O Hub de Descarbonização da FIESC tem foco em criar soluções, formar pessoas e alinhar organizações para viabilizar a transição para uma economia mais sustentável, envolvendo os Institutos SENAI de Inovação e Tecnologia. A estratégia de atuação é a criação de programas para a descarbonização de arranjos produtivos, e o primeiro deles é o Biogás SC. A meta é transformar, em um período de 10 anos, 100% dos dejetos suínos gerados nas granjas de produção comercial no Estado em biocombustíveis e energia limpa, envolvendo todos os atores de um setor em que Santa Catarina é líder nacional, com o maior rebanho, maior produção de carne suína e primeiro lugar em exportações.
A quantidade de dejetos produzidos no Estado tem potencial para produzir quase duas vezes mais biometano do que o consumo atual de gás natural em Santa Catarina. O biometano é um dos produtos obtidos a partir do biogás e possui características similares ao gás natural (veja os destaques). O programa busca criar viabilidade técnica e econômica para a atividade, envolvendo desde a instalação de biodigestores em propriedades rurais até a distribuição e o consumo do gás gerado. Há uma enorme quantidade de tarefas a realizar, como a criação de incentivos governamentais, fontes de financiamento, desenvolvimento tecnológico, capacitação profissional e desenvolvimento de projetos adequados à realidade dos produtores, dentre outras necessidades.
A essência do Hub é reunir todos os atores envolvidos com o setor para perseguir objetivos comuns, amarrando as pontas para garantir a viabilidade do programa. Nesse sentido, o Biogás SC envolve parceiros como UFSC, BRDE, Celesc, SCGás, Acate, Governo do Estado, Embrapa Suínos e Aves, ABiogás, CIBiogás, Fapesc e Sindicarne, dentre outros, que se articulam para criar as soluções necessárias.
A instalação de biodigestores para a produção de biogás não é exatamente novidade em Santa Catarina, pois remonta aos anos 1980. Diversos produtores apostaram na atividade, porém nem sempre houve planejamento ou capacitação adequada. “Várias iniciativas da época não deram certo, criando um estigma negativo para a tecnologia”, afirma Charles Leber, especialista do Instituto SENAI de Tecnologia Ambiental.
Para superar essa barreira o programa desenvolve uma Plataforma de Gestão de Dejetos Suínos, que visa mensurar o potencial de negócios, apontar oportunidades de clusterização (agrupamento de pequenos suinocultores próximos capazes de sustentar uma central), desenvolver planos de negócios personalizados, verificar tecnologias disponíveis e facilitar o acesso a financiamento. A plataforma será a essência do programa, com um comitê gestor formado por representantes de agroindústrias, financiadores, governo e entidades de educação.
Atualmente, apenas pouco mais de 1% das propriedades suinocultoras declaram possuir biodigestores (dados entre 2014 e 2020), sistemas capazes de produzir biogás a partir dos dejetos. Despertar o interesse e convencer todos os produtores rurais envolvidos na suinocultura – há cerca de 8 mil produtores integrados à agroindústria – é um dos desafios do programa, e nesse aspecto a indústria tem um papel central.
“Temos todo o interesse em fomentar a descarbonização das propriedades rurais”, afirma José Antonio Ribas Junior, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne). Com atuação global, as agroindústrias estão engajadas na redução de emissões, tanto em suas atividades diretas quanto nas de seus fornecedores – é o caso dos suinocultores.
A MWM, fabricante de motores e geradores de energia que é subsidiária da Tupy, de Joinville, pode se tornar uma das principais fornecedoras de soluções para o programa Biogás SC. Um projeto em andamento no Paraná, em parceria com uma cooperativa agrícola, ilustra o potencial para os produtores de suínos de Santa Catarina.
O projeto envolve a construção de uma usina de biogás na região de Toledo (PR), e inclui a coleta e transporte de dejetos até a central. O biogás produzido será convertido em energia elétrica e biometano, beneficiando os produtores e sendo usado na frota de caminhões da cooperativa – a conversão de motores a diesel para gás também é feita pela MWM. “É um modelo de negócios que tem sustentabilidade financeira tanto para nós, fornecedores, quanto para os produtores”, diz Fábio Luiz Caramori, gerente de Inovação e Desenvolvimento de Negócios da Tupy.
Economia circular
Dejetos suínos, historicamente vistos como um problema ambiental, têm se transformado em fonte de energia renovável.
Em biodigestores os dejetos são submetidos a um processo de fermentação anaeróbia, em que microrganismos decompõem a matéria orgânica, produzindo biogás, composto principalmente por metano e dióxido de carbono. Este gás pode alimentar geradores de eletricidade, produzindo energia para propriedades rurais e comunidades locais, por exemplo.
Para ser utilizado como biocombustível, o biogás passa por um processo de purificação, resultando no biometano, que possui propriedades similares ao gás natural. Pode ser injetado na rede de distribuição de gás natural, ampliando a oferta de energia renovável, e tem aplicação veicular também. Em veículos adaptados, o biometano pode substituir o diesel, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.