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A indústria sobe a régua

Adoção de sistemas de gerenciamento de riscos operacionais com melhoria contínua preconizada por nova NR 1 torna fábricas mais seguras e também mais eficientes.

Trabalho educativo na C-Pack: contratados fazem curso de SST - Foto: divulgação

Como uma multinacional especializada em soluções de engenharia para o setor de geração de energia elétrica, atendendo clientes na Ásia, África, Europa e Américas, a florianopolitana Reivax Automação & Controle sempre procurou estar alinhada com os mais recentes padrões mundiais de segurança, seja em produtos como em processos de produção. Em 2017, a empresa obteve a certificação ISO 45001, marco mais recente da International Organization for Standardization para normatizar a gestão de saúde e segurança ocupacional. O novo padrão, que chega para substituir em escala mundial a norma OHSAS 18001, trouxe melhorias na segurança ocupacional e um maior controle de riscos para cada uma das atividades desempenhadas pelos 170 funcionários da Reivax – mais da metade deles engenheiros.

De modo semelhante, fazer com que mais empresas e indústrias do Brasil se adaptem a diretrizes de gestão é um dos objetivos da nova Norma Regulamentadora 1, que passa a vigorar a partir de agosto. Lançada inicialmente pelo Governo Federal em 1978 com disposições gerais sobre Segurança e Saúde no Trabalho (SST) e diretrizes para boa parte das 35 normas hoje vigentes, a NR 1 teve poucas alterações ao longo do tempo. A partir dos anos 1990, ela passou a ser coordenada por um comitê tripartite, formado por governo federal, empregadores e trabalhadores. De 2019 para cá, o documento passou por duas revisões.

Na última delas, publicada em março do ano passado, a principal mudança foi a inclusão de requisitos gerais para o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais e a exigência de um Plano de Gerenciamento de Riscos, que pode ser implementado por setor, atividade ou unidade operacional, de acordo com critérios definidos pelas próprias empresas e indústrias. Até então não havia uma norma regulamentadora específica para o assunto. Instruções sobre riscos ocupacionais estavam espalhadas conforme o tema de cada NR.

“Esta última revisão da NR 1 é um processo fundamental, que simplifica o entendimento e concentra em uma única norma a gestão de risco no ambiente de trabalho, mantendo nas demais normas aspectos mais técnicos de cada situação. Vemos um crescimento de importância na agenda de saúde e segurança das nossas indústrias, que vêm cada vez mais implementando as normas e fazendo melhorias. A nova NR 1 deve facilitar ainda mais essa evolução”, analisa a gerente executiva de Saúde e Segurança do SESI e SENAI de Santa Catarina, Sendi Lopes.

Responsabilidade é do empregador

Mas plano de gerenciamento de riscos deve contar com trabalhadores na execução.

  • O PGR, exigido a partir de agosto pela nova NR 1, é em síntese o resultado do processo de avaliação de riscos de forma integrada dentro de uma empresa;
  • O plano deve trazer informações sobre a preservação da saúde e integridade dos trabalhadores no ambiente de trabalho, um inventário de riscos e planos de ações permanentes a serem planejadas e desenvolvidas;
  • A elaboração do PGR é de responsabilidade do empregador, mas conta com a participação ativa dos trabalhadores para ser executado;
  • O PGR não tem uma forma predefinida, e pode ser construído conforme critérios e necessidades da organização. Outros planos de saúde e segurança no trabalho já existentes devem estar vinculados ao plano;
  • Microempreendedores Individuais e microempresas ou empresas de pequeno porte de grau de risco 1 ou 2 que não possuem riscos ambientais não precisam elaborar um PGR.

Tranquilidade | Para a gerente de Processos e Sistemas da Reivax, a engenheira de produção elétrica Patrícia do Val Oliveira Lino, o trabalho recente de certificação pela ISO 45001 deve garantir um trâmite mais tranquilo às regras da nova NR dentro da empresa. “Como já trabalhamos com gestão de riscos e passamos a focar ainda mais nisso a partir da ISO 45001, acredito que será mais uma questão de ajustar e integrar documentos, além de revisar certos tópicos e critérios”, assinala a engenheira.

Dentre as melhorias trazidas pelo novo padrão na Reivax, ela enumera a atualização de EPIs mais seguros e confortáveis, a modificação de equipamentos e no layout dos ambientes de trabalho, além de um investimento em sinalização e comunicação interna. “Hoje temos identificados os riscos de cada processo do ciclo produtivo, para cada atividade, com mais controles e critérios do que tínhamos antes. E é algo que se vai trabalhando todos os dias”, afirma a engenheira.

O feedback positivo dos funcionários e uma atuação proativa na identificação de riscos são provas, para ela, do sucesso na gestão de riscos. “Trabalhamos muito mais com a prevenção do que com acidentes em si. No ano passado tivemos somente um acidente de trabalho”, avalia Patrícia. Em 2019, foram registrados três acidentes na empresa e, em 2021, zero.

