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Hubs de soluções para a indústria

Coordenando projetos em rede com universidades, centros de pesquisas e startups, Institutos SENAI de Inovação e de Tecnologia de Santa Catarina resolvem problemas reais e geram nota fiscal para os clientes.

Instituto da Indústria em Florianópolis: espaço de convergência para a inovação aberta - Foto: Arquivo FIESC

Transformar conhecimento científico em algo palpável para a sociedade é um desafio histórico no Brasil. Dito de outra forma, a colaboração entre a academia, que faz pesquisa básica, e a indústria, que pode aplicar esse conhecimento para gerar inovações, não é tão estreita por aqui como é em países desenvolvidos. Foi para preencher essa lacuna que o Sistema Indústria, liderado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), criou, a partir de 2013, a rede de Institutos SENAI de Inovação (ISI) voltados à pesquisa aplicada com o objetivo de elevar a competitividade industrial.

Desde então a rede de 26 unidades movimentou e modificou o cenário da inovação no País. Mais de 1.300 novos projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) foram concluídos ou estão em curso, resultando em produtos e processos customizados para as empresas clientes, relacionados a áreas como a transformação digital, a criação de robôs que realizam trabalhos perigosos para os humanos ou o desenvolvimento de tecnologias para a indústria aeroespacial, dentre outros. Nesse contexto destacam-se os Institutos de Santa Catarina. “Eles estão entre os que apresentam os melhores resultados, levando-se em conta a quantidade e a complexidade dos projetos, além dos valores investidos e a qualidade das entregas”, afirma Fabrizio Machado Pereira, diretor regional do SENAI/SC e diretor de Educação e Tecnologia da FIESC.

Instituto da Indústria em Joinville - Foto: André Kopsch

O Estado conta com os Institutos SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados, em Florianópolis, e em Sistemas de Manufatura e Processamento a Laser, que compartilham o mesmo prédio em Joinville. Eles são também denominados Institutos da Indústria. Já a rede de Institutos SENAI de Tecnologia (IST) realiza pesquisa aplicada e a prestação de serviços de metrologia e consultorias, como é o caso do IST em Mobilidade Elétrica e Energias Renováveis de Jaraguá do Sul. Desde o início das atividades as unidades catarinenses somam 221 projetos concluídos ou em andamento, atendendo 154 empresas. Os cases relatados nesta edição são uma amostra desse trabalho.

  • 221Projetos de PD&I dos ISI e IST de SC

  • 154Empresas atendidas

  • R$ 305 milhõesValor dos projetos

Obs.: Dados acumulados; projetos concluídos e em andamento.

“As soluções desenvolvidas têm o objetivo de gerar nota fiscal para os clientes”, informa José Eduardo Fiates, diretor de Inovação e Competitividade da FIESC. Isso quer dizer que os projetos almejam atingir, em tempo relativamente curto, níveis altos de maturidade tecnológica, situação em que já passaram pelas fases de prototipagem e testes e estão prontos para ganhar o mercado e gerar faturamento para as indústrias. Um exemplo é o robô snake criado para a General Motors (GM). Desenvolvido desde a etapa zero e já testado em ambiente fabril, ele está apto a ser produzido em escala por uma empresa licenciada. Vai equipar todas as unidades industriais da montadora de veículos no mundo e também será comercializado pela companhia.

A maneira como os ISI foram concebidos e modelados ajuda a explicar os resultados. As inspirações foram os Institutos Fraunhofer, da Alemanha, e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), dos Estados Unidos, ambos parceiros no desenvolvimento da rede brasileira. O primeiro contribuiu com sua capacidade de se relacionar com as universidades e utilizar conhecimento científico em pesquisa aplicada. Já o MIT inspirou o modelo de inovação aberta, em que diversos atores com especialidades complementares necessárias a cada projeto unem forças para que os resultados sejam alcançados mais rapidamente.

