US$ 89,6 bilhões/ano: Prejuízo potencial global resultante de eventos extremos até 2050 - Foto: Shutterstock
O deslizamento de um enorme trecho da BR-470 em Rio do Sul, que foi parar dentro do Rio Itajaí do Oeste, interrompeu dramaticamente o fluxo de veículos no local e travou uma das principais rotas por onde circula o PIB catarinense. O desastre ocorreu a poucos quilômetros de uma das maiores plantas industriais de produção de alimentos do Estado, mas prejudicou todo o setor, que depende da estrada para o escoamento de produtos da região Oeste que são exportados pelo complexo portuário do Rio Itajaí-Açu. Normalmente passam pelo trecho 7 mil caminhões pesados por dia. Após a abertura da cratera na rodovia os caminhões tiveram que utilizar a BR-282, o que representa um acréscimo de 130 quilômetros e três horas a mais para o transporte das mercadorias até os portos. Até o fechamento desta edição o trecho ainda não havia sido reconstruído.
Poucos dias após o desastre, a Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística no Estado de Santa Catarina (Fetrancesc) classificou os prejuízos como “incalculáveis”. Porém, eles serão um dia contabilizados e engordarão uma estatística preocupante: Santa Catarina é o estado brasileiro em que a indústria mais sofre prejuízos decorrentes de desastres naturais. De acordo com o Atlas Digital de Desastres do Brasil, o setor amargou prejuízos de quase R$ 100 milhões por ano, em média, entre 1991 e 2022 no Estado. Portanto, a indústria catarinense deve estar especialmente atenta ao problema que deverá se agravar devido às mudanças climáticas. “É preciso incorporar o gerenciamento de risco climático no planejamento estratégico das empresas”, afirma Egídio Martorano, gerente executivo para Assuntos de Transporte, Logística, Meio Ambiente e Sustentabilidade da FIESC.
Para auxiliar as empresas na elaboração de seus planos, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a FIESC desenvolveram um guia chamado Indústria Resiliente (acesse o guia clicando aqui), que adapta à realidade nacional a metodologia utilizada pela Universidade de Oxford, da Inglaterra, em seu programa de mitigação de impactos climáticos. A principal característica do guia é a incorporação de novos conceitos de riscos climáticos nas ferramentas de gestão de qualidade e risco já utilizadas pelas empresas, como normas ISO, em um fluxo de processos PDCA (Planejar, Executar, Verificar, Atuar, na sigla em inglês).
Os objetivos do plano são reduzir perdas econômicas potenciais e aumentar a resiliência climática, além de introduzir ou aprimorar a gestão de riscos e também de oportunidades. Conforme o estudo “Resiliência climática nas cadeias de valor da América Latina”, que avaliou 755 empresas da região, 64% das empresas brasileiras possuem baixa maturidade de gerenciamento climático. “Cada empresa deve desenvolver suas próprias estratégias a partir do conhecimento dos riscos e oportunidades que as mudanças do clima significam para os seus negócios”, diz Martorano.
O prejuízo global decorrente dos impactos pode chegar perto de US$ 90 bilhões por ano até 2050, de acordo com relatório do Banco Mundial. Em linhas gerais, os maiores problemas causados para a indústria são interrupções no suprimento de energia, o desabastecimento de água e danos aos ativos de empresas e à infraestrutura, além do encarecimento de apólices de seguros e impactos na disponibilidade de trabalhadores, que também são afetados pelas mudanças climáticas. Os setores mais sensíveis aos riscos são aqueles intensivos no uso de água e energia, os dependentes de infraestruturas que são de responsabilidade de terceiros e os localizados em regiões mais expostas.
Cratera na BR-470, em Rio do Sul: pela rodovia passam 7 mil caminhões pesados por dia - Foto: Bombeiro militar
Atrasos | “Infelizmente Santa Catarina está na rota de eventos extremos, e a indústria vem sofrendo com enchentes, vendavais e secas”, diz José Lourival Magri, presidente da Câmara de Meio Ambiente e Sustentabilidade da FIESC. Secas ocorrem principalmente no Oeste do Estado e põem em risco cadeias produtivas importantes como a agroindústria e o setor de base florestal. O excesso de chuvas expõe ativos a risco e prejudica toda a logística do Estado, que já é insuficiente mesmo em condições normais. Além de interromper estradas, como no caso da BR-470, as cheias causam prejuízos para o setor portuário e de navegação, que por consequência geram atrasos e perdas econômicas para as indústrias. Outro risco a ser considerado em Santa Catarina, que tem cerca de 500 quilômetros de costa, é a elevação do nível do mar.
De acordo com o guia, após a elaboração de um diagnóstico da situação da empresa e dos riscos e oportunidades climáticas a que ela está exposta, passa-se à elaboração do plano de adaptação, que pode incluir medidas físicas, como obras de engenharia, e medidas gerenciais, de informação e de mudanças de cultura organizacional. Também pode ser necessário firmar acordos e parcerias externas. Outra preocupação deve ser a constante adaptação do plano, considerando a velocidade das mudanças climáticas e as incertezas decorrentes, ao mesmo tempo que também avança o aprendizado global sobre o tema. “O plano deve ser disseminado dentro da empresa, desde o chão de fábrica até o presidente, e cada um tem que saber o que fazer para diminuir os impactos”, afirma Magri.