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O mercado brasileiro de suplementos alimentares fechou 2023 com faturamento de R$ 6,4 bilhões e a perspectiva é alcançar R$ 10,8 bilhões até o final de 2028, crescimento projetado de quase 70% no período, de acordo com estudo da consultoria Yourside. Essa forte expansão é consequência direta das crescentes preocupações dos brasileiros com a prevenção de doenças e a busca pelo bem-estar físico e mental, fenômeno que ganhou força no pós-pandemia e tem impulsionado o interesse pela medicina funcional, linha focada em evitar o surgimento de doenças. A edição mais recente da pesquisa “Voz do consumidor: saúde e nutrição”, da Euromonitor, constatou que 22% dos brasileiros concordam com a frase “Vitaminas e suplementos são importantes para minha saúde e nutrição geral”, contra 16% na última edição anterior à pandemia.
“Os suplementos são uma alternativa prática para manter o equilíbrio em meio à correria do cotidiano. Por mais que a pessoa procure ter uma alimentação saudável, dificilmente consegue atingir todas as necessidades de nutrientes”, afirma a nutricionista Sendy Speck, que atua em Florianópolis. Ela enfatiza que é fundamental buscar avaliação especializada para definir uma estratégia personalizada de suplementação. E lembra que, como o próprio nome indica, os suplementos têm a missão de oferecer algo a mais. “Não são uma solução mágica ou milagrosa, e sim o complemento de uma rotina saudável, que envolve alimentação balanceada e prática de exercícios físicos”, observa a nutricionista.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a ingestão diária de pelo menos 400 gramas de frutas, verduras e legumes, mas só 8% dos brasileiros consomem frutas com frequência e apenas 2% ingerem a quantidade ideal de vitaminas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa carência acumulada pode ter sérias implicações para a saúde – a insuficiência de vitamina A, por exemplo, reduz a imunidade e o nível de proteção contra os radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento das células.
Os suplementos alimentares são divididos em três grandes grupos, relacionados aos objetivos de cada público-alvo: clínico (destinado à reposição de vitaminas e minerais que estão em falta no organismo para a melhora de um quadro específico), bem-estar (com o objetivo de melhoria da qualidade de vida, não necessariamente com foco em reposição de um ativo específico, mas em busca de energia, concentração, relaxamento e humor) e esportivo (melhoria da performance atrelada às atividades físicas).
Dois dos suplementos mais populares hoje em dia são uma dupla bem conhecida dos frequentadores de academia, o whey protein e a creatina. O whey é produzido, em geral, a partir da proteína extraída do soro de leite e tem o papel de acelerar o aumento da massa muscular, pois intensifica o processo de recuperação das fibras musculares. Já a creatina é um aminoácido que traz uma série de benefícios ao organismo, como a prevenção de doenças crônicas, o fortalecimento dos ossos e o favorecimento da atividade cerebral.
Do ponto de vista da indústria, o mercado de suplementação se mostra atraente por diversos fatores. Ao mesmo tempo que o público interessado tende a crescer, considerando-se as projeções de maior longevidade da população brasileira, trata-se de um tipo de produto que pressupõe compra regular. A crescente diversidade do portfólio é outro trunfo, consequência da evolução das pesquisas que identificam estratégias para suprir nutrientes específicos, com diferentes funções no organismo humano.
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Propósito | Uma das empresas que estão participando ativamente do movimento de expansão do mercado de suplementos alimentares é a Catarinense Pharma, antigo Laboratório Catarinense, fundado em 1945 em Joinville. É uma nova frente para a tradicional marca, que durante muito tempo atuou exclusivamente com produtos voltados ao combate de doenças, tanto medicamentos quanto fitoterápicos – incluindo o conhecido Melagrião, o xarope fitoterápico mais vendido do Brasil. “Entrar no mercado de suplementação tem tudo a ver com o propósito histórico da empresa, que é ‘ser fonte de saúde’”, diz o CEO da companhia, Alexandre Bornschein Silva, bisneto do fundador, Alberto Bornschein.
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O executivo observa que, graças à evolução da tecnologia, o mercado de suplementação traz novos elementos para contemplar as expectativas das pessoas por uma vida mais longa e com mais qualidade. “O conceito de saúde mudou. Antes era sinônimo de ausência de doença e hoje é um passo anterior: fortalecer o corpo para reduzir as chances de que alguma doença se instale.” É uma transformação que pode ser claramente percebida nas farmácias, acrescenta o CEO da Catarinense Pharma. “Esses estabelecimentos só eram procurados quando a pessoa tinha alguma doença, para a compra de medicamentos. Hoje, uma proporção significativa dos produtos à venda tem caráter de prevenção.”