A partir desses conceitos os ISI foram erguidos sobre três pilares estratégicos: capital estrutural, capital intelectual e capital relacional. O primeiro refere-se aos equipamentos e instalações pertencentes aos Institutos, dentre eles, por exemplo, a segunda maior máquina do mundo em deposição de metais a laser e o laboratório de caracterização de materiais, em Joinville. Já o supercomputador instalado em Florianópolis é capaz de processar 5 quatrilhões de cálculos por segundo e auxilia no desenvolvimento de soluções que também utilizam a Inteligência Artificial.

Laboratório de caracterização de materiais atende Institutos de Processamento a Laser e Sistemas de Manufatura - Foto: André Kopsch

O capital intelectual se expressa pelo corpo técnico gabaritado. Os ISI catarinenses contam com mais de 100 pesquisadores, sendo que quase metade deles possui mestrado ou doutorado. Nos IST atuam cerca de 350 técnicos especialistas.

Em adição a todas essas estruturas e competências, o chamado capital relacional se destaca como a grande força geradora e aceleradora de inovações. Graças à flexibilidade dos Institutos para trabalhar em rede, é nas parcerias, interações e cocriações com a indústria que todo o seu potencial é realizado.

Habitats | Os projetos conduzidos pelos Institutos contam com a participação de universidades e centros de ensino tecnológico, centros de pesquisas como o Instituto de Pesquisas Tecnológicas, de São Paulo, ou a catarinense Fundação Certi, além de um amplo universo de startups, incubadoras e aceleradoras que passaram a “habitar” os mesmos espaços físicos dos Institutos – que são chamados de hubs de inovação ou de Habitats SENAI de Inovação.

O espaço é compartilhado pelas empresas proponentes dos projetos de pesquisa, como GM, Tupy, Bunge e outras companhias que ao mesmo tempo são clientes e parceiras de desenvolvimento. Elas acessam recursos de fontes de fomento como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Os ISI catarinenses são credenciados como unidades da Embrapii, o que significa que as indústrias podem negociar e contratar projetos diretamente com os Institutos, sem necessidade de edital e com recursos disponíveis de imediato.

Fontes de fomento

  • ANEEL - Agência Nacional de Energia
  • ANP - Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
  • BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
  • Embrapii - Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial
  • FAPESC - Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina
  • FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
  • FUNDEP - Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa
  • Lei de Informática, Lei do Bem - Incentivos fiscais
  • Plataforma de Inovação SENAI

“Temos projetos em que o custo estrutural é muito alto e nem sempre temos laboratórios para fazer os testes necessários”, afirma Carlos Sakuramoto, gerente de Inovação da GM América do Sul, primeira empresa a habitar o hub de manufatura avançada criado em Joinville e que utiliza recursos da Embrapii em um projeto chamado Ferramentaria 4.0. “No Instituto há pesquisadores alinhados com as necessidades da empresa e existe uma arquitetura montada para atender a demanda de pesquisa aplicada”, atesta o executivo.

Não é algo trivial para grandes empresas, tradicionalmente mais fechadas, investirem em projetos de inovação aberta, em que o que vale não é manter os segredos guardados a sete chaves, mas “abrir o jogo” e compartilhar desafios que podem ser resolvidos pela complementaridade de competências. O desenvolvimento de sistemas essenciais à navegação e operação, considerados o “cérebro” de satélites, por exemplo, possivelmente não teria o mesmo nível de êxito sem a prática da inovação aberta.

“Foi-se o tempo que empresas de tecnologia de ponta eram capazes de se fechar em si mesmas para o desenvolvimento de seus produtos”, diz João Paulo Campos, presidente da Visiona Tecnologia Espacial, responsável pelo primeiro satélite desenvolvido pelo setor privado no Brasil, em parceria com o ISI em Sistemas Embarcados. “A velocidade e a complexidade da evolução tecnológica exigem que a empresa se abra e vá buscar o que houver de mais inovador, onde quer que a inovação esteja.”

