
Como o senhor avalia o impacto da FIESC para o desenvolvimento da indústria catarinense?
O impacto não é somente no setor industrial, embora o grande vetor de desenvolvimento do Estado seja a indústria. O primeiro presidente da FIESC, Celso Ramos, que depois foi governador, elaborou aqui na FIESC o plano de metas de Santa Catarina, o Plameg, que ao ser incorporado pelo Governo teve impacto positivo para o desenvolvimento catarinense como um todo, definindo um caminho para a economia de Santa Catarina. Além disso, a FIESC sempre foi gerida por industriais e tem auxiliado muito o desenvolvimento do setor. Basta dizer que mais de 27,5% da produção estadual de riquezas vem da indústria e, o que é mais importante, trata-se de uma indústria de manufatura, que é a mais diversificada do Brasil.
Quais são os papéis exercidos pela FIESC para a obtenção desses resultados?
A FIESC sempre trabalhou para tornar o ambiente de negócios favorável, porque Santa Catarina tem um empresário com espírito empreendedor, voltado para o setor industrial e focado no mercado internacional. Para que o ciclo produtivo seja cumprido, ele precisa de um ambiente favorável. Isso significa ter disponibilidade de energia, infraestrutura de transporte, insumos, legislação favorável, política fiscal adequada, segurança jurídica. A FIESC oferece apoio institucional, com representação dentro dos poderes constituídos, para a construção desse ambiente favorável. Além disso, tem papel central, histórico, na qualificação dos trabalhadores por meio do SENAI, uma entidade que agora é muito forte também em pesquisas para inovação e em metrologia, prestando serviços altamente relevantes para a indústria. O SESI, por seu lado, inicialmente tinha vocação para o lazer, mas hoje está focado na saúde e na qualidade de vida do trabalhador e na formação básica. O IEL promove a conexão da indústria com a tecnologia. Dessa forma a FIESC oferece suporte para sustentar a indústria dinâmica e diversificada que tornou o Estado referência no setor.
Qual é a percepção da indústria sobre a atuação da FIESC?
Uma das diretrizes mais importantes de nossa gestão foi fazer com que o Sistema FIESC fosse percebido pela classe industrial e também pela sociedade em geral como uma entidade importante para Santa Catarina. Nosso trabalho muitas vezes não é notado, como por exemplo quando influenciamos para melhorar uma legislação que causaria fortes impactos negativos sem a nossa interferência. Mas temos sentido que a percepção do industrial tem evoluído de maneira significativa. Outra diretriz desta gestão é a de sermos uma Federação de referência no Brasil, diante de nossas congêneres, e uma série de indicadores da Confederação Nacional da Indústria atesta isso.
O que significa ser uma Federação de referência?
Buscamos sempre fazer mais, melhor e com menos, olhamos muito para custos, e assim nos alinhamos muito com o estilo de gestão do industrial catarinense. Somos muito procurados por outras federações para fazer benchmarking e compartilhar metodologias, pois usamos procedimentos, métricas e indicadores de desempenho para orientar nossas ações e dimensionar os resultados. Somos contratados para melhorar a gestão de outras federações. Somos referência nacional, por exemplo, em lean manufacturing, educação a distância e cultura digital, no desenvolvimento da Indústria 4.0, e compartilhamos conhecimentos e produtos com outras unidades do Sistema. Somente entre 30% e 35% de nossa receita vem da contribuição compulsória, o restante é receita com serviços. Somos muito fortes nisso. Por isso temos um dos maiores orçamentos dentre todas as Federações de Indústrias do País – ficamos atrás somente da FIESP. O SENAI/SC acaba de ser escolhido o melhor do País, e a Escola SESI/SC teve a mais alta nota entre todos os departamentos regionais.
A FIESC realiza um ciclo de investimentos que é o maior de sua história. Quais as características e os objetivos dessas aplicações?
Somente no ano passado os investimentos somaram mais de R$ 400 milhões. Em nossa gestão, em sete anos, terão sido investidos cerca de R$ 1,4 bilhão. Aplicamos bastante em educação, na adequação de nossas unidades, tanto do SESI quanto do SENAI, e também na preparação e na remuneração dos docentes. Visitamos todas as instalações, todas as unidades no Estado, que não são poucas, e adotamos critérios técnicos para definir os investimentos, como a matriz GUT, que considera gravidade, urgência e tendência. Focamos na melhoria dos ambientes e aumentamos a oferta de serviços. Hoje temos mais de 25 mil computadores, 4 mil aparelhos de ar-condicionado e 500 veículos para a realização dos serviços. O Sistema FIESC conta com mais de 10 mil colaboradores, e o faturamento por trabalhador tem crescido continuamente.

Quais são os principais desafios da qualificação profissional para a indústria?
A indústria é um ambiente cada vez mais tecnológico, que precisa de pessoas cada vez mais capacitadas. De acordo com levantamento da CNI, precisamos qualificar e requalificar em torno de 950 mil trabalhadores em Santa Catarina até 2027. Hoje não existe mais o trabalhador que aprendeu a exercer uma função e não precisa mais se qualificar. Por isso investimos tanto em educação. Somos a maior rede privada de educação do Estado e trabalhamos para sermos também a melhor unidade de ensino de Santa Catarina, com escolas de referência e metodologias inovadoras. Entendemos que um estado que tem o seu capital humano desenvolvido tem o seu desenvolvimento assegurado. Por isso também defendo que o Estado deve fazer uma campanha para atrair pessoas qualificadas, levando em conta nossa potencialidade econômica.
Com relação ao ambiente de negócios para a indústria, qual é a maior preocupação da FIESC?
Trabalhamos muito a questão da infraestrutura. A energia sempre foi um assunto muito importante para a FIESC, a implantação do gás natural no Estado teve a nossa participação, mas recentemente temos focado na melhoria da infraestrutura de transportes, que é precária em Santa Catarina. Há uma restrição fiscal muito forte, tanto na economia estadual quanto na nacional, e acho que Santa Catarina errou ao restringir a participação privada para resolver esses problemas. A implantação do pedágio sempre foi muito combatida no Estado, mas acho que essa mentalidade mudou, felizmente, e hoje já se admite que a participação privada é o meio para encontrar soluções. É verdade que o Estado produz muito, manda muitos recursos para Brasília e recebe muito pouco de volta, mas não podemos ficar de braços cruzados. Mesmo que essa situação melhore, nunca será no nível que merecemos e necessitamos. Por isso a participação privada é fundamental.
Como vê o futuro da indústria no Estado?
A indústria catarinense é uma das mais avançadas do Brasil e tem um futuro promissor. Porém, para que ela cresça, tem que haver um ambiente favorável. Eu diria que o crescimento forte da indústria catarinense depende diretamente da infraestrutura de transportes. A questão é que, com a reforma tributária implantada, o fator logístico será fundamental. Santa Catarina não poderá oferecer benefícios fiscais diferenciados, como faz hoje. Nós temos portos, temos cultura industrial e vocação para a internacionalização, mas se não tivermos uma boa infraestrutura de transportes, perderemos competitividade.