
Pelo 10º ano consecutivo, os gastos militares mundiais cresceram e atingiram em 2024 a marca histórica de US$ 2,7 trilhões — o maior salto registrado desde o fim da Guerra Fria. Impulsionados por conflitos regionais e tensões geopolíticas, mais de 100 países priorizaram a defesa em seus orçamentos. Em contraste, a América do Sul, incluindo o Brasil, mantém uma participação tímida nesse cenário de rearmamento global. Neste artigo, analisamos os principais movimentos globais e o que isso pode significar para a estratégia brasileira.
Crescimento Global e Destaques
O gasto militar mundial atingiu US$ 2,7 trilhões em 2024, maior salto desde a Guerra Fria, impulsionado por conflitos regionais e pelo aumento da insegurança global. Mais de cem países priorizaram a defesa em seus orçamentos, realocando recursos para fortalecer suas capacidades estratégicas.
A principal região responsável por esse aumento é a Europa, que aumentou seus gastos em 17% em relação a 2023. Destaque para Ucrânia que para enfrentar os ataques russos está alocando 34% do PIB em defesa, todo o arrecadado com impostos no país está sendo direcionado para os gastos militares.
A Alemanha é outro destaque no continente europeu, o país aumentou em 28% seus gastos com defesa, o colocando como o quarto maior investidor no mundo em 2024. Cabe ainda mencionar a Polônia com um aumento expressivo de 31%. Os países que fazem parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estão se preparando para a possibilidade de uma escalada nas ambições russas, pois em caso de vitória com os territórios ucranianos, Putin teria incentivos para continuar seu projeto imperialista de unificação do que já foi o território russo.
O possível afastamento dos Estados Unidos da OTAN pressiona os países europeus a investirem mais em defesa própria, buscando reduzir sua dependência de sistemas avançados importados dos EUA. O fortalecimento da indústria de defesa local tornou-se prioridade.

E o Brasil?
O Brasil manteve trajetória estável, investindo cerca de 0,97% do PIB em defesa, e ocupando a 21ª posição mundial. Entre 2023 e 2024, o Brasil registrou queda de 0,4% nos gastos militares, em meio a contingenciamentos e limitações fiscais.
Enquanto a Europa e a OTAN se preparam para potenciais ameaças, o cenário na América do Sul segue um caminho distinto. A região responde por pequena parcela nos gastos mundiais militares e de 2023 para 2024, os países que aumentaram seus valores foram Guiana (43,9%), devido às ameaças proferidas por Nicolas Maduro sobre a região de Essequibo; Colômbia (12%), por conta de disputas com facções rebeldes; Uruguai (11,9%); Bolívia (6,3%); e Chile (0,9%). O restante teve variação negativa: Peru (-31,8%), Argentina (-24,8%), Equador (-1,6%) e Brasil (-0,4%). Não há informações sobre as exportações da Venezuela em 2024.
As mudanças geopolíticas que acarretaram crescentes tensões parece não ter afetado as estratégias militares dos países sul-americanos, pelo menos não até o momento e em termos fiscais. Apesar dos pleitos das Forças Armadas e do Ministério da Defesa, a situação de contingência e bloqueio orçamentário do país comprometem a execução de investimentos para reequipamento e modernização.
Diante desse cenário de crescente militarização global, como o Brasil deveria estruturar sua defesa para garantir soberania e segurança nos próximos anos?