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Onde nascem as usinas

Em Xanxerê desenvolveu-se um polo de empresas especializadas em projetar, fabricar todos os itens necessários e construir centrais hidrelétricas de pequeno porte - Por Mauro Geres.
PCH construída pela Hacker - Foto: Divulgação

Tradicionalmente conhecido como “capital estadual do milho”, o município de Xanxerê, de 51 mil habitantes, vem experimentando forte desenvolvimento industrial nos últimos anos. O setor que mais se destaca é o de empresas voltadas à produção de todos os itens necessários à geração de energia pela força da água. De acordo com a Associação Empresarial de Xanxerê (ACIX), mais de 50 empresas atuam no setor de energia no município. Juntas, elas geram mais de 2 mil empregos diretos. “Temos desde MEIs até empresas de grande porte. Xanxerê tem o ciclo completo dos negócios, desde o início do levantamento do rio onde poderá ser feito um empreendimento até a entrega completa de uma usina hidrelétrica”, afirma Vilson Piccoli, diretor da ACIX.

Uma das pioneiras no setor é a Hacker Industrial. Fundada em 1978, ela surgiu a partir de outra empresa chamada Mecânica Preferível, que desde 1951 desenvolvia projetos “chave na mão” de conjuntos completos de madeireiras e moinhos de grãos. Como as redes de energia elétrica eram escassas na época, tanto madeireiras quanto moinhos precisavam de uma fonte de energia mecânica, no caso a força da água. Assim, estas instalações sempre eram construídas às margens de algum rio para obter energia através de rodas d’água ou turbinas hidráulicas.

Equipamentos instalados: pioneirismo no setor de hidrelétricas - Foto: Divulgação

“A Mecânica Preferível fabricava tanto as serras, moinhos, transmissões e galpões quanto as próprias rodas d’água ou turbinas para potencializar esses projetos”, conta Alcemir Hacker, proprietário da empresa com seu sobrenome. Posteriormente, com a estrutura de distribuição cada vez mais ampliada e o acesso às redes elétricas facilitado, boa parte das madeireiras e moinhos foi modernizada, e a força hidráulica perdeu espaço. “A Mecânica Preferível encerrou as atividades e a Hacker Industrial continuou com o legado das máquinas hidráulicas, fornecendo, a partir de então, para o mercado dos produtores de energia elétrica”, explica o empresário.

Com clientes espalhados pelo Brasil e no exterior, a Hacker é reconhecida como uma das principais fabricantes de turbinas hidráulicas do País, entre elas as do modelo Kaplan, que são aplicadas em quedas (desníveis) abaixo de 30 metros, as mais utilizadas atualmente em novos projetos. A empresa executa também as obras civis da usina por meio de outra integrante do grupo, a Hacker Construtora.

Atuando em todas as frentes necessárias para colocar uma usina hidrelétrica em operação, a Hacker ostenta números expressivos. Entre eles a fabricação de 2.200 turbinas, 350 geradores e a participação em pelo menos 1.800 obras diferentes. O crescimento ganhou impulso a partir do ano 2000, quando passou de 2 mil metros quadrados de área construída para 20 mil metros quadrados em 2024. No mesmo período, o total de funcionários diretos subiu de 40 para 320 e a Hacker conquistou clientes por todo o Brasil, Europa, Ásia e Estados Unidos.

Hacker: participação em 1.800 obras e 2.200 turbinas fabricadas - Foto: Divulgação

Na esteira da Hacker outras empresas foram surgindo e um cluster especializado na produção dos mais variados equipamentos para a geração de energia acabou se formando. Entre os principais itens fabricados figuram as turbinas hidráulicas, geradores elétricos, equipamentos hidromecânicos como comportas, grades, unidades hidráulicas, limpadores de grades, pontes rolantes, pórticos rolantes, além de serviços de renovação e repotenciação de usinas existentes, entre outros itens.

A especialização regional é em usinas de menor porte, as Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH) e as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), que têm no máximo 30 MW de potência. Nas últimas décadas houve forte crescimento no licenciamento e construção dessas centrais, impulsionado por políticas públicas que incentivam a geração distribuída e a utilização de fontes renováveis. Existem 1.198 dessas usinas em operação atualmente no Brasil, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Outras 2.362 estão em construção ou já estão autorizadas, porém com a construção ainda não iniciada.

