incentivei nossos técnicos, levando-os para feiras para estimular e inspirar invenções que nos atendam com o melhor da tecnologia. Temos 20 máquinas na fila de projetos para atender a produção. Já pensamos até em criar uma segunda empresa voltada para este nicho de mercado”, revela Zagonel.
Muitas máquinas da Zagonel são desenvolvidas internamente - Foto: Divulgação
Mil linhas | O estado da arte na produção de máquinas e equipamentos industriais foi atingido pela Torfresma, de São Miguel do Oeste. A empresa foi criada em 1993 por Claudimar Bortolin, filho de pequenos agricultores que se profissionalizou por meio de cursos do SENAI. A modesta empresa de serviços de tornearia e manutenção deu um salto ao se associar à forte demanda por equipamentos da agroindústria local.
O ponto de virada foi o desenvolvimento de um modelo de cadeira ergonômica, a partir de 1997, para os trabalhadores da linha de desossa suína da Aurora, quando a empresa contava com apenas dois funcionários. A partir daí a Torfresma passou a atender diversas agroindústrias, criando equipamentos de acordo com as suas necessidades específicas. Mais tarde a companhia desenvolveu seu primeiro robô, para paletização de produtos em uma fábrica. No total, já projetou e instalou mais de mil linhas industriais em cerca de 250 grandes indústrias. Conta atualmente com mais de 400 colaboradores.
“Consolidamos a vocação de desenvolver soluções customizadas para a indústria”, afirma Bortolin, que concluiu a ampliação da empresa no ano passado, atingindo mais de 15 mil metros quadrados de área construída e 27 mil metros quadrados de área de operações em São Miguel do Oeste. Desde 2015 Bortolin conduz um processo de internacionalização da companhia. Após conquistar mercados na América Latina, em 2020 ele criou a Torfresma USA, no estado de Delaware, e abriu escritório no Chile, onde em breve deverá haver também uma unidade industrial.
Produção na Torfresma - Foto: Divulgação
A vocação internacional da região Oeste é inegável. É nela que se concentram, afinal, os maiores produtos de exportação de Santa Catarina, as carnes de frango e suína (veja mais detalhes na matéria subsequente). Outros setores também se destacam, especialmente a indústria de madeira e móveis. Um terço do total das exportações de móveis de Santa Catarina – estado que lidera as exportações brasileiras de móveis de madeira – tem origem nas fábricas da região Oeste, de acordo com o Observatório FIESC.
“O setor moveleiro se desenvolveu muito bem, principalmente na década passada, com políticas de integração e união do setor, com o surgimento da feira Mercomóveis, que foi uma grande alavancadora do crescimento, além de outras ações associativas”, diz Waldemar Schmitz, vice-presidente regional Oeste da FIESC. Schmitz é fundador da Serpil, fábrica de móveis de Pinhalzinho que tem relevante volume de exportações.
Design | Outro expoente do setor moveleiro é a Temasa, de Caçador, dona de uma trajetória empresarial impressionante (veja o box). A companhia exporta 100% da produção, que é vendida por meio de grandes redes como Ikea e Leroy Merlin. Já a Móveis Henn, do município de Mondaí, no Extremo Oeste, tem grande presença no mercado interno, mas encontrou nas exportações um importante canal para a expansão (veja o box).
Também no Extremo Oeste, no município de Princesa, de apenas 3 mil habitantes, em 2004 surgiu a Sollos, empresa que produz móveis de alto valor agregado a partir de uma parceria com o designer Jader Almeida, uma das principais grifes de mobiliário do País. A fábrica associa a produção em série com um requintado acabamento manual de peças que se tornaram icônicas – cadeiras, poltronas e objetos como luminárias e complementos, que combinam a madeira com outros materiais nobres.
Desde 2014 a companhia participa de feiras e eventos internacionais, o que incluiu a instalação de showroom dentro da semana de design mais importante do mundo, em Milão, na Itália. Depois vieram participações em diversos eventos de referência mundo afora, e muito reconhecimento. A Sollos é a marca brasileira mais premiada no IF Design Award, considerado o Oscar do segmento. As vendas externas atingem 30 países.