Microusinagem permite a confecção de moldes de peças minúsculas, que substituem componentes importados - Foto: André Kopsch

Hardware | Para garantir a geração da nota fiscal, os Institutos vão além das atividades de PD&I e procuram conectar os clientes, que são os donos das soluções, a empresas com capacidade para escalar as inovações, tornando-as produtos comerciais – o chamado rollout no jargão da inovação. Para isso o hub de Florianópolis conta com o LabFaber, da Fundação Certi, laboratório que é referência no desenvolvimento e difusão de tecnologias de manufatura avançada, e a Produza, empresa de montagem de placas e produtos eletrônicos. Para a mesma finalidade, além de abrigar diversas startups maduras, tanto Joinville quanto Florianópolis têm em seus habitats aceleradoras de startups especializadas na produção de hardware, que exigem maior investimento que as de software e são essenciais para escalonar as inovações.

O adensamento e a qualificação dos hubs de inovação avançam ao mesmo tempo que os Institutos se consolidam por meio de uma série de diferenciais. Um deles é a capacidade de gestão profissional de projetos de pesquisa aplicada, uma função essencial exercida por meio de uma estrutura criada especificamente para isso, o escritório de gestão de projetos. A coordenação eficaz gera resultados – entregas melhores, custos menores e prazos cumpridos – que muitas vezes não são obtidos por universidades, que possuem conhecimento mas são pouco eficazes em fazer a transferência.

Outro diferencial é que os Institutos abrem mão dos royalties que serão obtidos por meio das inovações, deixando os direitos de propriedade intelectual integralmente nas mãos dos clientes. “Acontece dessa forma porque nós somos da indústria e vemos a indústria como acionista”, afirma Maurício Cappra Pauletti, gerente executivo de Inovação e Tecnologia do SENAI/SC, destacando que os ISI somente não abrem mão de direitos autorais, com o objetivo único de contabilizar patentes.

Já tendo alcançado a sustentabilidade – todos os custos cobertos pelas receitas – em 2021, da mesma forma que já obtêm altos índices de satisfação dos clientes (95%), os Institutos catarinenses se voltam para diversificar ainda mais a carteira de clientes e de fontes de financiamento, além de ampliar o leque de parcerias. O objetivo para os próximos anos é conquistar a reputação de principal referência nacional nas tecnologias nas quais são especializados e também se firmarem como referências internacionais, por meio do desenvolvimento de projetos e a formação de redes envolvendo empresas e entidades de todo o mundo.

Mapa de Santa Catarina com a localização dos Institutos SENAI de Inovação e Instituto SENAI de Tecnologia
Institutos SENAI de Inovação
+ de 100 pesquisadores (46% possuem mestrado ou doutorado)
1 - Instituto SENAI de Inovação em Sistemas de Manufatura e Processamento a Laser (Joinville)
Desenvolve máquinas automáticas, sistemas mecatrônicos, robôs customizados e processos de manufatura. Linhas de pesquisa em manufatura aditiva metálica a laser, deposição metálica a laser, modificação de superfícies, tratamento térmico localizado e soldagem a laser.
2 - Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados (Florianópolis)
Produtos que englobam Transformação Digital, IoT, Indústria 4.0 e máquinas e equipamentos inteligentes por meio de desenvolvimento de software, hardware e ciência de dados.
Institutos SENAI de Tecnologia
+ de 350 técnicos especialistas
Prestam serviços técnicos especializados de metrologia e consultoria e desenvolvem soluções com base nas tecnologias existentes para criar novos processos e produtos, além de realizarem pesquisa aplicada.

Áreas de atuação

  • Alimentos e Bebidas (Chapecó)
  • Ambiental (Blumenau)
  • Cerâmica (Criciúma)
  • Logística de Produção (Itajaí)
  • Madeira e Mobiliário (São Bento do Sul)
  • Mobilidade Elétrica e Energias Renováveis (Jaraguá do Sul)
  • Têxtil, Vestuário e Design (Blumenau)

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