Além de serem relevantes para a matriz energética nacional, responsáveis por 3% do total da geração, as hidrelétricas de pequeno porte também possuem apelo ambiental. “As PCHs e CGHs passam por um sistema rigoroso de controle ambiental e, na grande maioria dos casos, acabam melhorando todo o ecossistema no entorno do empreendimento, pois preservam as matas ciliares, cuidam da fauna e da flora locais e despoluem o curso d’água através do recolhimento de lixo que chega até as grades da usina”, explica Cláudio Piva, diretor financeiro da Icom Hidromecânica.

Fundada em 2007, na cidade de Catanduvas, a Icom atuava na fabricação e reforma de equipamentos para indústrias madeireiras. Mas, em meados de 2009, veio a mudança de segmento, com a abertura de uma filial em Xanxerê para atuar com pequenas manutenções de usinas hidrelétricas, aproveitando a mão de obra especializada existente no município. Em 2010, visualizando as oportunidades do setor de geração, a empresa mudou a matriz para Xanxerê. “De cliente em cliente, com preços mais competitivos, fomos conquistando espaço. Inicialmente em Santa Catarina, logo em seguida no Rio Grande do Sul com cooperativas de geração de energia, e, posteriormente, Paraná, Mato Grosso e assim seguindo para outros estados brasileiros”, afirma Piva.

Cláudio Piva, diretor financeiro da Icom Hidromecânica - Foto: Divulgação

A Icom contava, no final de 2024, com um histórico de 126 obras entregues e outras 32 em andamento. Para dar conta da demanda, o parque fabril está instalado em um espaço de 15 mil metros quadrados. “Geramos mais de 80 empregos de forma direta e indireta, com equipe de engenharia experiente no setor e flexibilidade para encarar novos desafios”, detalha Piva. O portfólio de produtos compreende condutos forçados, pontes rolantes, grades, comportas de aço de diversos modelos (vagão, ensecadeira, basculante e de segmento), limpa grades (inovação patenteada), válvulas dispersoras, log boom, pórticos fixos e rolantes, juntas de dilatação e miscelâneas para casas de força.

Parque fabril da Icom: matriz foi deslocada para Xanxerê - Foto: Divulgação

Adaptação | Criada como empresa de prestação de serviços de engenharia em 2007, a CBHidro acabou se consolidando, tempos depois, no setor de usinas hidrelétricas. Em 2024 a empresa concluiu a ampliação do parque fabril, que chegou a 10 mil metros quadrados de área construída, e investiu na aquisição de máquinas e equipamentos mais modernos. “O mercado está muito bom, mas a questão é você se adaptar ao que ele exige. Como nos posicionamos bem no mercado e atendemos com elevado padrão, nossos clientes estão sempre investindo e estamos sempre fabricando algum item para eles”, informa Volmir Morgenstern, diretor comercial da CBHidro.

Com 20 projetos em andamento, a CBHidro já tem trabalho para até o final de 2026 e novos produtos estão em desenvolvimento. A empresa segue ampliando o parque fabril e contratando mais profissionais. Entre as prioridades também está o investimento, nos próximos dois anos, na robotização e automatização dos processos. Com 95% dos 150 colaboradores oriundos da região, Edenir Fernandes, diretor técnico da empresa, diz que a CBHidro oferece uma série de benefícios para o aprimoramento dos funcionários.

Instalações da CBHidro - Foto: Divulgação

“Temos parcerias com os institutos federais e o SENAI, por exemplo. Internamente damos muita oportunidade de crescimento, vale-alimentação, plano de saúde, incentivamos a qualificação do colaborador com cursos técnicos até pós-graduação”, enumera Edenir. Para ele, este é o melhor caminho para manter o profissional focado nos objetivos da empresa. “É preciso buscar sempre fazer diferente do que os outros estão fazendo. Digo aos nossos colaboradores para serem profissionais diferentes. Assim, amanhã eles poderão ter o negócio deles, como eu e Edenir fizemos”, afirma Morgenstern.

É uma boa forma de ampliar o número de fornecedores e adensar ainda mais o arranjo produtivo da região. Vilson Piccoli, diretor da ACIX e afiliado à Associação dos Produtores de Energia de Santa Catarina (Apesc), também ressalta os esforços da prefeitura e da Associação Comercial, somados ao apoio de instituições de ensino e formação profissional, como SENAI e Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), para a obtenção dos resultados. Ele próprio é sócio de duas PCHs – uma em Crissiumal (RS) e outra em Serra Alta (SC), esta em fase de conclusão. As duas usinas foram construídas por empresas do cluster de Xanxerê. “As empresas do setor vêm crescendo entre 15% e 20% ao ano, com fôlego para manter o mesmo ritmo nos próximos três, quatro anos”, projeta Piccoli.

Instalações da CBHidro: incentivo para funcionários empreenderem - Foto: Divulgação

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