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Florianópolis, 20.10.2016 – Dormir bem e desenvolver habilidades que aumentem a concentração dos estudantes são alguns dos recursos capazes de influenciar o rendimento escolar. Isso é o que mostram estudos na área de neurociência apresentados nesta quinta-feira (20) no IV Seminário Internacional de Educação, realizado em Florianópolis. O evento, promovido pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) por meio do Movimento Santa Catarina pela Educação, reuniu pesquisadores do Brasil, Estados Unidos, Chile e Colômbia para abordar neurociência e iniciativas da América Latina para elevar a qualidade dos sistemas educacionais.
“A educação brasileira pode se beneficiar dos estudos da neurociência para promover avanços no processo de aprendizagem. Naturalmente, ainda há um longo caminho a ser percorrido para fazer com que esses conhecimentos cheguem à escola, mas podemos encurtar trazendo esse assunto à tona para discussão no nosso cotidiano”, salientou o presidente da FIESC, Glauco José Côrte.
Fernando Louzada, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), defendeu em sua abordagem a importância do sono para a aprendizagem. “O cérebro não desliga durante a noite. Está ativo e essa atividade está a serviço de consolidar aquilo que aprendemos. Então é importante dormirmos antes de aprender para estar atento e poder aprender mais. As escolas têm que se preocupar como o aluno está dormindo e com os horários impostos. Começar as aulas às 7 horas da manhã para alguns alunos significa privação do sono e isso compromete o desempenho escolar”, explica. Ele afirma que no Brasil há uma resistência enorme em flexibilizar o horário escolar, mas outros países estão à frente em relação a isso, entre eles os Estados Unidos, que orientam as escolas a começar as aulas depois das 8h30 da manhã. “No Brasil, há resistência porque, obviamente, isso não é simples. Tem repercussão na vida dos pais, professores, de toda a comunidade escolar, mas temos que discutir e pensar nas mudanças possíveis”, sugere Louzada.
Para o pesquisador Roberto Lent, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é necessário fazer uso de recursos que estimulem o foco de aprendizagem como, por exemplo, a associação do ensino da matemática com o ensino da música. “A aula de um instrumento que precede uma aula de matemática faz com que a criança tenha um desempenho melhor na matemática em relação às demais crianças. É como se o cérebro aprendesse a focar a atenção usando a música e, depois, aplicasse essa atenção na matemática”, afirma o especialista. Ele destacou estudos que mostram que a adoção de hábitos saudáveis como a prática regular de exercícios físicos, é um facilitador da aprendizagem, pois contribui para a saúde corporal e ajuda a consolidar a memória.
A pesquisadora Soo-Siang Lim, da Science Foundation (EUA), também relatou estudos do Centro de Ciência da Aprendizagem sobre a influência da música no desenvolvimento cognitivo do ser humano. Levantamento realizado com crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade mostrou que elas têm dificuldade em sincronizar os instrumentos utilizados na experiência. Soo-Siang explica que o treinamento musical muda o processamento de sons no cérebro. Músicos, por exemplo, detectam melhor a voz em meio ao ruído, mas essa capacidade diminui com a idade e no caso dos idosos pode levar ao isolamento e depressão. “Idosos que são músicos têm vantagem, pois o treinamento musical oferece proteção contra a surdez no envelhecimento”, acrescenta. A pesquisadora lembrou ainda que a saúde física, a prática de exercício e o sono regular também afetam a capacidade cognitiva. Os investimentos em pesquisa no Centro de Ciência para a Aprendizagem da Science Foundation giram em torno de U$S 5 milhões por ano.
O secretário de Estado da Educação e presidente do Conselho Nacional de Educação, Eduardo Deschamps, abriu as discussões sobre ciência afirmando que discutir o tema é lutar contra o senso comum. Ele citou o trabalho do médico sueco Hans Hosling que difunde dados estatísticos para combater ideias pré-concebidas e de senso comum. “Isso é uma quebra de paradigmas e o mundo tem evoluído por causa da ciência. O que há em comum nos melhores sistemas educacionais do mundo é o rigor, é olhar evidências. Preparar o nosso aluno para a ciência é evitar o mundo de crenças pessoais e de radicalismos, pois o fanatismo surge onde não há evidência e comprovação”, ressalta.
Em debate mediado pelo consultor do Movimento SC pela Educação e diretor de inovação e articulação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Ramos, os pesquisadores responderam sobre os desafios de se aplicar ciência na escola, como a ciência tem se aproximado da educação nos Estados Unidos, a influência da neurociência nas políticas públicas brasileiras, e outros aspectos relacionados ao tema.
América Latina - Movimentos voltados à educação na América Latina nortearam as discussões do seminário na parte da tarde que contou com relatos de Chile, Colômbia e Brasil. Carolina Meza, da Fundación Empresarios por la Educación falou sobre a iniciativa de empresários colombianos, semelhante ao Movimento catarinense, que iniciou com a sensibilização da indústria para o tema. São 355 membros entre líderes empresariais, representantes do Estado, da comunidade e instituições de ensino. “Começamos a ação em 2002, por meio de um grupo de empresários. Hoje, trabalhamos com muitas universidades na Colômbia, fazendo investigações em educação, tratando de entender o que são essas práticas e como elas podem transformar-se em políticas públicas”, afirma Carolina. Ela falou ainda sobre o SIIPE, um sistema de informações que reúne dados sobre iniciativas na área educacional, servindo como uma espécie de banco de dados. As ações são classificadas em até 31 tipos de intervenção que vão desde a alfabetização até gestão executiva.
Nadiezhda Galia Yanez Oyarzun, diretora do Centro de Liderança Educacional da Educación 2020 - Chile Foundation, detalhou as ações da fundação que teve origem em um movimento que busca a qualidade e a equidade na educação. No Chile, quatro em cada dez jovens que concluem a graduação vêm de formação técnica. A decisão de optar por ensino técnico não ocorre no ensino médio, mas sim aos 13 anos de idade. “Estamos trabalhando uma aliança no ensino técnico com o mundo privado para gerar práticas e fortalecer o desenvolvimento de habilidades sociais e laborais dos estudantes em conjunto com as empresas, com o Estado e com a escola”, revela Nadiezhda.
Priscila Cruz, presidente-executiva do movimento Todos Pela Educação, falou sobre o desafio de assegurar a qualidade da educação oferecida no Brasil. “Mais do que universalizar as matrículas, precisamos universalizar a aprendizagem e garantir que todas as crianças aprendam. Nesse sentido, ainda temos muito a fazer. O que faz a diferença num País é a população cobrar, participar e a educação ser um valor da sociedade, que tem que valorizar o conhecimento, o professor, a escola e o aprender para o resto da vida”, afirma Priscila. Os debates sobre a América Latina foram alinhavados pelo presidente da FIESC que falou ainda sobre o Movimento SC pela Educação.
Guia Educa RH – A FIESC lançou durante o evento a publicação Guia EducaRH, que reúne ideias produzidas por 595 profissionais de recursos humanos. Ao longo de 2015, eles participaram dos encontros EducaRH, promovidos pela entidade em parceria com a Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH/SC). O objetivo do guia é orientar a estruturação de planos de desenvolvimento de pessoas mais assertivos em relação à qualificação dos trabalhadores.
Prêmio Santa Catarina pela Educação – Ainda no seminário, a Federação realizou a entrega do Prêmio Santa Catarina pela Educação. Ao todo, 15 empresas e sindicatos foram reconhecidos por suas boas práticas voltadas à qualificação do trabalhador. Saiba mais sobre o prêmio clicando aqui.
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