A próxima fronteira para a geração de energia renovável no Brasil é o mar. O País ainda não conta com parques eólicos offshore, mas a Petrobras projeta vários deles ao longo da costa brasileira nos próximos anos. Para a definição dos melhores locais para a instalação dos parques, a companhia conta com um equipamento feito pela primeira vez com tecnologia nacional, a Bravo (Boia Remota de Avaliação de Ventos Offshore). Trata-se de um projeto desenvolvido pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Cenpes) da Petrobras, em parceria com os Institutos SENAI de Inovação em Energias Renováveis, do Rio Grande do Norte, e em Sistemas Embarcados, de Santa Catarina.
A Bravo é um modelo flutuante de Lidar (Light Detection and Ranging), que consiste de um sensor óptico capaz de medir a velocidade e direção do vento utilizando feixes de laser. O equipamento também obtém variáveis meteorológicas e oceanográficas, gerando dados compatíveis com o ambiente de operação das turbinas eólicas, que podem chegar a 200 metros de altura. Este tipo de medição já é realizado em plataformas fixas, mas com a Bravo as medições podem ser feitas de forma remota, aumentando consideravelmente a área de prospecção.
Um dos principais desafios do projeto é utilizar sensores ópticos a laser em uma plataforma instável, em constante movimento. A versão 2.0 da Bravo, que começou a ser testada em 2023, passou a incorporar um algoritmo que corrige as informações coletadas em função das variações de posição provocadas pelas ondulações do mar e correntes marinhas. Além disso, conta com dois sensores Lidar, o que permite uma coleta de dados ainda mais abrangente. Os dados são captados de forma automatizada e transmitidos para um servidor em nuvem, por meio de comunicação satelital.
A falta de disponibilidade de equipamentos como este no Brasil é um dos entraves para o maior desenvolvimento do setor, pois a tomada de decisão de investimentos depende de dados confiáveis obtidos em medições reais, e não em simulações. De acordo com a Petrobras, a boia poderá representar uma redução de custos de 40% em relação à contratação do serviço similar no exterior. “Quando estiver em estágio comercial, a Bravo contribuirá para o aumento da oferta dos serviços e a redução do custo de implantação dos projetos de eólica offshore no País. Por ser flutuante, o equipamento é de fácil transporte e instalação ao longo da costa brasileira”, afirma Maurício Tolmasquim, diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras.
O projeto Bravo é desenvolvido desde 2021 com recursos do programa de P&D do setor de energia elétrica da Aneel, com investimentos que somam R$ 11,3 milhões. Na sequência, um novo projeto de P&D poderá ser desenvolvido para a instalação de diversas Bravos em pontos estratégicos da costa brasileira, com o objetivo de alcançar maior volume de dados e obter levantamentos de potencial eólico mais confiáveis.
O projeto está inserido na estratégia da Petrobras de liderar a transição energética do País e se transformar, no futuro, em uma empresa de energia, em lugar de uma petrolífera. O SENAI, por seu lado, se posiciona como um importante fornecedor de soluções para o setor de energia eólica por meio do projeto. “Ao desenvolver um equipamento validado com critérios de aceitação internacional, o SENAI se qualificará para a prestação de serviços de medição de recursos eólicos offshore”, diz Renato Simão, coordenador de Inovação do ISI em Sistemas Embarcados.
Case no detalhe
Indústria parceira | Petrobras, ISI em Sistemas Embarcados (SC) e ISI em Energias Renováveis (RN).
Aplicações | Análise e monitoramento de áreas offshore para geração de energia eólica.
Investimento | R$ 11,3 milhões.