Com ferramentas 4.0, empresa quer criar ambientes mais flexíveis para robôs - Foto: Divulgação
Em maio de 2023, uma turma de 45 funcionários da Tupy, multinacional brasileira sediada em Joinville, concluirá um curso de pós-graduação de dois anos em que pôde mergulhar nas mudanças tecnológicas que devem moldar o futuro da empresa. A classe, composta por colaboradores com diferentes perfis e experiências – há alunos das áreas operacional, administrativa, comercial, de finanças e de tecnologia –, é a primeira a fazer o MBI (Masters in Business Innovation) em Fundição 4.0, com disciplinas sobre automação e digitalização industrial aplicadas ao segmento da fundição. O conteúdo foi talhado para as necessidades da empresa com unidades no Brasil, México e Portugal.
O MBI foi construído conjuntamente pela Tupy e pelo SENAI de Santa Catarina. Tem duração prevista de 360 horas e já envolveu 16 professores, entre docentes da Faculdade SENAI Joinville, pesquisadores dos Institutos SENAI de Inovação de Joinville e Florianópolis, especialistas da Tupy e consultores em áreas específicas. A primeira parte, com 242 horas, está em andamento e foi dividida em módulos de estratégia de planejamento e liderança para Indústria 4.0, fábricas inteligentes e modelos de negócios em produtos inteligentes.
“O objetivo é capacitar os colaboradores, mostrando quais são os pilares da Indústria 4.0 e as novas competências requeridas, além de trazer soluções e aplicações relacionadas a vários tipos de tecnologia”, explica Thais Ballmann, docente e pesquisadora da Faculdade SENAI Joinville, coordenadora do MBI.
A segunda parte do curso, que ainda está sendo aperfeiçoada, deverá ter 118 horas e será desenvolvida no chão de fábrica – os projetos de conclusão de curso dos alunos estarão integrados com problemas concretos que eles enfrentam. “Existem várias tecnologias habilitadoras da Indústria 4.0 e o nosso maior desafio está em fazer com que as pessoas compreendam e adotem essas soluções. Se os colaboradores não aderirem, vou investir dinheiro sem obter benefício”, afirma Daniel Moraes, gerente executivo de Inovação e Transformação Digital da Tupy.
Moraes: "A Tupy inteira precisa ser digital, por isso houve o cuidado de reunir um grupo diverso, o que criou um desafio extra para o SENAI" - Foto: Divulgação
A aposta na formação de colaboradores não é novidade na Tupy: em 1959, o então presidente da empresa, Hans Dieter Schmidt, criou a Escola Técnica Tupy, para preparar mão de obra para a indústria. Nesta área a empresa tem forte relacionamento com o SENAI, que oferece formação profissional nas áreas de metalurgia e usinagem, dentre outras, o que pavimentou a criação conjunta do MBI. “Não é um curso de prateleira, mas algo com tópicos avançados, construído para as necessidades de uma empresa que é líder em um setor importante para Santa Catarina e o Brasil”, diz Mauricio Cappra Pauletti, gerente executivo de Inovação e Tecnologia do SENAI/SC.
Automação | O MBI é voltado para profissionais em cargos de coordenação e gerência, que na estrutura da Tupy é o público mais envolvido com projetos digitais ou que vai começar a usar as tecnologias. A intenção é que eles atuem como multiplicadores entre os subordinados e por toda a companhia. Não foi ocasional os alunos serem recrutados em todas as áreas da empresa. “A Tupy inteira precisa ser digital, por isso houve o cuidado de reunir um grupo bem diverso, o que criou um desafio extra para o SENAI”, esclarece Daniel Moraes.
Foi mais fácil vencer esse desafio do que esperava o engenheiro Walter Kapp, pesquisador sênior do Instituto SENAI de Inovação em Sistemas de Manufatura, encarregado de uma disciplina sobre robótica. Na primeira parte de seu módulo, ministrado em um sábado com duração de oito horas, Kapp preparou um conteúdo teórico com conceitos avançados em robótica aplicáveis a uma fundição, imaginando que a turma não teria extensa familiaridade com o assunto.
“Fiquei surpreso com o perfil dos alunos e com o nível de automação da Tupy. Como a fundição é uma atividade muito tradicional na indústria metalmecânica, imaginava uma fábrica ‘raiz’, e descobri que estava enganado”, conta o pesquisador, que encontrou profissionais que haviam participado dos primeiros esforços de robotização em empresas como Scania e Volkswagen. A parte seguinte da disciplina discutiu problemas práticos e avaliou propostas dos alunos para aplicações.
As condições de uma fundição costumam ser hostis para o trabalho de robôs e um dos desafios da empresa, de acordo com Kapp, é criar um ambiente mais flexível, no qual robôs possam se adaptar a diferentes configurações do processo de produção. “Às vezes, um forno está em manutenção e o produto fundido tem que ser levado de um galpão para outro. Ainda há muitas empilhadeiras operadas manualmente transportando moldes, semiacabados e fundidos. Esses processos podem ser automatizados”, conta o pesquisador.
Outro desafio da empresa abordado no MBI está no campo da análise de dados. “Há tecnologias que permitem coletar uma quantidade enorme de dados e analisar informações em tempo real sobre o processo produtivo. A empresa precisará de softwares e soluções digitais mais adequadas do que as disponíveis atualmente para lidar com eles”, afirma Thais Ballmann.
Profissionais terão capacidade para tomar decisões de um jeito diferente com digitalização - Foto: Divulgação
Sensores | Com as ferramentas digitais é possível extrair informações para melhorar a tomada de decisões. Em etapas da produção como a moldagem e a macharia, que é o processo que dá formato às cavidades internas da peça fundida, a planta da Tupy pode coletar por meio de sensores centenas de milhares de informações por segundo. Antes, o volume de dados monitorados era muito pequeno e o gestor acompanhava em um relatório no final do dia. Com a massificação da coleta de dados, ele pode fazer o acompanhamento em tempo real.
“Por isso precisamos de profissionais muito preparados para o ambiente digital, com capacidade para tomar decisões de um modo diferente. Eles vão confiar na tecnologia e entender como aquilo é feito”, diz Daniel Moraes, que já vê os benefícios da iniciativa. “As pessoas estão se interessando e entendendo melhor os desafios da transformação digital.”
Com o MBI, a Tupy não investe apenas em gerar conhecimento sobre novas tecnologias de fundição, mas também aposta na formação de novos líderes em inovação, o que torna a iniciativa ainda mais importante para fortalecer o ecossistema de Santa Catarina, ressalta Mauricio Pauletti, do SENAI. Em outra iniciativa, a empresa criou uma aceleradora de startups, a ShiftT, a primeira de Joinville, que em sua primeira chamada selecionou empresas com projetos de interesse da Tupy, por exemplo, no desenvolvimento de sensores para manutenção preditiva e em ganhos ergonômicos para operadores.
- Sede: Joinville
- Fábricas: Joinville, Mauá (SP), Betim (MG), Saltillo e Ramos Arizpe (México) e Aveiro (Portugal)
- Colaboradores: 19 mil
- Produtos: Componentes estruturais de alta complexidade em ferro fundido
- Produção: 538 mil toneladas (2021)
- Receita Líquida: R$ 7,08 bilhões (2021)