Produção na Sollos - Foto: Divulgação
O desempenho das indústrias moveleiras fez a região andar na contramão do mercado nos últimos anos. De acordo com dados divulgados recentemente pelo IBGE, a produção física de móveis despencou no Brasil nos últimos tempos. Entre 2012 e 2022 o recuo foi de 45%. Situação diferente se observa no Oeste catarinense, apesar de também enfrentar dificuldades conjunturais atualmente. De acordo com o Observatório FIESC, o setor de madeira e móveis gerou um saldo positivo de aproximadamente 5 mil empregos formais na mesorregião entre 2011 e 2021. No total, o setor emprega diretamente 22.600 pessoas, ficando atrás somente da indústria de alimentos.
Setores que mais empregam | |
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Vínculos formais de trabalho, em 2021. | |
Setor | Vagas geradas |
Alimentos e Bebidas | 80.780 |
Madeira e Móveis | 22.613 |
Construção | 16.925 |
Máquinas e Equipamentos | 11.555 |
Têxtil, Confecção, Couro e Calçados | 11.400 |
Produtos Químicos e Plásticos | 6.860 |
Papel e Celulose | 6.832 |
Metalmecânica e Metalurgia | 5.063 |
Fonte: Observatório FIESC
Além de matéria-prima para móveis, a madeira é industrializada em serrarias e em fábricas de produtos como paletes, painéis, molduras, portas, modulados ou MDF, com ainda mais peso no comércio exterior do que os móveis. Da região Oeste saem um terço da madeira em forma, dois terços do MDF e praticamente a totalidade das molduras de madeira exportadas por Santa Catarina, segundo o Observatório FIESC.
Caçador é o maior polo setorial, com indústrias como a Frameport, fabricante de portas e artefatos para construção voltada às exportações para a Europa e Estados Unidos, e a unidade de MDF da Guararapes, que está praticamente dobrando a produção, com investimento de R$ 800 milhões. “É uma das mais modernas plantas do mundo, altamente produtiva, sustentável e com equipamentos de última geração”, afirma Ricardo Pedroso, CEO da Guararapes.
Outro setor industrial de base florestal que se destaca no Oeste é o de celulose e papel, cuja principal matéria-prima também é a madeira. Em Caçador destacam-se companhias como a Adami e a Tedesco – esta tem suas origens no longínquo ano de 1930, quando o pioneiro Primo Tedesco ergueu uma fábrica de pasta mecânica movida por uma turbina instalada no Rio do Peixe. Por tudo isso o município de 80 mil habitantes detém o segundo maior PIB industrial do Oeste (o primeiro é Chapecó) e o décimo maior do Estado de Santa Catarina: R$ 1,4 bilhão (IBGE/FIESC, 2022).
A indústria de base florestal não movimenta apenas Caçador, mas toda a região. A Irani Papel e Embalagem, com unidade em Vargem Bonita, realiza investimentos de cerca de R$ 1 bilhão até 2030 para expansão da capacidade. Não é à toa que o pequeno município de 5 mil habitantes possui o quarto maior PIB per capita de Santa Catarina, próximo a R$ 100 mil (IBGE/FIESC, 2022).
Produção de MDF e de papel: agregação de valor do maciço florestal - Foto: Divulgação
Certificadas | Santa Catarina possui cerca de 10% das florestas plantadas no Brasil. A indústria de base florestal utiliza somente árvores oriundas de florestas cultivadas, grande parte mantida pelas próprias empresas, em sistema de integração vertical. A transformação produtiva das últimas décadas deixou definitivamente para trás a fase do simples extrativismo dos tempos pioneiros, dando lugar a uma cadeia produtiva com alta tecnologia embarcada – fomentando também uma vigorosa indústria local de máquinas e equipamentos – e atendimento a exigências ambientais rigorosas. As maiores florestas cultivadas possuem certificações ambientais acreditadas internacionalmente, e para cada hectare plantado há meio hectare de vegetação nativa preservada pelas empresas.
“Santa Catarina tem um dos maiores potenciais de crescimento por hectare de pinus em todo o mundo”, afirma Odelir Battistella, presidente da Câmara de Desenvolvimento da Indústria Florestal da FIESC. Este é um dos principais fatores de competitividade da indústria de base florestal. De acordo com o Atlas da Competitividade da FIESC, os polos de madeira e móveis e de celulose e papel, juntamente com o de alimentos, estão entre os setores industriais catarinenses que possuem notória competitividade internacional, o que é atestado pelos vultosos investimentos listados anteriormente.
