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Investimentos no setor de autopeças

Setor de autopeças no estado começa a investir para aproveitar a recuperação do mercado interno e conquistar novas posições no exterior

O crescimento das exportações e a retomada gradual do mercado interno estimulam novos investimentos na indústria automotiva. A Fremax, de Joinville, líder na produção e comercialização de discos e tambores de freios na América Latina, já trabalha com 100% da capacidade produtiva – que é de 4,5 milhões de peças/ano. Adquirida no fim do ano passado pela Fras-le, empresa do grupo gaúcho Randon, a Fremax terá ampliada sua área construída e receberá novos equipamentos para fundição, usinagem e expedição. “Vamos elevar a produção em cerca de 50% até 2020, chegando à capacidade de 6,5 milhões de peças por ano”, projeta Júlio César da Silva, diretor de operações. O número de funcionários, que atualmente é de 600, subirá para 850.

A empresa não sofreu tanto os efeitos da crise por direcionar a maior parte da produção ao mercado de reposição. Fundada em 1986, a Fremax tem um mix de 60 mil aplicações distintas, destinadas a carros de passeio, utilitários e picapes médias. “Hoje, no mercado de reposição, temos peças do Fusca ao Porsche”, afirma Silva. A reposição representa metade das vendas, enquanto as exportações para mais de 60 países respondem por 40% e as montadoras por 10%. Com a retomada do mercado interno, a meta é direcionar 30% da produção diretamente às montadoras até 2021.

::: Confira também: "É tempo de retomada", sobre o setor automotivo de Santa Catarina. 
 
Operações em Santa Catarina têm se mostrado estratégicas para grandes fabricantes. Em janeiro a multinacional americana Cooper Standard America do Sul iniciou atividades em São Bento do Sul, onde investe R$ 15 milhões. A empresa é uma das principais fabricantes do mundo de mangueiras flexíveis de freios e tubos para conexões de turbo para motores de automóveis. “A escolha de São Bento  foi estratégica pela proximidade com os principais clientes da Região Sul do País, entre eles montadoras como GM, Volkswagen e Renault, e sistemistas como a Yapp”, diz Jürgen Kneissler, diretor-geral da Cooper Standard para a América do Sul. A empresa conta com fábricas nas cidades de Atibaia (SP), Varginha (MG) e Camaçari (BA), onde opera dentro da unidade da Ford. A operação catarinense começou gerando 150 empregos, entre diretos e indiretos. “A previsão é de que nos próximos três anos o número de funcionários pule para 300”, informa Kneissler.

A abertura de vagas de trabalho é outro efeito visível do novo fôlego do setor automotivo. Ela é observada nos segmentos de produtos de metal, metalurgia e máquinas e equipamentos, que em Santa Catarina estão diretamente correlacionadas ao setor de automóveis, para quem fornecem parte da produção. Considerando-se todos esses segmentos, o saldo de empregos foi positivo em 5,1 mil vagas no ano passado. “Nas fundições, o nível de emprego deve subir 5% este ano”, projeta Rangel Carlos Eisenhut, gerente da regional Sul da Associação Brasileira de Fundição. Trata-se de uma continuidade do crescimento que ganhou força no ano passado, quando o emprego no setor teve alta de 5,6% no Brasil, enquanto na Região Sul o índice subiu 11,6%, somando mais de 21 mil postos diretos de trabalho, sendo que 75% deste total está concentrado em Santa Catarina. 

Ferramentas

Terêncio Knabben Oenning, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico de Joinville e diretor de manufatura da Granaço, afirma que de um ano para cá o setor retomou as contratações para aumentar a produção e atender principalmente às demandas externas. “As empresas estão focando na agregação de valor de seus produtos para ganhar mercado”, diz. Tal exigência também força a abertura de postos de trabalho para profissionais mais qualificados e com salários mais elevados. Na própria Granaço houve a contratação de 30 pessoas no ano passado, chegando a um total de 130. “Estamos ocupando espaço de concorrentes de fora do Estado que fecharam as portas”, detalha Oenning, completando que a companhia investe entre 30% e 40% do lucro em novos equipamentos e tecnologias, treinamento e melhorias do ambiente fabril. A empresa pretende aumentar de 10% para 15% a participação da linha automotiva no faturamento este ano.

As ferramentarias, indústrias que produzem moldes para peças de outras indústrias, também são beneficiadas pela retomada do setor automotivo. É um segmento importante para Santa Catarina, pois Joinville é o maior polo brasileiro, com 400 empresas. As ferramentarias faturaram 7% a mais em 2018, em relação ao ano anterior, em função das encomendas de montadoras e sistemistas, que representaram 57% da carteira total de pedidos. Com a aprovação do Programa Rota 2020, que incentiva o setor automotivo, e um programa do governo paulista para incentivar ferramentarias, a expectativa é que os pedidos cresçam 25% este ano e mais 30% no ano que vem. “Boa parte dessas encomendas deverá ser direcionada às ferramentarias instaladas em Joinville e região, que podem elevar os empregos diretos dos atuais 3 mil para 4 mil”, projeta Christian Dihlman, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Ferramentais (Abinfer).

Mas, para alcançar este desempenho, alerta o dirigente, será necessário um maciço investimento em renovação do parque fabril, capacitação técnica profissional e inovação tecnológica. Esta corrida não se limita a esse pequeno elo da imensa cadeia produtiva que envolve a produção de veículos. O setor está à beira de mudanças disruptivas que envolvem veículos autônomos, carros elétricos, mobilidade compartilhada e conectividade, dentre outras tendências que podem transformar profundamente a indústria. “A solução estrutural é pesquisa, desenvolvimento e inovação. Precisamos acelerar o ciclo de entrada de autopeças produzidas no Brasil em um novo veículo ou produto. Precisamos ser mais competitivos e com viés forte em inovação”, diz Dan Ioschpe, presidente do Sindipeças.

Por Mauro Geres
 

Indústria News

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