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Dos 600 produtos do portfólio atual da Catarinense Pharma, mais de 80% pertencem à categoria dos suplementos. Um dos destaques é a liderança nacional em ômega 3, nutriente que proporciona uma série de benefícios – ajuda a prevenir doenças cardiovasculares, possui efeito anti-inflamatório, aumenta a saúde da pele, fortalece as articulações e contribui para estabilizar o humor, entre outros. Um dos diferenciais da empresa, observa o CEO, são os cuidados decorrentes da origem como laboratório farmacêutico. “Temos um controle de qualidade mais rigoroso em comparação a quem só faz suplementos, já que os nossos parâmetros são os mesmos para todos os produtos do portfólio.”
A linha de suplementos da Catarinense Pharma já é responsável por cerca de 70% da sua receita e vem sendo decisiva para o acelerado ritmo de crescimento da indústria, na casa de 20% ao ano. Em 2021, a empresa abriu uma filial em Aparecida de Goiânia (GO), unidade que se juntou à matriz, em Joinville. O número de funcionários passa de 650, além de mais de 200 representantes de vendas espalhados por todo o território nacional.
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Relaxamento | Outra tradicional indústria catarinense que também acaba de ingressar no mercado de suplementos é a Água da Serra, fundada em 1943 em Braço do Norte, no Sul do Estado, conhecida pela fabricação de refrigerantes como a icônica Laranjinha. Em 2019, a empresa já havia lançado a linha de chás Laví para contemplar as preferências de um público interessado em saudabilidade e mais cuidados com o corpo. Agora, em meados de 2024, colocou no mercado uma linha de águas funcionais, marco da entrada no setor de suplementos.
“Foram três anos de pesquisas e de preparação para dar esse passo. É uma categoria de produtos que já existe nos Estados Unidos e na Europa, mas que permanecia inédita no mercado brasileiro”, informa o CEO da Água da Serra, Eymard Frigotto. “Não se trata de água saborizada, e sim de água com suplementos que trazem benefícios à saúde, com formulações focadas em atributos específicos, como concentração, energia, beleza e relaxamento”, descreve. Embora não tenham contraindicações, as águas funcionais são destinadas ao público acima de 18 anos.
Frigotto diz que, além de atrair novos consumidores, o propósito da empresa ao abrir essa frente envolve também o vínculo com os consumidores tradicionais, que ganham opções adicionais da marca. “Há quem bebeu refrigerante por muitos anos e agora precisa mudar de hábitos por recomendação médica”, exemplifica. Para estruturar a distribuição das águas funcionais e assegurar que a oferta chegue ao público interessado, a Água da Serra está desenvolvendo novas parcerias e alianças estratégicas, já que os suplementos representam, em muitos aspectos, um mercado diferente daquele tradicionalmente explorado pela empresa. A meta é fechar o ano com a produção mensal de 50 mil pacotes de águas funcionais – cada pacote contém 12 latinhas de 269 ml.
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Saiba mais sobre suplementos alimentares
O que são os suplementos alimentares?
São produtos consumidos por via oral, em diferentes formas (cápsula ou comprimido, pó, líquido, gel, barra, pastilha de goma), que possuem a função de complementar a alimentação de pessoas saudáveis, fornecendo nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probióticos, seja de forma isolada ou combinada.
Por que consumimos suplementos alimentares?
Os suplementos alimentares são consumidos com o objetivo de suprir as necessidades nutricionais que não são atingidas na alimentação diária. Compostos por ingredientes específicos, complementam a ingestão de nutrientes e promovem o equilíbrio nutricional do indivíduo que os consome.
Como é a composição dos suplementos?
Os ingredientes constituintes dos suplementos alimentares fornecem benefícios de funções fisiológicas ou metabólicas ao organismo. Cada ingrediente desempenha uma função específica e é utilizado de acordo com os objetivos individuais. Esses ingredientes são categorizados como nutrientes (proteínas, carboidratos, fibras alimentares, lipídios), micronutrientes (vitaminas, minerais, aminoácidos), substâncias bioativas, enzimas e probióticos.
Como é a identificação na embalagem?
O rótulo deve incluir a inscrição “suplemento alimentar” e indicações de consumo: público-alvo, quantidade de ingestão e frequência de uso. Além disso, a informação nutricional ajuda os consumidores a entender as finalidades do suplemento e os ingredientes principais nele contidos.
Suplementos alimentares são seguros?
Antes de chegarem às mãos dos consumidores, os suplementos alimentares são desenvolvidos seguindo normas rigorosas estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Cada ingrediente é submetido a uma análise prévia para obter aprovação e determinação de limites de uso, passando por um restrito processo de avaliação de segurança e eficácia, e, assim, constituir um suplemento.
Fonte: Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad)