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Híbridas ganham terreno

Associando a qualidade das uvas viníferas à resistência das americanas, novas variedades ampliam as possibilidades do setor em Santa Catarina

Foto: Freepik

Uvas da espécie Vitis vinifera são as grandes vedetes do mundo do vinho. Chamadas também de “uvas europeias”, são produzidas exclusivamente para fabricar a bebida, e só assim elas podem, no Brasil, receber a denominação “vinho fino”. Mas grande parte da viticultura trabalha com a espécie Vitis labrusca, cujas variedades são conhecidas como “uvas americanas”. Isabel, Bordô e Niágara Branca são as mais difundidas. Tais frutos servem para o consumo in natura e a produção de sucos e vinhos de mesa, um produto de baixo custo e gosto adocicado que faz sucesso em muitas regiões do Brasil. Há ainda uma terceira linha de videiras, que corresponde a 48% da produção nacional de cachos de uvas: são as variedades híbridas, criadas via melhoramento genético, mesclando castas europeias e americanas para aumentar a resistência a doenças. Em Santa Catarina, duas variedades se destacam por diferentes razões: a Goethe e a Piwi.

Primeiro produto do Estado a receber o selo de Indicação de Procedência do INPI, em 2011, as uvas Goethe existem hoje em um único lugar do mundo: 55 hectares de vinhedos no Sul do Estado, perto de Criciúma. Com 87% de DNA de Vitis vinifera, a Goethe foi plantada na região no final do século 19 e quase foi extinta a partir dos anos 1960. Poucas vinícolas mantiveram a tradição, como a Casa Del Nonno, em Urussanga, que produz boa parte das 128 mil garrafas envasadas anualmente com vinhos da uva na região.

O trabalho de valorização da variedade começou nos anos 2000, culminando com a Indicação de Procedência 11 anos depois. “O vinho Goethe tem tipicidade, versatilidade e é um produto com identidade”, afirma o proprietário da Casa Del Nonno, Renato Damian. Tal raridade ajudou a alavancar o enoturismo na região, e várias vinícolas passam por processos de rebranding e consultorias para apresentar os vinhos de uma forma mais atrativa.

Futuro | Em Rodeio, no Vale do Itajaí, a vinícola San Michele integra um projeto piloto com uvas Piwi (abreviação da palavra alemã “pilzwiderstandsfähigen”, que significa “resistente a doenças fúngicas”). A inovação é resultado de um estudo da Epagri e da UFSC iniciado em 2014 com variedades desenvolvidas na Alemanha. O objetivo foi criar uvas resistentes e produtivas, com menos custos e impacto ambiental, sem perder a capacidade de produzir vinhos de qualidade. Segundo o gerente da Estação Experimental da Epagri em Videira e pesquisador do projeto, André Luiz Kulkamp de Souza, o grande percentual de genoma de origem europeia presente nas uvas Piwi é o diferencial da variedade. “Em todo mundo elas são consideradas Vitis vinifera, ou seja, o vinho produzido é vinho fino”, explica.

“Para nós, este tipo de uva é o futuro da vitivinicultura”, atesta Silnei Alberto Furlani, um dos fundadores da San Michele. A vinícola participou dos estudos da Epagri na Serra Catarinense e em municípios vizinhos, onde há terrenos acima dos 900 metros de altitude. Deixando aos poucos a produção de vinhos de mesa, uma tradição dos imigrantes italianos da região, a San Michele foca cada vez mais na produção de vinhos finos, responsáveis por 70% do faturamento.

O projeto piloto com as uvas Piwi deve ocupar, inicialmente, meio hectare ao lado da vinícola. Com as uvas, Furlani e seu sócio, Marcelo Luiz Sardagna, apostam na produção de uvas brancas para espumantes. “É uma variedade que se adaptou muito bem ao clima daqui, e já degustei vinhos muito bons feitos com elas”, projeta Furlani.

Silnei Furlani, da San Michele: foco em vinhos finos e aposta em uvas híbridas - Foto: Divulgação

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