Jorginho Mello: “Sempre fomos líderes em competitividade, mas nos últimos anos estamos vendo essa competitividade ser desafiada, e temos que agir” - Foto: Cristiano Andujar/SECOM
Em sua visão, qual é o papel da indústria para o desenvolvimento socioeconômico do Estado?
O protagonismo da indústria se confunde com a própria história dos catarinenses e do Estado. Afinal, grandes cidades conseguiram atingir o desenvolvimento e a melhor distribuição de renda através da presença das empresas. A industrialização foi o que possibilitou para muitos de nós termos as primeiras participações na sociedade. Tenho lembrança do meu primeiro emprego. Foi em uma indústria, no frigorífico Pagnoncelli, em Herval d’Oeste, aos 13 anos. Recordo com muito carinho daquele momento, pois foi ali que tive contato com o mercado formal de trabalho, pude ter meu primeiro salário e ajudar mais a minha família. Ou seja, o trabalho, o emprego é o melhor programa social que existe. É fundamental que atuemos como animadores para que a indústria continue a desempenhar seu papel de importante agente de transformação social.
E qual é o papel do setor público para o desenvolvimento econômico?
O papel do gestor público é justamente o de ajudar a pensar lá na frente, tendo ideias que possam colocar Santa Catarina na vanguarda de muitos setores. Enquanto senador criei o Pronampe, que foi a melhor linha de crédito dos últimos 30 anos no País. Foram mais de 10 milhões de empregos salvos na pandemia por meio dessa linha, que depois virou política pública permanente. Isso é um bom exemplo do que pretendo fazer no Estado catarinense. Uma política de crédito com garantias para multiplicar os investimentos no setor privado. Além disso, quero definitivamente colocar para frente as obras estruturantes há muito prometidas e que nunca saíram do papel, como é o caso da “Ferrovia do Frango”, que ligaria o Oeste ao litoral do Estado. Isso não se faz do dia para a noite. Estamos falando de 10 ou 15 anos de trabalho, e é preciso vontade política. O governante precisa deixar um legado duradouro e que beneficie de fato a população de Santa Catarina.
Considerando o cenário de grandes transformações tecnológicas, climáticas e geopolíticas, quais o senhor considera as maiores ameaças e oportunidades ao desenvolvimento do Estado?
Precisamos estar atentos à queda na competitividade de Santa Catarina. Vejo isso como a maior ameaça ao nosso estado. Sempre fomos líderes em competitividade, mas nos últimos anos estamos vendo essa competitividade ser desafiada, e temos que agir! O cenário político vai e vem, muda muito, mas a necessidade de produzir e trabalhar em Santa Catarina é crescente e perene. Então, não podemos descansar para darmos condições a quem produz e quem trabalha conseguir enfrentar todas essas transformações. Costumo brincar: “O Estado de Santa Catarina é tão bom que o Governo só não pode atrapalhar, pois ele anda sozinho”. Quero dizer é que precisamos ter políticas públicas consistentes para alavancarmos a geração de receitas, a geração de emprego, renda e bem-estar, sem criar dificuldades para vender a solução. E nos anteciparmos às ameaças que as transformações podem trazer. Sempre haverá oportunidades nessas ameaças. É planejar, monitorar e usar a tecnologia e inovação a nosso favor.
A FIESC defende a criação de um Conselho Permanente de Desenvolvimento do Estado para o planejamento do futuro. O senhor concorda com esta proposta?
Claro, tanto é que isso estava na carta que recebi do presidente Mario Aguiar (da FIESC) na oportunidade das eleições do ano passado, enquanto ainda era candidato ao governo. Vejo que debater ações conjuntas do poder público com a iniciativa privada é o caminho mais assertivo para equacionarmos com mais agilidade e rapidez os problemas urgentes do nosso estado. Como, por exemplo, a infraestrutura, que atualmente está travando os investimentos e retardando o progresso das nossas empresas.
A maior parte das rodovias estaduais tem falta de manutenção e necessita de melhorias. O senhor se posiciona contra concessões para as estaduais. Como resolver o problema?
Sempre fui contra pagarmos pedágio nas estradas estaduais. Defendo que isso seja feito com as federais, que inclusive já estão em um plano de concessão do Governo Federal. Precisamos entregar as federais para a iniciativa privada cuidar e, a partir daí, atacar de uma vez só, simultaneamente, a manutenção e a restauração das rodovias estaduais. Faremos isso através de um crédito estrangeiro, com juros baixos. Só assim vamos definitivamente acabar com essa ferida em Santa Catarina, que ameaça nossa competitividade.