Pinus: elevada produção por hectare é fator de competitividade - Foto: Divulgação
“Há uma forte agregação de valor na região, com muitas empresas realizando aportes para aumentar o processamento do grande maciço florestal disponível”, conta Leonir Tesser, vice-presidente da FIESC para a região Centro-Norte. A indústria cresce ao mesmo tempo que se sofistica, adquirindo maquinário cada vez mais moderno e automatizando processos. Por consequência, exige profissionais qualificados. Por isso há um forte trabalho na região para a retenção de capital humano.
“As pessoas sabem que a economia sempre vai girar na região”, diz Gilberto Seleme, 1º vice-presidente da FIESC. “É certo que a árvore que foi plantada hoje se tornará um produto daqui a 15 anos.” Seleme, que é natural de Caçador, destaca o papel da comunidade empresarial na melhoria da qualidade de vida na cidade e a consequente retenção de talentos. “A comunidade ajuda a manter os bombeiros voluntários, o hospital (Maicé) e a universidade (Uniarp – Universidade Alto Vale do Rio do Peixe), que possui até mesmo curso de Medicina. Oferecemos muitas bolsas de estudos, pois queremos que as pessoas tenham oportunidades e amem Caçador”, afirma o empresário, que possui negócios nos setores de madeira e couro.
Gilberto Seleme 1º vice-presidente da FIESC: “As pessoas sabem que a economia sempre vai girar na região, pois a árvore que foi plantada hoje se tornará um produto daqui a 15 anos” - Foto: Arquivo FIESC
Fronteiras | A economia da madeira está ligada às origens da região. No início do século 20, a construção da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande, que passava pelo atual Meio Oeste catarinense, dava ao empresário norte-americano Percival Farquhar o direito de posse de 15 quilômetros para cada lado da via férrea para exploração madeireira – a região possuía florestas de imbuia e araucária, além de muita erva-mate, pilar da economia da época.
A construção da ferrovia está na origem da Guerra do Contestado (1912-1916), que foi também influenciada pela disputa territorial entre os estados de Santa Catarina e Paraná. Após o fim da guerra foi celebrado um acordo de fronteiras e abriram-se novas frentes de ocupação em direção ao Oeste. Companhias de colonização obtiveram o direito de explorar a madeira para a posterior venda de lotes a colonos. Estes vieram do Rio Grande do Sul, em um processo que é tido como uma das maiores migrações internas da história do País.
Colonos gaúchos descendentes de imigrantes alemães e italianos não dispunham de terras para expandir suas atividades, pois desde que chegaram da Europa haviam multiplicado as numerosas famílias. As terras do Oeste catarinense ganharam ares de eldorado, sendo vendidas em pequenos lotes, a preços módicos. Estima-se que entre 1920 e 1940 tenham entrado quase 80 mil migrantes no Estado. Organizou-se um sistema social e de produção baseado na pequena propriedade familiar, que passaria a caracterizar a região.
O capital humano formado a partir desse processo é tido como um dos principais ingredientes, senão o principal, do desenvolvimento regional. “O ponto forte da nossa região é a existência de um povo de espírito empreendedor e com vocação para o trabalho, voltado à produtividade, com costumes e tradições predominantemente europeus, que ainda honra costumes herdados, mesmo em ambiente desfavorável”, afirma Waldemar Schmitz.
Waldemar Schmitz vice-presidente regional Oeste da FIESC: “O ponto forte da nossa região é a existência de um povo de espírito empreendedor e com vocação para o trabalho” - Foto: Arquivo FIESC
As características da “marcha para o oeste” catarinense ainda hoje estão presentes, como a predominância da pequena propriedade. Também se mantém intacto o ímpeto empreendedor que se observa em muitas regiões de fronteira, onde, se por um lado, tudo está ainda por fazer e as condições são precárias, por outro lado há inúmeras oportunidades para aproveitar.
Cidades pequenas e médias brotaram e se desenvolveram nesse contexto, algumas delas conquistando elevados índices de qualidade de vida. No Extremo Oeste o município de São Miguel do Oeste, de 44 mil habitantes, destacou-se no ano passado como a oitava melhor cidade de pequeno porte do Brasil (até 50 mil habitantes), em ranking elaborado pela revista IstoÉ e a agência de classificação de riscos Austin Rating. A avaliação levou em conta indicadores sociais, econômicos, fiscais e digitais.
