Florianópolis, 3.10.2023 - O ambiente econômico brasileiro tem impactado negativamente os investimentos na indústria de transformação. A parcela do PIB do setor destinada ao aumento da capacidade produtiva vem sendo reduzida ao longo dos anos e, agora, sequer cobre a depreciação dos ativos. Estudo da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP) mostra que os investimentos atuais estão em cerca de 2,6% do PIB ao ano quando seria necessário, pelo menos, um nível de 2,7% ao ano apenas para cobrir os gastos com depreciação.
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O estudo estimou também a necessidade de investimentos da indústria de transformação – é a primeira vez que este dado é calculado. Para retomar o patamar dos anos 1970, quando a produtividade nacional era equivalente a 55% da americana (valor de referência para a economia brasileira), o país precisaria investir no setor em torno de 4,6% do PIB anualmente, por um período entre sete e dez anos. Ou seja, R$ 456 bilhões por ano para suprir os gargalos do complexo industrial e retomar a produtividade perdida, que hoje é de cerca de 20% da americana.
O estudo foi feito com base em informações da Pesquisa Industrial Anual (PIA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados mostram que os investimentos, isto é, a compra de máquinas, equipamentos, terrenos e edificações atingiu o menor valor dos últimos 20 anos em 2021, último ano disponível.
Além disso, os investimentos da indústria de transformação estão encolhendo em relação ao total investido na economia brasileira. Ao longo da primeira década dos anos 2000, representavam 20,9% do total dos investimentos do país e, em 2021, essa participação caiu para 12,9%. Esse desempenho negativo significa perda de oportunidades para expansão do parque industrial.
A indústria de transformação é estratégica porque é o setor que mais investe em pesquisa, é o mais inovador e tem o maior multiplicador econômico. Ou seja, quando ela cresce, alavanca todo o PIB e irradia crescimento para outros segmentos. Desta forma, o baixo investimento no setor gera atraso tecnológico, perda de produtividade e de competitividade.
O estudo mostra ainda que houve uma mudança estrutural na disposição dos investimentos, que estão cada vez mais concentrados na fabricação de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis. Entre 1996-2000, esse segmento representava cerca de 9% do investimento total da indústria de transformação. No período mais recente, 2017-2021, alcançou cerca de 1/3 do investimento total do setor.
“Ficar muito vinculado a setores cuja dinâmica de investimento está associada ao comportamento do preço internacional cria uma dependência extrema na estrutura produtiva que afeta, inclusive, excessivamente as receitas, dependendo do ciclo econômico”, diz Igor Rocha, economista-chefe da FIESP, que coordenou o trabalho.
Nesse contexto, excluindo o setor de coque e derivados de petróleo, uma conclusão importante do estudo é que há uma lenta renovação do estoque de capital na indústria de transformação. Entre 1996 e 2014, o estoque de capital do setor registrou um crescimento moderado, com aumento de 1,9% a.a., em média, devido a uma expansão dos investimentos mais acelerada. Porém, no período subsequente (2015-2021), houve queda, com variação negativa de cerca de 0,6% ao ano. A deterioração do estoque de capital acende um sinal de alerta, pois impacta negativamente a produtividade e a competitividade do país.
Para recolocar a indústria como motor de recuperação dos investimentos da economia brasileira, é preciso avançar com as reformas que beneficiem o ambiente de negócios, sobretudo a reforma tributária (com alíquota máxima do Imposto sobre Valor Agregado de 25%), melhorar as condições de financiamento e obtenção de crédito, além de capacitar a força de trabalho.
O potencial da indústria de transformação em termos de produtividade, geração de empregos de qualidade (maior formalização e remuneração), capacidade de difusão do progresso tecnológico e de multiplicar os efeitos entre as demais cadeias produtivas colocam o segmento como essencial para o desenvolvimento nacional. Por isso, é estratégico que o setor recupere o dinamismo do passado.
Com informações da FIESP.