O Governo Estadual viabilizou, no passado, a continuidade de obras nas BRs 163, 280 e 470. O Governo poderá seguir investindo nestas rodovias? Ou como pretende encaminhar soluções?
Não será possível fazer isso. Afinal, o déficit deixado nas contas do Governo do Estado é assustador. São quase R$ 3 bilhões. Além disso, se não fosse a atuação dos senadores, este meio bilhão que foi aplicado não seria descontado da dívida do Estado com a União. Ou seja, foi uma aplicação mal feita e irresponsável. A promessa de recursos inesgotáveis não existe. Tanto que, em relação à extravagância com o dinheiro, o Ministério Público mandou suspender os repasses de recursos, pois inúmeras transferências sequer têm prestação de contas. Então precisamos ser sinceros e responsáveis. Na época, inclusive, foi prometida a conclusão dos lotes 1 e 2 da BR-470 ainda em 2022 através dessa aplicação. Quem passa por lá com frequência sabe que pouca coisa mudou.
Qual é a sua visão sobre a implantação de ferrovias em Santa Catarina?
Vejo isso como a chave do sucesso de Santa Catarina. O problema está em equacionar a relação demanda, viabilidade técnica e lucratividade. Sempre defendi o avanço desses projetos e o lançamento de uma licitação internacional para construção de ferrovias no Estado. Afinal, são obras bilionárias e nem o Governo Estadual nem o Federal tem condições de fazê-las. Além disso, o tempo de construção terá que ser menor do que as obras tocadas pelo setor público em geral, por isso não podemos pensar duas vezes. Ferrovias em Santa Catarina precisam ser construídas e exploradas pela iniciativa privada, para que se tenha qualidade no serviço e viabilidade econômica.
A FIESC defende a realização de planejamento integrado e sistêmico da logística com a consolidação de um Plano Estadual de Logística e Transporte. Seu governo fará isso?
Não tenha dúvida que já começamos a trabalhar em um sistema integrado de logística e de escoamento da nossa produção. Por isso falo tanto em ferrovia. Não podemos ficar reféns só de um modal de transporte. Fazer isso é deixar o futuro do Estado entregue nas mãos da própria sorte. Já temos um esboço de unificação do transporte em Santa Catarina, usando cada potencialidade de cada região. É um dos compromissos para este governo.
Que critérios serão considerados para a revisão dos incentivos fiscais?
Precisamos passar uma lupa em todos os incentivos. A ordem é não perder a competitividade. Estamos avaliando quais setores empregam mais, quais causam menos impactos ou têm mais compromissos com o meio ambiente e quais podem puxar a fila da geração de receitas. Nosso compromisso com esta questão também é dar segurança jurídica para quem trabalha e paga as contas. Este foi um dos motivos da criação da Secretaria de Estado da Indústria, Comércio e Economia Verde: melhorar o ambiente de negócios. Por exemplo, seguiremos aqui a tendência mundial de preservação ambiental. Daremos incentivos ao produtor rural que preserva a área verde da propriedade, para garantirmos sustentabilidade, sem perder de vista o equilíbrio financeiro do produtor.
O Governo demonstra prioridade para a educação superior, mas qual é o projeto para melhorar a educação básica e a preparação para o mundo do trabalho?
Este é um dos principais compromissos do Governo. Deixaremos um legado importante na educação, que será um dos maiores patrimônios do Estado daqui a alguns anos. Hoje não temos mais mão de obra qualificada. Já ouvi de inúmeros empresários que eles precisam viajar para outras unidades da Federação para buscar gente preparada. Isso é inadmissível. Isso acontece porque o ensino médio de hoje só prepara o jovem para prestar vestibular. Então foi analisando este tipo de cenário que lançamos o programa Faculdade Gratuita. Para que todos os catarinenses possam ter formação sem ter que desistir do sonho por falta de condições financeiras. Além disso, faremos uma grande parceria com o Sistema S para podermos qualificar os jovens e formar profissionais para atender a indústria e o comércio. Com estas ações faremos de Santa Catarina o melhor lugar do Brasil para viver, trabalhar, estudar e investir.
Obras na BR-280: “Precisamos entregar as rodovias federais para a iniciativa privada cuidar. Faremos a manutenção e a restauração das estaduais através de um crédito estrangeiro, com juros baixos” - Foto: Arquivo FIESC