“É uma cidade muito organizada, bem traçada e quase toda asfaltada, limpa e bonita. O setor educacional é muito bom. Somos também bem servidos em saúde, comércio e serviços em geral”, enumera Astor Kist, vice-presidente regional da FIESC para o Extremo Oeste.
Maiores economias do Oeste | ||
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Cidade | PIB (R$ bilhões) | Participação na mesoregião |
Chapecó | 10,52 | 19,32% |
Concórdia | 3,72 | 6,84% |
Caçador | 3,53 | 6,48% |
Videira | 2,70 | 4,96% |
Xanxerê | 1,90 | 3,48% |
Joaçaba | 1,81 | 3,32% |
São Miguel do Oeste | 1,67 | 3,08% |
Maravilha | 1,40 | 2,57% |
Pinhalzinho | 1,14 | 2,1% |
São Lourenço do Oeste | 1,11 | 2,04% |
Fonte: IBGE (2019), Observatório FIESC (2022)
IDHM | De acordo com o Observatório FIESC, São Miguel do Oeste também possui um dos maiores IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) de Santa Catarina, ficando em décimo lugar entre os 295 municípios do Estado. No Oeste, neste quesito é superado apenas por Joaçaba, polo agroindustrial e de produção de máquinas e equipamentos voltados ao agronegócio. O município localizado às margens do Rio do Peixe detém a terceira posição em desenvolvimento humano, ficando atrás apenas de Florianópolis e Balneário Camboriú. Ainda neste quesito, a região Oeste conta com sete das 20 cidades com maior desenvolvimento humano de Santa Catarina.
Uma das características regionais é a alta dispersão geográfica das empresas, que estão espalhadas pelas dezenas de pequenos municípios. A situação, por um lado, colabora para a distribuição de riquezas em pequenos municípios com indústrias de peso, como Mondaí, São Lourenço do Oeste, Maravilha e Princesa. Mas para as indústrias pode trazer a desvantagem do isolamento. Empresas localizadas em grandes aglomerados territoriais e produtivos geralmente obtêm mais facilidades com fornecedores, recursos humanos e acesso a insumos.
Isso é o que oferece Chapecó, conhecida como a “capital do Oeste”, que sozinha gera quase um quinto do PIB da região. Nos últimos anos o município se firmou como vibrante polo econômico, com indústrias de grande porte, fornecedores próximos, comércio pujante e serviços sofisticados. Para se ter uma ideia, a cidade de 250 mil habitantes possui nada menos que 40 instituições de ensino superior e já se consolidou como um centro de inovação e tecnologia. A base industrial se diversifica e a construção civil está entre as mais aquecidas de Santa Catarina. Desde 2010 a população do município cresceu 37%, demandando o surgimento de novos bairros e a verticalização da região central.
Chapecó: a “capital do Oeste” gera quase um quinto do PIB da região - Foto: Divulgação
“Os investimentos industriais são diretamente responsáveis pelo desenvolvimento de Chapecó. A expansão urbana e a melhoria dos indicadores sociais decorrem da evolução dos níveis de renda da população, e isso só é possível em ambiente com ampla oferta de empregos”, diz Thiago Etges, secretário de Governo da prefeitura.
De janeiro a novembro do ano passado foram criadas 4.311 novas vagas de trabalho com carteira assinada na cidade. Outro dado que ilustra a expansão de Chapecó é o Valor Adicionado na economia. O crescimento do indicador foi de 21,4% em 2021, de acordo com a Secretaria de Estado da Fazenda.
Grande parte dos valores gerados permanece no município, transformando-se em recursos para melhorar os serviços públicos. “Estamos investindo em novos equipamentos na cidade, em saúde, educação, assistência social, infraestrutura, segurança pública, turismo de eventos e negócios, além de rotas turísticas no meio rural”, conta Etges.
E, como não poderia ser diferente, a cidade quer se tornar ainda mais atraente para investimentos. Chapecó tem uma lei específica de incentivo, que também estimula a ampliação dos empreendimentos industriais já instalados. Para este ano está prevista a implantação de um novo distrito industrial, para absorver 74 novas plantas, alimentando o ciclo virtuoso que sustenta o crescimento do Oeste catarinense.
