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Correção de rota para chegar mais rápido

A Librelato começou projeto de P&D internamente, mas o sistema de telemetria para implementos rodoviários ganhou tração após a criação de uma spin-off que se desenvolve dentro do Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados. - Por Fabrício Marques

Uso de recursos em implementos ajuda a prevenir problemas e reduzir custos - Foto: Divulgação

Uma parceria entre a Librelato, um dos principais fabricantes de implementos rodoviários do País, e o Instituto SENAI de Inovação (ISI) em Sistemas Embarcados, em Florianópolis, resultou no desenvolvimento de um sistema de telemetria que vai fornecer a motoristas de caminhão e gestores de frotas dados essenciais para controlar desempenho e custos de seus basculantes, cegonhas, tanques ou graneleiros.

A solução tecnológica batizada de FleetSense é composta por diversos sensores, que podem ser instalados em diferentes pontos ou equipamentos de implementos, e se acoplam a um módulo que concentra todos os dados e os transmite para uma plataforma de software em uma nuvem.

Lá, as informações são processadas e os resultados podem ser analisados por meio de um aplicativo de celular. Dessa forma, os gestores de frotas poderão saber com precisão parâmetros como o peso da carga que está sendo transportada, a temperatura e a pressão dos pneus, o uso do freio, o funcionamento do sistema hidráulico de basculantes – qualquer função do implemento rodoviário que puder ser monitorada por sensores é elegível para ser incorporada ao serviço.

A intenção não é comercializar o hardware e os sensores, que seriam instalados sem custo para o cliente, mas sim vender a donos e motoristas de caminhões assinaturas de serviços, que podem conter diferentes pacotes de informação coletados nos implementos. Testes da nova tecnologia estão sendo feitos com ao menos cinco clientes da Librelato, mas a solução também poderá ser aplicada em implementos de outros fabricantes.

“Nosso objetivo é ajudar a desenvolver a cadeia logística como um todo. Queremos entender quais são as dores dos clientes na ponta das operações de transporte e ajudar a dar respostas rápidas às suas necessidades”, afirma João Vitor Librelato, coordenador de Estratégia e Novos Negócios da empresa. “É comum que as transportadoras saibam pouco sobre o desempenho dos implementos, embora eles concentrem o valor da carga, e não disponham de informações nem mesmo sobre os quilômetros que eles rodaram – em geral, o que se monitora é a quilometragem do caminhão”, completa.

Com cerca de 1.600 funcionários e unidades fabris em Içara e Criciúma, a Librelato fabrica 10 mil implementos rodoviários por ano e detém 14% do mercado. É o segundo maior exportador brasileiro destes produtos. Em anos recentes tem investido em sua transformação digital, com a aquisição de uma nova central de dados e implantação de conceitos da Indústria 4.0 – um exemplo foi a aquisição da maior célula de solda robotizada da América Latina para a fábrica de Criciúma, capaz de soldar uma estrutura completa em 30 minutos.

10 mil

Implementos rodoviários fabricados por ano pela Librelato

Cogitações | O projeto do FleetSense teve início em março de 2021, com financiamento do programa federal Rota 2030, voltado para o desenvolvimento tecnológico da cadeia automotiva, e apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Antes de recorrer ao ISI para desenvolver internamente um novo produto, a Librelato chegou a cogitar uma colaboração com uma empresa da área de conectividade, mas a ideia foi descartada porque experiências anteriores não haviam alcançado a sinergia e os resultados esperados. Outra possibilidade seria comprar uma empresa de base tecnológica, mas os custos e os riscos foram considerados altos.

A expertise dos pesquisadores do Instituto foi fundamental para a criação da plataforma. “Fomos responsáveis, por exemplo, pelo desenvolvimento de sensores e de hardware. Vários projetos já usaram esse tipo de competência dos nossos pesquisadores, mas foi a primeira vez que isso envolveu a elaboração de um dispositivo aplicado à mobilidade”, conta Paulo Violada, pesquisador-chefe do ISI em Sistemas Embarcados.

O trabalho segue o modelo de colaboração que é padrão nos Institutos, envolvendo cocriação e codesenvolvimento, unindo as competências técnicas dos pesquisadores à expertise do negócio do cliente. “Trazemos o cliente para dentro do projeto e fazemos o trabalho conjuntamente”, diz Violada, que também ganhou assento no comitê de inovação da Librelato para ajudar a orientar novas estratégias, principalmente as relacionadas à Indústria 4.0.

A trajetória até o desenvolvimento do FleetSense envolveu uma correção de rota importante, diante da percepção de que não se alcançaria rapidamente um produto comercialmente viável. Em novembro do ano passado, sete meses após o início do projeto, a Librelato decidiu criar uma startup, a Sigaway, dedicada integralmente ao aperfeiçoamento do sistema e à sua comercialização, para que os responsáveis pelo projeto tivessem mais autonomia e menos burocracia. “Tiramos da empresa para ganhar agilidade, porque quando as empresas se tornam muito grandes acabam incorporando muitos processos. Já a startup é ágil, suas decisões precisam ser rápidas”, diz José Carlos Sprícigo, CEO da Librelato.

Sprícigo: startups precisam ser ágeis para dar resultados - Foto: Divulgação

A Sigaway tornou-se, assim, uma spin-off da Librelato, derivada da empresa-mãe para explorar uma nova tecnologia e um novo mercado. “O core da Librelato é a área de mecânica, e o projeto, da área de mecatrônica e de tecnologia de informação, exigia competências novas e específicas”, informa o engenheiro mecânico Willians Zanoli, gerente de Produto da Sigaway.

O projeto de Pesquisa e Desenvolvimento foi transferido para a Sigaway, hoje com cinco funcionários e sediada nas dependências do ISI em Florianópolis. A startup está formando ela própria alguns de seus quadros graças ao apoio dos desenvolvedores seniores do Instituto, que se tornaram mentores dos funcionários que ingressaram na Sigaway.

A Librelato enxergou essa oportunidade de negócios ao observar uma mudança de perfil nos produtos que fabrica. Os sistemas eletrônicos embarcados há tempos estão presentes nos caminhões, mas não nos implementos. Recentemente, tanques, bas­cu­lantes e graneleiros passaram a ter recursos eletrônicos como itens opcionais, a exemplo de freios eletrônicos que evitam o tombamento. E a tendência é que outros itens sejam incorporados. A partir de 2025 todo implemento rodoviário deverá ter freio eletrônico como item obrigatório.

Os equipamentos que tornam os implementos mais inteligentes e criam dados, que se somam aos dados captados pelos sensores do FleetSense. “O desenvolvimento da plataforma será aperfeiçoado continuamente ao trabalhar, por meio de algoritmos e de inteligência artificial, o grande volume de dados obtidos em tempo real nas estradas brasileiras”, diz Paulo Violada.

O uso desses recursos acompanha uma evolução no perfil tanto das empresas de logística quanto dos motoristas de caminhão. “O motorista está se tornando um gerente de produto. Ele cuida de um ativo que custa mais de R$ 1,5 milhão, fora o valor da carga, e precisa cada vez mais ter parâmetros que ajudem a prevenir problemas e reduzir custos”, afirma Willians Zanoli.

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