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A WEG tem crescido no mundo com diversas aquisições. Como é alinhar essas operações à cultura da empresa?
Sou o quarto CEO de uma empresa de 63 anos. Não há muitas mudanças porque a WEG entende que tem de haver uma curva de aprendizado para se ocupar a posição. Quando se quer algo disruptivo se traz alguém de fora, mas quando se quer a manutenção dos valores se promove um prata da casa. Tenho 23 anos de WEG. Trabalhei com Eggon (João da Silva, um dos fundadores), Décio (da Silva, presidente do Conselho de Administração) e com Harry (Schmelzer, CEO anterior), então a cultura da empresa está impregnada em meu DNA. Minha jornada na presidência conduzirá a empresa cada vez mais para fora do Brasil, levando essa cultura, esse legado que foi iniciado há mais de 60 anos. Passei mais de metade da carreira fora do País. Quando fui para a China os gestores eram trocados a cada ano, não havíamos encontrado um time de confiança. Fiquei dez anos e meio lá e criamos os mesmos programas de valorização do colaborador que temos aqui, criamos Centro de Treinamento, programa de trainee. Hoje temos na China diretores que foram trainees, que tiveram seu primeiro emprego na WEG ou que estão há muitos anos na companhia. Duplicamos o nosso DNA do Brasil na China seguindo os mesmos pilares dos fundadores, como visão de longo prazo, valorização do colaborador e meritocracia. Estamos vendo a mesma situação acontecer na Índia, nos Estados Unidos, no México.
Qual é a estratégia de internacionalização da companhia?
Crescemos muito mais fora do Brasil do que dentro. Em alguns negócios maduros, como motores, mais de 80% da receita já não é no Brasil. De nossas 64 fábricas, 48 são no exterior. Nossa visão é a de sermos referência e uma das líderes mundiais em nosso core business, em produtos como motores de baixa e média tensão, inversores de frequência e redutores. A aquisição da Marathon (feita nos Estados Unidos em 2023) trouxe 10 fábricas, e a da Volt (na Turquia, em 2024) trouxe mais uma. Estamos falando de 3.500 novos colaboradores e 11 fábricas. Isso tudo em mercados maduros, onde a WEG já estava atuando. As aquisições são estratégicas, pois trazem para a WEG mais presença de mercado e portfólio com baixo risco. Também fizemos aquisições menores como a Reivax, de Florianópolis, que trabalha com sistemas de gestão de energia e complementa nossa visão na área de energias renováveis. Vamos vender hardware, a instalação do hardware e o software de gerenciamento de sistema. Já os negócios novos são amadurecidos no Brasil e depois escalados nas estruturas comerciais lá fora. Lançar negócios novos no Brasil primeiro mitiga muito os riscos.
Qual é a importância de Santa Catarina para o crescimento da empresa?
Santa Catarina abriga mais de 70% do time que a gente tem no Brasil – são mais de 22 mil colaboradores no Estado. Temos plantas em Jaraguá do Sul, Itajaí, Guaramirim, Blumenau e Florianópolis. A WEG Motores investiu R$ 660 milhões em três anos em Jaraguá do Sul, em uma modernização completa das operações e em uma fábrica nova de powertrains de caminhões e ônibus. No ano passado abrimos mais de 2 mil vagas de emprego em Jaraguá do Sul. Além disso vamos inaugurar em breve uma fábrica de packs de baterias. E teremos mais investimentos em Itajaí, onde vamos dobrar a fábrica de fios e faremos uma nova serralheria, e em Guaramirim, onde teremos uma nova fundição e uma nova fábrica de tinta líquida. No total, estamos falando de mais de R$ 1,2 bilhão aplicados em fábricas em Santa Catarina.
Como a estratégia de crescimento da WEG se associa às megatendências, como a economia de baixo carbono?
Nossa estratégia é muito pautada pela transição energética. De toda energia gerada no mundo, 53% está sendo consumida por algum tipo de motor. A WEG vem desenvolvendo uma estratégia para ter produtos de altíssima eficiência energética para a indústria. Outro pilar são as energias renováveis. Temos competência para vender um parque eólico completo, por exemplo. O cliente informa o quanto quer gerar e nós desenvolvemos os projetos civil e ambiental, a instalação das máquinas e tudo o mais. A mesma coisa para plantas de energia solar. Em relação à mobilidade elétrica, a WEG é hoje o principal fornecedor de powertrains para caminhões e ônibus no Brasil, e temos também as estações de recarga para automóveis. E criamos uma vertical de eficiência operacional que também tem tudo a ver com transição energética, em que visamos eletrificar e digitalizar plantas industriais.
Qual é a importância disso para a modernização da indústria?
A reclamação do empresário brasileiro é que o imposto é muito alto, mas o problema do Brasil não é só a carga tributária. Existe um déficit muito forte de produtividade na indústria. Para resolver é necessário investir em máquinas mais atuais, em treinamento de equipe e revisão de processos. Quando você tem uma planta totalmente mecânica, não consegue controlar a produção. Então primeiro você eletrifica, aí digitaliza e consegue ter indicadores de processo, passando a ter uma gestão muito melhor sobre a performance da operação. Nós podemos ajudar o cliente nessa jornada. Dou um exemplo da própria WEG, que sempre teve uma fábrica de fios de cobre para os motores. Colocamos sensores e transformamos uma planta totalmente analógica em digital. Verificamos que as máquinas trabalhavam com folga e conseguimos acelerar a trefilação em 20% sem investir nada, só com o uso dos dados. Nós ganhamos milhões em produção e redução de Capex só por ter a planta digitalizada.
Como vê o Brasil hoje no cenário econômico internacional?
Enxergo o Brasil como um país muito preparado para o futuro. Nós temos uma das energias mais baratas e limpas do mundo e recursos naturais para explorar. Nossa mão de obra é jovem, e o custo do colaborador brasileiro já está no mesmo patamar das demais economias emergentes. E mais, o Brasil não terá nenhum problema geopolítico. A gente joga no BRICS com a China, estamos assinando acordo com a União Europeia, temos canal aberto para os Estados Unidos. Então eu gostaria muito que a indústria brasileira começasse a pensar um pouco maior do que olhar só para o mercado interno. Podemos ser uma fonte de manufatura para vários países ao invés de somente exportar commodities. Estamos fazendo uma reforma tributária. O que falta agora, na minha opinião, é investimento em fábrica. O papel da WEG é servir como parceira para que isso aconteça, e precisamos contar muito com organizações como a FIESC para que a gente realmente consiga, ao longo do tempo, reindustrializar o País.