Existem 124 indústrias de embalagens no Oeste de SC, totalizando 7,7 mil trabalhadores - Foto: Shutterstock
Região de desenvolvimento mais tardio de Santa Catarina, o Oeste do Estado é hoje um dos principais polos de produção de alimentos do mundo, com qualidade, sanidade e tecnologia que garantem às principais empresas o acesso a mercados em todo o mundo. Os pioneiros do sistema de produção que funcionou perfeitamente a seu tempo e vigora até hoje, que inclui a parceria entre a indústria e pequenos produtores, são reconhecidos pelo papel decisivo de suas empreitadas. Um deles é Saul Brandalise, que liderou por décadas a Perdigão, de Videira, marca que pertence atualmente à BRF. Dentre seus feitos destaca-se a viabilização da avicultura em larga escala, fator decisivo para que a agroindústria chegasse às dimensões atuais. O primeiro abatedouro exclusivo de frangos da empresa começou a operar em Videira, em 1975.
Destaca-se também o efeito multiplicador da agroindústria, que demanda uma gama impressionante de produtos e serviços para funcionar. No rastro do crescimento do setor, diversos novos negócios se tornaram relevantes no Oeste catarinense e posteriormente ganharam envergadura para voos mais altos. Um deles é o de embalagens plásticas para alimentos. Nos anos 1980, com a produção e exportação de carnes de aves rodando a todo vapor, um dos maiores gargalos existentes era a disponibilidade de embalagens, que tinham de vir de outros estados ou ser importadas. Além de quantidades cada vez maiores, elas deveriam ter características especiais para atender às exigências de importadores.
Foi nesse contexto que o próprio Saul Brandalise e dirigentes da Perdigão fomentaram a criação de indústrias de embalagens locais, encorajando trabalhadores da empresa a empreender. É esta a origem da Videplast, criada em Videira em 1986 por cinco sócios – quatro deles são da mesma família, a Denardi. Além de funcionários da Perdigão, a sociedade original era composta por pessoas que atuavam na agricultura, setor bancário e comércio, todos com ligações com o agronegócio. Deu tão certo que atualmente a Videplast é a principal empresa do setor em toda a América Latina. “Naquele tempo já existiam algumas empresas do setor aqui, mas nenhuma era referência para a agroindústria”, conta o diretor administrativo da Videplast, Eliandro Pazin, filho de um dos fundadores da empresa.
Desde então novas companhias se estabeleceram em Videira e diversos outros municípios do Oeste. Em toda a região existem 124 indústrias de embalagens, a maior parte de material plástico, mas também de papel, madeira e papelão ondulado. Elas empregam um total de 7,7 mil trabalhadores, de acordo com o Observatório FIESC. “As indústrias de proteína animal acabaram consolidando diversos setores na região, entre eles o de embalagens”, afirma Djalma Aquino Azevedo, presidente do Sindicato da Indústria do Material do Plástico do Oeste Catarinense (Sindiplasc). “Criou-se uma demanda e a partir desta necessidade os empreendedores responderam com indústrias”, explica.
Videplast, em Videira - Foto: Divulgação
Centro-Oeste | A Videplast teve um início modesto, com somente duas máquinas e cinco colaboradores encarregados da produção. O portfólio se concentrava em embalagens para carne, como sacolas e folhas plásticas, além de sacos para lixo. A empresa cresceu rapidamente, em sintonia com a expansão da agroindústria. Um bom exemplo é o projeto da Perdigão na Região Centro-Oeste, em 1997. A companhia, já sob o controle acionário de fundos de pensão e a gestão profissionalizada, instalou um frigorífico em Rio Verde, no Estado de Goiás, para obter mais facilidade de acesso a insumos como o milho e também a recursos humanos. A Videplast também investiu em uma nova unidade industrial, no mesmo município de Rio Verde. “Para onde o agro cluster foi, a Videplast foi indo junto”, diz Pazin, resumindo os passos seguintes da companhia.
Diante da operação bem estruturada em Videira e na filial, a companhia avançou para a inauguração de uma terceira planta, no município de Várzea Grande, em Mato Grosso, outro polo emergente de produção agropecuária. Na sequência veio a quarta unidade, em Três Rios, no Rio de Janeiro, e a quinta, desta vez em União da Vitória, no Paraná. Agora está em fase de construção a sexta fábrica, em Manaus, no Amazonas, que deve começar a operar em 2024. Atualmente a empresa conta com quase 3 mil funcionários e capacidade produtiva de 10 mil toneladas por mês. Além das embalagens para o setor de alimentos, a Videplast atende as áreas farmacêutica, pet, hospitalar e química. Indiretamente, até 70% da produção é exportada pelas indústrias de alimentos – o foco da empresa continua sendo a agroindústria.
Embalagem premiada: tecnologia inovadora - Foto: Divulgação
Impressão | Para se manter relevante em um mercado exigente e sensível, que demanda novas embalagens que diminuam o uso de plástico, sejam ecologicamente corretas e garantam um produto seguro e com vida útil prolongada, a companhia investe em inovação. Criou um laboratório para testar e desenvolver tecnologias na área do plástico em conjunto com os clientes. Um dos projetos, recém-premiado, resultou em um tipo de embalagem com desempenho elástico comparável às termoencolhíveis, que são capazes de diminuir de tamanho para envolver perfeitamente todo o produto. Porém, a nova tecnologia tem menor tempo de fabricação e metade do preço. Quanto ao maquinário, um destaque é o parque de impressão, considerado o maior do Brasil, com máquinas alemãs de 10 cores.
Outra empresa que se aproveitou de forma estratégica do nicho criado pelas agroindústrias é a Preluz. Instalada em Videira desde 2001, fundada por empreendedores locais, começou como prestadora de serviços para a indústria de alimentos e hoje produz embalagens para vários segmentos. Emprega 120 funcionários e produz 4,1 mil toneladas por ano entre embalagens virgens e recicladas. O portfólio inclui embalagens plásticas flexíveis lisas e impressas com resina virgem, com resina reciclada, redes de poliéster para embutidos e barbantes de algodão. A intenção da Preluz é investir para aumentar a produção em 70% nos próximos três anos, de acordo com a diretora da companhia, Lana Demenek Pelle.
Fábrica da Preluz: plano de aumentar a produção em 70% nos próximos três anos - Foto: Divulgação
Também videirense, a Prevemax foi criada em 1996 para oferecer equipamentos de proteção individual impermeáveis e descartáveis, ganhou espaço no mercado e passou a produzir embalagens voltadas para a indústria de alimentos em uma fábrica no município vizinho de Rio das Antas. Atua também no mercado de saúde a partir de uma unidade industrial em Ciudad del Este, no Paraguai. As três fábricas e um centro de distribuição empregam cerca de 500 funcionários.
Unidade de embalagens da Prevemax, em Rio das Antas: voltada ao setor alimentar - Foto: Divulgação