Com o estabelecimento obrigatório de um Programa de Gerenciamento de Riscos, a NR 1 visa diminuir ou até mesmo eliminar riscos de acidentes nas empresas e indústrias do País. A integração em um único documento dos riscos químicos, físicos e biológicos, dos perigos de acidentes com máquinas e equipamentos, fatores ergonômicos, entre outros, deve auxiliar na definição de prioridades e no monitoramento e controle de ameaças ao bem-estar dos trabalhadores. Além disso, o documento deve dirimir dúvidas que permeiam o dia a dia de muitos profissionais de saúde e segurança no trabalho, definindo melhor o que é perigo, fator de risco ou risco operacional, algo considerado fundamental para identificar e avaliar problemas de forma correta.

Estratégia | Organizações com mais maturidade na gestão de riscos, como a Reivax, devem de fato passar por mudanças muito simples para se adequar às exigências da nova NR 1. Por outro lado, empresas que ainda precisam melhorar suas práticas de SST devem ter seu caminho facilitado. “A nova norma, diferentemente de situações anteriores, tem por princípio a razoabilidade. Permite avanços graduais, de situações seguras para ainda mais seguras”, afirma Carlos Kurtz, diretor Institucional e Jurídico da FIESC. É o mesmo princípio adotado na revisão de outras normas, como a NR 12, para segurança no trabalho em máquinas e equipamentos, que teve relevante participação da FIESC em sua nova redação.

Espera-se que a nova NR 1 contribua também para a competitividade industrial. Estudos internacionais indicam que cada dólar investido em saúde e prevenção a acidentes de trabalho traz de volta de US$ 3 a US$ 6 para a empresa. Há muitas evidências a favor disso, e muitas outras que demonstram o quanto um acidente custa para a empresa, para o país e, claro, para a família do acidentado. O Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho da Organização Internacional do Trabalho (OIT), por exemplo, aponta que, entre 2012 e o início de junho deste ano, os gastos estimados pelo INSS no País com benefícios para vítimas de acidentes de trabalho chegavam R$ 111,2 bilhões. “Para haver mais competitividade e produtividade é necessário contar com trabalhadores saudáveis e seguros. É importante que isso faça parte da agenda estratégica das empresas. Ao cumprir com essas normas, com excelência, a empresa está fazendo um investimento com retorno garantido”, diz Fabrizio Machado Pereira, diretor de Educação e Tecnologia da FIESC.

A presença no mercado global pode ter sido determinante para que a Reivax buscasse estar sempre alinhada a padrões mundiais de qualidade, segurança e outras boas práticas organizacionais. Mas mesmo com uma carteira de clientes predominantemente nacionais a C-Pack Creative Packaging, de São José, especializada na fabricação de tubos plásticos para envase de produtos, também precisa apresentar um alto padrão de segurança para satisfazer clientes exigentes como O Boticário e Natura. Com 16 anos de experiência na empresa, o coordenador de Saúde e Segurança Felippe Augusto Silva revela que as auditorias de alguns compradores para averiguar as condições de trabalho e qualidade na fábrica já chegaram a durar cinco dias. “Eles não querem que qualquer má prática de fornecedores manche a reputação deles. Somos privilegiados, pois sempre há uma oportunidade de melhoria nessas ocasiões”, avalia.

Metodologia eficiente

A estruturação normativa para o gerenciamento de riscos operacionais segue a abordagem adotada pelo PDCA

  • Plan (Planejar): identificar os perigos e avaliar os riscos ocupacionais; estabelecer os objetivos e as atividades necessárias para assegurar resultados de acordo com a política de SST da organização
  • Do (Fazer): implementar os processos conforme planejado. Isso se refere à implementação das ações definidas no plano de ação do PGR
  • Check (Checar): monitorar se as ações previstas foram realizadas e medir se foram eficazes
  • Act (Agir): adotar medidas para melhorar continuamente o desempenho de SST, ou adequar ações implementadas e que não apresentaram o resultado pretendido

Providências | Um dos pontos cruciais para manter um baixo índice de acidentes em uma fábrica com quase 500 funcionários está no trabalho educativo, que começa no primeiro dia de admissão de novos funcionários. Cada novo contratado passa três dias em integração – com cinco horas de cursos voltados para a SST –, e nos primeiros três meses usa um colete de treinamento para ser facilmente identificado. “Temos um checklist com atividades ligadas a melhorias de equipamentos e processos e medidas educativas. Se percebemos um problema hoje, já reunimos todo mundo para treinamentos e, em casos mais graves, tomamos as providências necessárias”, explica Felippe.

A C-Pack criou um esquema de liderança dentro da fábrica, que foi dividida em células que são avaliadas constantemente. A mudança resultou em uma redução no número de acidentes no ambiente de trabalho para uma média de dois por ano. “Desde que entrei na empresa, em 2005, tivemos apenas seis acidentes graves aqui. A empresa tem uma forte cultura de segurança, as pessoas são prioridade, e a mudança para o esquema de células reforçou ainda mais essa cultura”, diz o executivo. Para ele, as novas regras da NR 1 devem simplificar e facilitar o trabalho de monitoramento dos riscos e perigos dentro da empresa. “Segurança tem de ser pensada como prevenção a acidentes, e este é o objetivo de um Gerenciamento de Riscos Operacionais. Vai ajudar a evitar acidentes graves, a planejar treinamentos e identificar problemas.”

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