Crescimento populacional aqueceu a construção civil em Chapecó - Foto: Divulgação
Longe do mercado, mas muito eficaz
Maior fábrica de móveis do Estado fica na distante Mondaí, de 12 mil habitantes.
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Com 30 anos de atividade completados em 2022, a Móveis Henn está sediada em Mondaí, município de 12 mil habitantes do Extremo Oeste. Apesar de estar longe dos polos moveleiros tradicionais, a empresa é considerada a maior do Estado no segmento. Com uma linha de produção e logística eficientes, focada em móveis modulados, a Henn trabalha com estoque de aproximadamente 500 itens, todos a pronta entrega. O carro-chefe é o mobiliário para dormitórios, mas há opções para cozinha, sala de jantar e linha infantil, com itens populares ou mais requintados.
Para garantir o fluxo de todo esse estoque, a longilínea fábrica de 80 mil metros quadrados trabalha sem parar. Quase 20% da área é utilizada para estocar as peças prontas. “Para vários itens, a gente poderia ficar entre 45 e 60 dias sem produzir que ainda assim teríamos estoque”, revela o diretor administrativo da empresa, Édio Grassi.
A clientela é pulverizada: são mais de 24 mil pontos de venda no Brasil, de grandes magazines a pequenos comércios. Cerca de 15% da produção é destinada à exportação. A empresa conta com uma forte presença digital. Soma quase 120 mil seguidores no Instagram e gera com frequência conteúdo voltado para revendedores e o consumidor final, com dicas de como limpar móveis, cuidados para quarto de bebê, entre outros. A geração de conteúdo ajuda a manter a marca entre as mais lembradas do Prêmio Top Móbile há mais de dez anos.
A Móveis Henn é a principal empregadora de Mondaí, com cerca de mil funcionários vindos da cidade e dos municípios vizinhos. Grassi, que é natural de Mondaí e trabalha na empresa há 22 anos, destaca que o crescimento da Henn impulsionou o surgimento de empresas transportadoras no município, que trabalham tanto para trazer matéria-prima (chapas de madeira vindas de São Paulo e Paraná) quanto para distribuir a produção. “Mas há uma certa dificuldade em atrair mão de obra para um município tão pequeno, principalmente em áreas como de TI”, avalia Grassi.
Empreendedorismo: um caso prático
Temasa, de Caçador, foi da roça ao topo do mundo em duas décadas.
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Fazer boas limonadas de diversos limões pontua a impressionante trajetória da Temasa, fabricante de móveis de Caçador comandada pelo casal Lire e Leonir Tesser. Lire veio de uma família de agricultores e começou a trabalhar aos 13 anos como dama de companhia. Leonir ficou órfão de pai aos 10 e passou a se virar como vendedor de lenha, de picolé, engraxate e catador de sucata. Meses após se casarem, em 1990, investiram os parcos recursos em uma pequenina marcenaria de chão batido. Para a primeira ampliação aproveitaram tambores de cola vazios para fazer com eles chapas metálicas, que se tornaram a cobertura da fábrica.
O negócio avançou com a fabricação de aberturas, mas logo surgiram restrições ao uso de imbuia e outras madeiras nobres. A solução foi utilizar pinus, já abundante na região, porém ainda pouco aceito no mercado nacional. O jeito foi encontrar clientes no exterior. Para dar conta das encomendas, a empresa tinha dificuldades em obter matérias-primas nas serrarias – a chamada madeira longa, necessária para a confecção de aberturas. Por outro lado, havia abundância de madeira curta. A partir de uma incursão a uma feira de móveis na Europa, Leonir firmou parceria para fornecer pequenas estantes. A Temasa iniciava a fabricação de móveis e dava um grande salto de crescimento.
Outro salto viria em 2012, quando o real estava hipervalorizado e não remunerava as exportações. Muitos concorrentes saíram do mercado, mas a Temasa dobrou a aposta. Àquela altura a empresa já era verticalizada, produzindo toda sua matéria-prima, o pinus, que representa metade dos custos de produção. Com esses custos sob controle pôde elevar o volume de exportações em 65%, ganhando escala. Mais recentemente, para aproveitar rejeitos de madeira, a Temasa desenvolveu, em parceria com a Ikea, um novo produto: caixas montáveis de madeira para guardar objetos diversos. São produzidas 1,2 milhão de unidades por ano só deste produto. “É preciso ter coragem para promover mudanças”, afirma Leonir Tesser.